A profundidade da dor e a superficialidade da exposição
31/03/2024 - 18:01Espalhar fotos e vídeos de vítimas fatais de acidentes constitui um ato criminoso.
Até parece que dona Aldenora aguardou, o quanto pôde, a neta Laís contrair matrimônio com seu noivo Rodolfo, para fazer a viagem derradeira. Como diria o poeta Gonzaguinha, tão festejado nos últimos dias por conta do centenário do Gonzagão, seu pai, "...é a vida, é a vida, é a vida”, logo ele que a perdeu muito moço. Não quis ela que sua partida para o outro lado do grande mistério, de que fala o poeta Bandeira, tirasse a alegria e o brilho das bodas tão ansiadas pelos genitores, parentes e inúmeros amigos.
A lembrança mais antiga que guardo dela é ministrando o catequismo na capela de Bom Jesus para meninos do meu tope, como Guaranazinho, Beto e Paulo de dr. Tarso, Pedro Edmilson (de Clarisse), Pedro Cláudio (de seu Hipólito) e outros Pedros, aí incluindo-me, todos comportados e atentos, sentados no estrado do altar ouvindo os ensinamentos cristãos, isso num tempo em que se aprendia a "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”.
Mais tarde, ainda muito moça, desposou o caro Ditinho (Benedito), um dos craques da família Macedo Reis (os outros eram Alberto, Miguel, Amadeuzinho e Ângelo). Torcedor "doente" do Cruzeiro, time formado, em sua maioria, por jovens do antigo Largo da Matriz, depois Praça das Vitórias, nunca esqueço de ter, num domingo de mil novecentas e tantas lembranças, como diria o poeta Gerson Campos, irmão da pranteada da crônica, antes de partida com o único rival oeirense, o Mafrense, ter posado a seu lado, ele mostrando com os dedos como seria o resultado do jogo. Melhor é que acertou! Depois vieram os filhos do casal-amigo, pela ordem, Paulo Jorge, João Henrique, Carlos Rubem, Amada de Cássia e Conceição de Maria.
Vale a pena ressaltar, no entanto, que a sólida amizade vem dos tempos da casa da rua da Feira, geminada à que sediava o Oeiras Clube, de que tio Joel foi presidente e, mesmo extremamente animado e dançador contumaz, impunha muito respeito. Era lá, com a aquiescência da dona Maria de Jesus, a sempre lembrada dona Bembém, que a mestra Nadir Tapety ensaiava o coral do glorioso Ginásio Municipal Oeirense, no canto da grande sala central, junto à porta que dava para o saguão que antecedia o quintal. Naquela casa de muito entra-e-sai de pessoas era praxe vários “boas-bocas” pegarem a bóia. Aliás, não sei de outra que desse o "de comer", como se dizia, a tanta gente.
Pois bem. Tudo isso aqui dito neste escrito de boas lembranças e amizades imorredouras poderia se resumir no meu abraço de profundo pesar a todos da família de dona Aldenora Nogueira Campos e Reis: filhos, netos, bisnetos, os irmãos Antônio e meu compadre Joelim e as irmãs, as queridinhas dona Amália, Mirora, Mirista, Alice e a estimadíssima Ritinha, Que Bom Jesus dos Passos, a Virgem da Conceição e o Divino Espírito Santo a tenham!
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras