Cirurgião-dentista piauiense de 34 anos morre após passar mal e sofrer convulsões
20/11/2023 - 01:12Tássio residia em Vila Nova do Piauí e foi encaminhado para uma unidade de saúde de Araripina (PE)
Por João Moura
Dona Rosário – linda, de corpo esbelto, rosto perfeito... tudo para dar certo... Porém, havia seu maior empecilho: o amor! Aos treze anos se apaixonou por um moreno, olhos esbugalhados, franzino e com aparência de psicopata; ainda mais não se dispunha tomar banho. Mas seu maior não foi citado: era extremamente pobre.
Em andamento o namoro, Rosário pressionava o namorado a tomar decisões precipitadas como casar e ter muitos filhos; parecia que o sentimento a cegava, e, por vezes era preciso levar surras constantes do pai, o qual não aceitava tal relacionamento da mesma. Certa noite ela fugiu na garupa dum jumento, levando somente a roupa em que se vestia e a vontade enorme de amar.
Dias depois conseguiu seu grande sonho: – casar-se... Festa para todos, e logo estava ela pedindo para os convidados regressarem.
Depois de alguns meses engravidou, para maior desespero, uma vez que já sentia o racionamento de comida, eram gêmeos! E assim foram sucessivos anos de paridura e sofrimento.
Aonde ia, levava aquela carrada de crianças grudadas e famintas em jacás de couro sobre alguns animais. Começou o que já era de se imaginar: sem conforto, nem o mínimo de higiene, começam aparecer os primeiros sintomas de doenças seguidos de mortes.
Rosário nem parecia mais a mesma de anos atrás! Agora estava num desprezo inconcebível, toda fedida, cabelos cheios de teia- de- aranha, roupas remendadas e morando numa tapera a conviver com todo tipo de inseto.
Quase não tinha mais dentes, pois seu esposo os havia decepado na pancada, quando ela o incomodava pedindo alguma coisa para comer com seus filhos. Como se não bastasse, ele ainda exigia que Rosário comprasse cachaça e fumo na venda mais perto de casa, aquela em que seu crédito há tempo se extirpara. Aí começava as gracinhas do bodegueiro: “Você só quer que eu lhe dê, mas não pensa em me dá...” E ela não poderia nem pensar em certo despropósito, pois seu coração era todo do seu moreno, mesmo com tanto sofrimento...
Teria que apanhar se chegasse sem as encomendas, mas tinha a consciência tranquila de não ter cometido nenhum pecado de adultério.
Dezessete crianças... Sendo oito mortas. Era a ninhada em poucos anos de luta. Os maiores já conseguiam buscar frutos de cactos para a alimentação dos pequenos e outros mais debilitados.
D. Rosário nem sonhava com as políticas assistencialistas, a lei Maria da Penha, o celular... e demais artifícios da vida moderna. Comia apenas o que era produzido na sua terra – feijão, farinha, milho e abóbora.
Anos difíceis... Não contava mais com o poder do sexo, tinha comprometimentos no assoalho pélvico, tonturas intermitentes, diabete gravíssima, pressão de dezoito por quatorze e princípio de cegueira, o que dificultava mais ainda para correr e se safar da ira do seu cônjuge. A tortura era sem limites, cada vez mais se agravava a forma de fazer doer aquele resto de gente, corpo que dava sinal de cova; como se fosse pouco as limitações ainda existia um novo modelo de obrigá-la às tarefas mais árduas: era uma forquilha de madeira para forçar o pescoço da vítima contra a parede de taipa – cheia de saliências como pontas de pau e pedras irregulares que juntando à asfixia quase levava a óbito D. Rosário.
Quando questionada pelas poucas amigas – que talvez por dó – ainda lhe tinham atenção, era falava baixinho: “Ou muié! Mas ele é tão bonito! Gostoso só tem até ali...!” Claro que isso causava indignação a todos, mas o que se é de fazer?
O amor tem pouca ou nenhuma razão no que redige.