A profundidade da dor e a superficialidade da exposição
31/03/2024 - 18:01Espalhar fotos e vídeos de vítimas fatais de acidentes constitui um ato criminoso.
* Por Rogério Newton
Por um capricho do destino, deixei de comparecer ao ato de abertura da exposição Anjos Poetas, na Galeria do Divino, no último sábado. Três dias antes, havia me encontrado com Olavo Nunes Filho, idealizador daquele espaço, justamente no momento em que ele estacionava o carro com os painéis poéticos e já os carregava para dentro da galeria, a fim de serem instalados e expostos à visitação pública. Dava gosto ver o entusiasmo de Olavinho. Parecia um menino, de contentamento, porque estava realizando anobre intenção de dar à cidade um presente delicado, à altura de seus valores poéticos e culturais.
Enquanto existirem pessoas como Olavinho, que, de forma desinteressada e às próprias custas, investem e apostam no que Oeiras tem de mais duradouro, podemos alimentar a convicção de que as produções do espírito sempre terão vez e voz. Sua atitude não significa apenas só mais uma realização interessante, mas ato e símbolo de uma resistência cultural, tão necessáriacomo o ar que se respira, impregnado do aroma dos alecrins que vem dos morros que circundam a cidade.
Naquele momento em que nos regozijávamos, ele subitamente lembrou que era o dia do seu aniversário, o que trouxe mais alegria, principalmente a ele, que, ao invés de receber, dáum presente vindo do fundo da alma. Sua única recompensa é a satisfação de oferecer, com as mãos limpas e o coração puro.
No calor do entusiasmo, ele mencionou o movimento que começa a ganhar corpo em Oeiras, em favorda conservação das áreas verdes e das belezas naturais que a cidade ainda possui, da recuperação das áreas degradadas e da arborização de ruas e praças. Ofereceu sua energia e as amizades que tem em Teresina, para conseguir as mudas de árvores necessárias para o reflorestamento do Morro da Cruz. Disse a ele: __ Vamos com calma. Mas foi inútil. Se depender dele, não se espera um minuto sequer para fazer o que é necessário e possível, e, depois, sem notar, o impossível.
Olavinho é um cidadão oeirense, não só porque nasceu aqui mas principalmente porquededica seus melhores pensamentos para a cidade e a vê não como um ajuntamento de pessoas e edificações, mas como uma “polis” dotada de alma. Ele a quer com a aura cada vez mais brilhante, na forma de realizações factíveis, além das aparências e dos epítetos, pois sabe que uma fé sem obras é uma fé fraca.
Quando nos despedimos, brincou, chamando-me quixote; respondi que era ele. Fui ao Rosário e, na volta, vi-o meditativo, coçando o bigode. Devia estar pensando nos obstáculos que tem de vencer para realizar seus ideais. Ou na forma mais perfeita de reverenciar os anjos poetas e a cidade que tanto adora.