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REPRESENTATIVIDADE: Dona Balbina: A Baronesa do Rosário - uma jornada de sabedoria e amor
Mulher, mãe, avó, bisavó, tia, madrinha, amiga e conselheira, Dona Balbina desempenhou múltiplos papéis com uma maestria.
Por: Da Redação em 12/11/2023 - 18:18
Em um cantinho abençoado de Oeiras, entre as ruas do tradicional bairro do Rosário, viveu uma mulher extraordinária que se tornou a personificação do amor, da liderança silenciosa e da sabedoria que transcende as barreiras do tempo. Seu nome: Balbina Apolinário dos Santos Rufino, a eterna Baronesa do Rosário.
Mulher, mãe, avó, bisavó, tia, madrinha, amiga e conselheira, Dona Balbina desempenhou múltiplos papéis com uma maestria que talvez ela mesma não soubesse que possuía. Nascida em uma família humilde e numerosa, ela desafiou as limitações impostas pela vida e trilhou caminhos que revelaram a força de sua fé, serenidade, firmeza, perseverança e, acima de tudo, o inesgotável amor ao próximo, marcando sua trajetória como um exemplo a ser seguido.
Em sua juventude, deixou o seio familiar para viver entre as famílias mais abastadas da cidade. Recordando tempos que pareciam saídos de uma época colonial, ela descrevia uma Oeiras onde a simplicidade coexistia com uma camaradagem que se perdeu no curso do progresso. A vida era difícil, mas ela a considerava uma dádiva.
Mãe de sete filhos, sua generosidade era ilimitada. Liderou mutirões para construir lares para os necessitados do bairro Rosário, dedicando seu tempo à caridade, mesmo com as responsabilidades familiares. Dona Balbina, mesmo com pouco estudo formal, era uma sábia local, uma fonte inesgotável de sabedoria que embasava trabalhos científicos e cotidianos.
Seu olhar, expressão facial e timbre de voz peculiar guardavam uma narrativa rica em experiências vividas ao longo de seus 83 anos, testemunhando momentos cruciais da história do Piauí, do Brasil e, sobretudo de Oeiras. Uma conversa com ela era uma viagem pelo tempo, uma aula de vida que deixava interlocutores maravilhados, a menos que ousassem pedir por uma foto, algo a que ela era avessa, pois sua modéstia a tornava única entre registros fotográficos.
A religiosidade pulsava no coração de Dona Balbina, uma figura devota de Nossa Senhora e do Bom Jesus do Passos. Ela guardava as chaves da igreja de Nossa Senhora do Rosário e participava ativamente de grupos religiosos. Sua devoção era tangível, uma presença reconhecida na missa dominical das dezessete horas.
Negra, orgulhosa de suas origens, ela se tornou uma referência na comunidade de maioria negra do Rosário. Embora não tenha participado ativamente do movimento negro organizado, seu nome era evocado sempre que o assunto era afrodescendência. O Grupo Congos de Oeiras reconheceu sua luta e a homenageou com a Insígnia Esperança Garcia, honraria concedida a negros que deixaram legados importantes na sociedade local.
Seu jeito arrojado de ser lhe rendeu o título carinhoso de "Baronesa do Rosário". Sua liderança firme que conduzia não apenas a numerosa família, mas toda a comunidade. Sua casa era um refúgio, sempre cheia de filhos, netos, bisnetos, irmãos, sobrinhos e amigos, testemunhando o quanto era estimada.
Em sua despedida na igreja de Nossa Senhora do Rosário, algo inédito aconteceu: o choro copioso de dois padres que celebravam sua missa de corpo presente. Com sua partida, muitos se tornaram órfãos, consolando-se na certeza de que ela cumpriu sua missão e agora repousa em um bom lugar ao lado do Pai Maior, Jesus Cristo.
Com a partida de Dona Balbina, há 14 anos, Oeiras perdeu mais do que uma moradora ilustre; perdeu uma página importante de sua gloriosa história. Dona Balbina, a Baronesa do Rosário, deixou um legado de amor, sabedoria e inspiração, ecoando em cada canto de sua amada cidade, de seu querido bairro e, acima de tudo, em cada coração que teve a honra de conhecê-la.
Texto original: Emanuel Vital de Sousa (Sobrinho de Dona Balbina)