
Anuário aponta aumento de 30% em acidentes com motoristas sem CNH com 73 mortes no PiauÃ
08/02/2025 - 09:20O levantamento também mostra que 433 pessoas sofreram algum tipo de lesão, representando um aumento de 43,85% referente ao ano anterior.
Da Redação Mural da Vila
Em levantamento realizado pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), o Piauí apresenta uma média de 10 mortes por suicídio a cada grupo de 100 mil habitantes, nesse sentindo cresce cada vez mais a necessidade de aprofundamento acerca da temática do suicídio.
O primeiro passo é conscientizar as pessoas que o fenômeno se trata de um caso multifatorial, multideterminado e de saúde pública, por isso os trabalhos das entidades que prestam o serviço de prevenção e tratamento de pessoas que passam por algum transtorno psíquico e tenham ideação suicida devem ser fortalecido e o poder público precisa se fazer mais presente nas ações preventivas, de conscientização e desmistificação dos tabus em torno deste fenômeno.
De acordo com Evanilde Borges coordenadora do Núcleo de Prevenção ao Suicídio e Promoção da Saúde em Oeiras, o suicídio é compreendido como um fenômeno complexo e multifatorial, que resulta da interação de fatores biológicos, genéticos, psicólogicos, ambientais, sociais e culturais. Considerado como um grave problema de saúde pública em todo os países do mundo(OMS).
As causas do suicídio são diversas, podendo envolver fatores genéticos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais, dentre outros. No entanto, antes que o indivíduo venha a cometer o suicídio, há uma série de pensamentos que ele experimenta. Logo, esses pensamentos envolvem os desejos de morte e ideias de como o este poderia dar fim a própria vida. Em outras palavras, esses pensamentos são chamados de ideação suicida por psiquiatras e psicólogos.
“O suicídio não é único fator, não existe uma única causa, ele é multidimensional, ou seja, ele é influenciado por vários aspectos, vários fatores. São eles psicológicos, culturais, físicos, sociais econômicos, situacionais, porque depende da situação que aquela pessoa está vivendo e biológico, em que a pessoa acredita que a única solução para aquele problema é o suicídio, ele não está relacionado a coragem, mas sim, há um sofrimento”, declarou a psicóloga clínica Renata Bandeira.
É importante observar que o comportamento suicida é mais comum do que se imagina em qualquer pessoa e em qualquer momento na vida. Os sinais nem sempre são visíveis, muitas vezes são silenciosos, mas há alguns para os quais é possível ficar em alerta.
“Existem algumas características que podemos dividir em modificáveis e não modificáveis. Essa separação acontece porque, a partir do momento que entendemos que existem fatores como histórico familiar e a presença dos transtornos mentais, jovens entre 15 e 30 anos, idosos e questão de gênero, porque os homens se suicidam três vezes mais do que as mulheres, mas nós mulheres temos três vezes mais tentativas do que os homens, além de doenças crônicas debilitantes, populações especiais, imigrantes, indígenas e fatores modificáveis como perdas recentes do emprego, de parentes, da saúde. Componentes genéticos e ambientais, eventos adversos na infância na adolescência como maus tratos, abuso físico, sexual, pais divorciados, enfim, uma série de fatores”, enumerou.
Onde procurar ajuda em Oeiras
Em Oeiras as pessoas podem procurar ajuda no NUVI e também no Núcleo de Prevenção ao Suicídio e Promoção da Saúde.
O NUVI - Núcleo de Valorização da Vida é um serviço que oferece atendimento psicológico gratuito na cidade de Oeiras e funciona no Hospital Regional Deolindo Couto e é coordenado pela psicóloga Millena Faustino
Com o início da Pandemia a dinâmica do serviço mudou. De início o serviço estava disponível todos os dias da semana, inclusive aos domingos. No entanto, diante da demanda de pacientes COVID, familiares e profissionais da saúde que necessitam de atendimento psicológico, o serviço passou a dar prioridade a este grupo.
Atualmente o NUVVI, está funcionando somente para atendimentos graves de pacientes com ideação suicida recorrente e aqueles que dão entrada através da UPA.
“Esperamos que em breve possamos dar assistência a todos que necessitam de atendimento psicológico”, pontua Millena Faustino.
O Núcleo de Prevenção ao Suicídio e Promoção da Saúde foi criado diante da complexidade desse fenômeno e do aumento dos casos de tentativas de suicídio no município de Oeiras, sobretudo entre jovens com elevado perfil de vulnerabilidade social e psicológica. A gestão através da Secretaria Municipal de Saúde sentiu a necessidade de criar o Núcleo de Prevenção ao Suicídio e Promoção da Saúde, no intuito de reduzir os suicídios, as tentativas e os danos causados por esta prática.
“Vale ressaltar que o Núcleo de Prevenção ao Suicídio NÃO é um serviço, trata-se de uma coordenação que articula ações educativas, informativas de Prevenção e Promoção da Saúde com outra serviços da rede como, Atenção Básica, Núcleo de Apoio à Saúde da Família(NASF), CRAS, CREAS, Conselho Tutelar, UPA, Hospital Geral dentre outros”, esclarece Evanilde Borges.
O Núcleo está inserido no CAPS-I que é um serviço que atende pessoas com transtornos mentais graves, severos e/ou persistente e também atua como porta de entrada às pessoas com comportamento suicida. O Centro de Atenção Psicossocial juntamente com coordenação do Núcleo desenvolvem rotineiramente o acolhimento e acompanhamento psicossocial de dezenas de pessoas que apresentam comportamento suicida, através da demanda espontânea que chega ao serviço, ou através da busca ativa dos casos que dão entrada na UPA, monitoramento e compartilhamento dos casos com a Equipes Saúde da Família e NASF, na tentativa de promover uma melhor adesão do paciente ao tratamento e ampliar a dimensão da corresponsabilidade de todos os segmentos envolvidos no processo de reabilitação psicossocial.
“Infelizmente o comportamento suicida ainda é obscurecido por tabus, estigmas, vergonha e permeado pelo silêncio, o que impede as pessoas de procurarem ajuda dos serviços de saúde. Por isso procure ajuda especializada imediatamente sempre que apresentar sintomas depressivos ou pensamentos suicidas. Pode ser psicólogo ou psiquiatra, na ausência destes procure um médico ou outro profissional de saúde para receber orientações e o devido encaminhamento, converse com quem você confia, busque apoio de pessoas relevantes”, pontua Evanilde Borges.
Além dos já citados, é indicado procurar os serviços disponíveis: Caps, Unidades de Saúde, UPA, e o CVV- Centro de valorização da Vida que realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo voluntário e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar e ainda sentem vergonha ou que por algum outro motivo não procuram o serviço de saúde mental. O atendimento do CVV é feito através de ligação gratuita para o número 188.
Em caso de suicídio a elaboração do luto é mais complexa
O luto por suicídio apresenta algumas peculiaridades que diferenciam do luto de quem perdeu pessoas por causas naturais ou acidentes. Culpa, vergonha, raiva, desamparo, rejeição são sentimentos vividos por quem ficou e que costumam vir antes da dor em si. Nesse sentido, a posvenção surge como objetivo oferecer medidas que favoreçam a expressão de ideias e sentimentos relacionados ao trauma e a elaboração do luto.
Segunda a psicóloga Millena Faustino, a elaboração do luto de uma família que perdeu alguém para o suicido é mais difícil. “Lidar com a morte ainda é um tabu em nossa sociedade, ainda que saibamos que a única certeza que temos é da finitude. No curso normal da vida, o que se espera é que o indivíduo nasça, viva longos anos e só depois, já na velhice, venha a falecer. Ao nos depararmos com a morte pelo suicídio, surge uma interrupção da vida repentinamente. É por esse motivo que o luto por suicídio é tão difícil e doloroso, pois ele está permeado por perguntas sem respostas. Associado a isso o julgamento social e a vergonha que as vezes este familiar sente, contribuem para que o processo de elaboração do luto seja mais difícil”, esclarece a psicóloga, acrescentando que é importante reforçar que a terapia pode ajudar muito neste processo para que o luto seja vivenciado corretamente e para que a saúde mental dos sobreviventes seja cuidada.
Sobre a forma de tratar as famílias que perderam um ente querido para o suicídio, Millena Faustino diz que “o primeiro passo é prezar pelo respeito e deixar o julgamento de lado. A dor de perder alguém querido já é enorme, quando associado ao julgamento social, esse sofrimento é ainda maior. Prestar apoio, não procurar culpados e entender que o suicídio é um fenômeno complexo demais para ser explicado por um ato ou outro, com certeza pode ajudar a família enlutada a passar por esse momento tão difícil”.
Não repasse imagens de casos de suicídio
O tema suicídio ainda gera muita polêmica e tabu nas conversas e debates realizados pela sociedade, mas de acordo com especialistas, esse é um assunto que deve ser mais abordado e discutido para fazer com que o maior número de pessoas tenham informações corretas sobre o fenômeno e consigam ajudar todos àqueles que precisam de um apoio, de serem ouvidos e ajudados. As palavras de ordem devem ser “responsabilidade e sensibilidade” para não resultar na indução de um suicídio, conhecido por Efeito Werther.
A divulgação de imagens ou vídeos de suicídios são importantes gatilhos para quem está pensando em cometer aquilo, além de um desrespeito, falta de empatia e de humanidade com a vítima e sua família. A Organização Mundial da Saúde, elaborou um manual que trata sobre a divulgação de imagens, cenas, método utilizado e, de acordo com esse trabalho feito pela OMS, são justamente essas informações e imagens que geram o chamado Efeito Werther, então, entendemos que, além de abalar a sociedade, ser gatilhos para crises de ansiedade e uma falta de respeito, também pode gerar uma onda de imitação de suicídios.
Por que o Mural da Vila não divulga notícias sobre suicídio?
Sempre que um caso de suicídio ou mesmo uma tentativa acontece em Oeiras, o Mural da Vila é questionado pelo fato da não divulgação destes casos. Faz parte da nossa linha editorial, não dar notoriedade a nenhum fato que possa atentar contra a vida humana.
Infelizmente, apesar das supostas influências que notícias deste tipo possam ter na vida das pessoas, muitos veículos divulgam este tipo de material. Embora não nos caiba julgar o posicionamento editorial destes meios, o Mural da Vila, assim como outros veículos de comunicação, continuarão a não divulgar este tipo de conteúdo em respeito à ética jornalística e aos familiares destas pessoas que, por qualquer motivo, achavam que suas vidas não eram importantes.
Entretanto, o fato de não divulgarmos notícias que abordem exclusivamente o suicídio de alguém, não significa que este tema não deva ser abordado, pois, na verdade, é justamente o oposto. Debater o suicídio se faz necessário para que as pessoas entendam os motivos que podem levar uma pessoa a tirar a própria vida e assim, oferecer ajuda a estes indivíduos, prevenindo que este triste fato ocorra.
Como veículo de comunicação que atua há 12 anos na cidade e região, não podemos nos dar ao luxo de considerarmos qualquer assunto como tabu e assim, continuaremos apoiando ações que promovam iniciativas de valorização da vida e prevenção ao suicídio, além de continuarmos a abordar o tema sempre que for pertinente, mas sempre como forma de conscientização e não de polêmica.
Da Redação com informações do Meio Norte