Floriano
Cinema nacional - "entre lençóis"
Por: Giselle Silva em 11/12/2008 - 00:00
Paula (Paola Oliveira) e Roberto (Reynaldo Gianecchini) se conhecem em uma boate na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ele acabou de sair de uma relação complicada. Ela está prestes a se casar, mas quer curitr os últimos momentos como solteira. No encontro, surge uma paixão e começa uma longa conversa sobre desejo, insegurança e amores dentro de um quarto de motel.
Elenco:
Reynaldo Gianecchini Paola Oliveira
Direção: Gustavo Nieto Roa
Produção: Tiago Müller
Eliezer Lipnik
Sean Walsh
Gustavo Nieto Roa
Fotografia: Márcio André Zavareze
Trilha Sonora: Cristyan Bicas
crítica do filme
Heitor Augusto
Entre Lençóis é um drama que tem elementos de comédia e, ao mesmo tempo, uma comédia com elementos do drama. O espaço cênico dedicado aos personagens de Reynaldo Gianecchini (Sexo com Amor?) e Paola Oliveira (Rinha) é um quarto de motel, no qual Roberto e Paula vivem a experiência mais íntima de suas vidas.
O encontro ocorre em uma boate, com uma troca rápida de olhares. Uma dança, um beijo, a cama, o sexo apressado. O que se desenhara como uma noite fugidia e passageira, transforma-se em troca de experiências, amor e em discussão de relação – mesmo que ela esteja fadada a durar 24 horas.
O espaço cênico flerta com o teatro. Toda a ação do filme se passa no quarto, e parte dela ocorre debaixo dos lençóis. A dupla de atores está livre para desempenhar a partir do definido pelo roteiro: intimidade, sexo e troca de idéias sobre a vida, desde aspirações quanto ao futuro a questões banais, do tipo “por que mulheres sempre vão ao banheiro em par” ou “por que os homens têm o fetiche de transar com duas ao mesmo tempo”?
A construção de Entre Lençóis pede três elementos básicos: um roteiro que crie situações sólidas e personagens complexos; capacidade dos atores improvisarem a partir dos diálogos; e uma boa mão do diretor. Quanto ao roteiro e aos diálogos, assinados por Renê Belmonte (Se Eu Fosse Você, Sexo com Amor?), apresentam-se inicialmente num ritmo interessante, mas não mantêm o vigor no miolo do filme. Afinal, não é fácil criar, por mais de uma hora, empatia entre espectador e personagens que permanecem todo o tempo no mesmo lugar físico – mesmo que no imaginário busquem flutuar. Interessante e maçante são duas sensações que co-existem ao assistir ao filme.
A atuação do casal é boa, especialmente nos momentos cômicos. Quando improvisaram, o filme ganhou. Em uma seqüência hilária, Paula faz um strip para Roberto. E como o jogo sensual masculino é diferente do feminino, o strip do personagem de Gianecchini para o de Paola fica engraçado, pastelão, uma caricatura do macho latino. Ponto para os dois e para o filme.
Porém, o diretor Gustavo Nieto Roa perde a mão na condução de Entre Lençóis ao exagerar na busca pela poesia visual, na beleza do corpo e na intenção de mostrar a intimidade desse casal que vai durar uma noite. Para provar que os personagens são íntimos, não é preciso mostrar a transa deles cinco vezes; eles não precisam fazer gemidos artificiais no sexo; é dispensável dissertar sobre filosofias óbvias; e os belos corpos da dupla Gianecchini/Paola não precisam de tanta exposição, pois o sensual pode perder espaço para o banal.
Na seqüência final, tudo que os atores haviam feito dignamente no decorrer de Entre Lençóis é quase esculhambado pelo uso de ferramentas óbvias da atuação (lágrimas em demasia, frases de efeito, movimentos bruscos do rosto, excessos de diálogo) e por uma música que não acrescenta ao que já está na telona. Por muitas vezes, o silêncio tem mais valor que a fala e ocultar tem um resultado visual, artístico e dramático mais eficaz que mostrar. O excesso pode ser substituído pela economia.