
O silêncio que ficou com o teu nome

Às mães que partiram
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Desde que ela partiu, há um lugar na casa onde a luz parece hesitar. Não é só o quarto que ficou mais quieto, nem os móveis que permanecem no mesmo lugar. É a ausência que respira entre as paredes, como se o tempo tivesse aprendido a sussurrar para não incomodar o vazio.
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Não há nome para a saudade de mãe. É maior do que saudade. É um mergulho sem volta, um chão que some debaixo dos pés e, mesmo assim, a gente aprende a caminhar sobre ele. Por fora, os dias seguem. Por dentro, tudo continua parando onde ela parou.
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Ela não está mais ali para ouvir nossas histórias, nem para olhar com aquele jeito que dizia tudo sem uma palavra. Mas há dias em que o vento dobra a esquina da memória e sopra seu nome baixinho. Como se dissesse: "estou aqui". E a gente entende, com os olhos úmidos, que mãe não se vai — se derrama pela vida inteira.
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Nos gestos pequenos, no cuidado de preparar o dia, no silêncio que ela enchia de oração. Orava como quem conversava com Deus com intimidade, sabendo que seria ouvida antes mesmo de pedir.
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Há dias em que a ausência machuca mais: quando algo bom acontece e os olhos procuram os dela para dividir a alegria, quando a dor pesa e as palavras dela fariam toda diferença. Nessas horas, a falta não berra, mas aperta — mansa e firme — como quem segura um retrato contra o peito e escuta com a pele o que a lembrança diz.
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E mesmo quando tudo parece demais, é possÃvel ouvir sua voz. Não com os ouvidos, mas com o que ainda pulsa. Ela diz, sem dizer, que seguir é forma de honrar. Que viver bem é uma maneira de ainda abraçá-la.
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Ela é raiz. É presença sem corpo. É oração que continua. E mesmo que a vida empurre os dias para frente, há uma parte nossa que caminha devagar, de mãos dadas com o que ela é — invisÃvel, mas inteira.