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18/03/2025 - 09:25Formação reúne educadores de 11 municípios para fortalecer a alfabetização na região
O Diretório Central dos Estudantes da Universidade Estadual do Piauí – DCE Posidônio Queiroz, emitiu uma carta aberta acerca da proposta de implementação de aulas remotas durante a pandemia do novo Coronavírus.
Confira a carta:
Oeiras (PI), 29 de Abril de 2020
Diante de um dos momentos mais catastróficos da história da humanidade, onde uma pandemia mundial modifica o ciclo de convivência social, ceifa a vida de milhares e nos coloca em condições de repensar o mundo em que vivemos e as relações desenvolvidas até então, observa-se que diversos reflexos sociais e econômicos foram desencadeados pelo Covid-19, tornando-se fundamental o papel do Estado e suas instituições em garantir que os efeitos colaterais do vírus sejam os menores possíveis. Diversos países debruçam-se sobre medidas importantes para o combate da doença, como intervenção pública em empresas de saúde privadas para colocá-las a disposição do sistema nacional de saúde, a suspensão de contas de água, luz, aluguel e do ano letivo nas escolas, dentre outras medidas, que parecem ser uma realidade distante em terras brasileiras, principalmente com um governo federal completamente negligente e irresponsável.
Já no Piauí, o número de contágios pelo Novo Coronavírus ultrapassa os 400 casos, segundo o boletim da Secretaria Estadual de Saúde (Sesapi), desta segunda feira (27/04/2020), o número de municípios com pacientes infectados cresceu para 52, com dois novos casos confirmados em Picos, Água Branca e Oeiras, sendo que este último município totalizou 6 casos. De acordo com levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Piauí é o estado com a maior desigualdade do país, onde 10% dos ricos ganham 18 vezes mais que 40% dos pobres, e em suma, os menos abonados localizam-se na região com menor desenvolvimento do estado, o eixo-sul. Em tocante semelhante, o Ministério da Saúde informa que o vírus é mais letal em pessoas em condição de maior vulnerabilidade social.
Logo, o DCE Posidônio Queiroz, entidade representativa dos acadêmicos da Universidade Estadual do Piauí, campus de Oeiras, permanece em constante diálogo com os acadêmicos dos campi do eixo-sul do Estado do Piauí e teme pelas possíveis medidas adotadas pela administração superior da universidade. Na tarde desta sexta- feira (24/04/2020), em uma videoconferência realizada pela a Academia de Ciências do Piauí, o Reitor da UESPI - Nouga Cardoso, destacou algumas contribuições realizadas pela IES para o combate do Covid-19, argumentou que a instituição atua na área da pesquisa e valorização do conhecimento científico, salientando também alguns projetos como cursos e residências multiprofissionais, reconhecendo a importância dos processos educacionais neste momento de incerteza. Todavia, a UESPI, acaba direcionado-se na contra-mão da valorização da educação, quando considera valer-se da portaria publicada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), que permite que instituições de ensino superior, na modalidade presencial, possam transmitir suas aulas de forma remota. Em questionário disponibilizado nas plataformas digitais da instituição, é possível notar um claro flerte com a mercantilização do ensino superior ao cogitar a possibilidade do uso de Educação a Distância (EAD) nos seus campi durante a pandemia.
O movimento estudantil de caráter universitário do eixo-sul do Estado do Piauí, DCE Possidônio Queiroz, segue contra a implementação do ensino EAD pela UESPI, uma vez que historicamente os setores sociais lutam para garantir a constitucionalidade do acesso e permanência à educação escolar e ensino superior. Visto que segundo o IBGE, 42% dos domicílios no Piauí não possuem acesso a internet, a realidade EAD torna-se fisicamente inviável, excludente e pedagogicamente destrutiva, uma vez que o ensino remoto é um veículo para valorização do capital, também podendo agir como forma de conservação do status quo, uma vez que as condições presentes em tal modalidade de ensino, distancia-se completamente dos 3 pilares fundamentais da educação: o ensino, pesquisa e a extensão, prejudicando diretamente os estágios e disciplinas teórico/práticas.
Analisando dados de forma mais íntima nos debruçamos sobre a realidade da UESPI da primeira capital piauiense, em levantamento interno feito pelas Coordenações dos cursos de Letras Português, História, Pedagogia e Matemática do campus de Oeiras, nota-se que 33% dos acadêmicos não tem acesso frequente a internet, sendo que 68% dos estudantes tem disponibilidade somente pelo celular, com tipo de conexão variada e instável, a maioria sem conhecimento da modalidade EAD. Cumpre lembrar que com o descaso histórico da administração superior da UESPI com os campi localizados no interior do estado, não há nenhum professor da área para iniciar o ano letivo no Curso
de Matemática. Salienta-se que estes dados ainda não identificam a totalidade, mostrando apenas o quantitativo dos alunos que puderam ter acesso a pesquisa uma vez que a mesma foi realizada via internet, ou seja, diversos acadêmicos, por inviabilidade de conexão, sequer poderão ser ouvidos pela UESPI.
Nota-se aqui, apenas, alguns dados que multiplicam-se em uma análise geral da instituição, além dos graves problemas relacionados a sua infraestrutura e falta de docentes, a UESPI dispõe de uma realidade extremamente plural e complexa que impossibilita a adoção de medidas imediatistas, aligeiradas e sem um debate ampliado que visam unicamente o cumprimento do calendário institucional, desassistindo completamente a comunidade acadêmica, que há muito tempo pede socorro, lutando contra o sucateamento e desassistência (principalmente dos campi do interior do estado), atrasos de bolsas e auxílios permanência.
Esperamos que administração superior da UESPI abra um diálogo democrático com os acadêmicos, técnicos e corpo docente, analisando as especificidades de cada unidade de ensino, reavaliando as possibilidades e prezando pelo bem-estar de todos.
DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES - UESPI
DCE Possidônio Queiroz