
Audiência Pública discutirá políticas de proteção animal em Oeiras
06/05/2025 - 20:30Evento será realizado no plenário da Câmara Municipal e é aberto à participação da comunidade
Atrás da participação de muitas mulheres nas eleições deste ano esconde-se um problema político e social: a substituição de candidaturas de políticos de carreira por suas espo-sas. Estas mulheres-candidatas de boa aparência e boa desenvoltura surgem como alternativa para que deputados não percam as cadeiras da família nas Casas Legislativas.
Concorrem como "esposas candidatas" nestas eleições: Juliana Moraes Souza (PMDB), esposa do deputado Zé Filho, candidato a vice-governador na coligação com Wilson Martins (PSB); Rejane Dias (PT), esposa do ex-governador Wellington Dias, candidato a senador; Mércia Paulo (PSDB), esposa do deputado estadual Roncalli Paulo, que também pediu registro de candidatura, mas aguarda decisão da Justiça Eleitoral para ter sua candidatura deferida. Ele tem pendências com a lei da Ficha Limpa; Lílian Martins (PSB), esposa do governador Wilson Martins. Lílian substituiu o marido na Assembléia quando Wilson foi concorrer a vice-governador na chapa de Wel-lington Dias, nas eleições de 2006; Margarete Coelho (PP), esposa do deputado estadual Marcelo Coelho, que está na Assembléia Legislativa desde 1982; Nize de Caldas Brito Pereira Damasceno, a Nize Rego (PSB), esposa do ex-prefeito do município de Barras, Manin Rego, cassado pela Justiça Eleitoral, e filha do ex-deputado estadual José Cabelouro (PMDB) e Lusieux Feitosa Coelho, a Liziê Coelho (PTB), esposa do prefeito de Paulistana, Luis Coelho (PMDB), ex-presidente da APPM (Associação Piauiense de Municípios). Ele anunciou sua candidatura, mas desistiu de concorrer porque preferiu não deixar o cargo de gestor municipal. A deputada Ana Paula (PMDB), candidata à reeleição, substituiu o irmão Chico Filho.
Além destas candidatas a deputada estadual, entra neste grupo de "esposas candidatas", Iracema Portela (PP), casada com o deputado estadual Ciro Nogueira, candidato a senador. Cassandra Moraes Souza (PSC) é a primeira suplente do seu pai, o senador Mão Santa, candidato à reeleição. Cassandra tenta substituir a mãe, Adalgisa Moraes Souza, atual primeira suplente do senador. Nas últimas eleições municipais, Teresina teve como exemplo de "esposa candidata" a vereadora Rosário Bezerra (PT), casada com o então secretário de Fazenda, Antonio Neto, que nestas eleições é candidato a deputado federal pela mesma sigla.
Na disputa eleitoral, a popularidade e o trabalho desenvolvido pelos maridos é o principal argumento de campanha. Em sua página de campanha na internet, a candidata
Juliana Moraes Souza descreve em sua biografia de dois parágrafos, além da formação em Direito, o casamento e a parceria com o marido e o sogro na vida pública. "É casada com Moraes Souza Filho, nosso futuro vice-governador, com quem tem dois filhos. Juliana sempre atuou na vida pública, sendo colaboradora nos relevantes serviços prestados na área social ao lado de seu sogro Antonio José de Moraes Souza, sua sogra Dona Mana e de seu esposo Moraes Souza Filho".
Além disto, enfatiza que na sua atuação, ela terá a "ajuda" dos "companheiros": "Juliana não está só em sua luta. Tem companheiros que saberão o momento certo para lhe dar a força necessária para tomar as decisões corretas e obter as vitórias que o Piauí precisa", diz trecho sobre sua biografia.
A candidata Rejane Dias diz que a ajuda do marido foi importante na decisão de colocar seu nome à disposição do eleitorado. "Ele teve o papel de me apoiar [...]. Eu já sabia do dinamismo do Wellington e do seu compromisso. Ele disse que me apoiaria, não só ele, mas toda a minha família", conta.
No governo petista, Rejane exerceu os cargos de secretária de Assistente Social e, depois, de chefe da Secretaria para Inclusão da Pessoa com Deficiência. Com experiência na área, ela promete dar atenção especial, caso eleita, aos projetos que ajudem as pessoas com deficiência, idosos, mulheres, além de dedicar atenção ao esporte "Decidi ser candidata pelo fato de que o trabalho que desenvolvi à frente da Sasc e da Seid sempre fez com que os simpatizantes me cobrassem isso, em função desse clamor resolvi colocar meu nome para a Assembléia", justifica.
Manobras de sobrevida da oligarquia
O cientista político Ricardo Arraes avalia que este "fenômeno" não é novo na política piauiense, que compreende um "processo de oligarquização política e recrudescimento de reduzidos grupos de interesse". Longe de representar uma emancipação das mulheres como representantes legislativas, traduzem "manobras de sobrevida". Segundo Ricardo Arraes, "muitas mulheres que assumiram cadeiras no parlamento piauiense não representaram qualquer mudança política. Ao contrário, são produtos de estratégia e cálculo político, pois elas deram vozes a esposos, irmãos e cunhados momentaneamente afastados dos cargos", avalia.
No entanto, vale lembrar algumas honrosas exceções, como é o caso de Francisca Trindade, vereadora, deputada estadual e federal. Parlamentar mais votada na história do Piauí, elegeu-se para a Câmara Federal com 165.190 votos, obtendo 11,5% dos votos válidos. Faleceu vítima de um aneurisma, em julho de 2003. Outras mulheres tem obtido destaque na política do Piauí, entre elas a candidata a governadora pelo PV, vereadora Teresa Britto, e a deputada estadual Flora Izabel (PT).
Maridos também são herdeiros de mandatos
A candidatura sucessiva de membros de uma mesma família é uma prática antiga na história do Piauí e de outros estados do Nordeste. O fenômeno identificado pelo cientista Ricardo Arraes como "familiarismo" não acontece somente com a transferência de votos para as esposas, mas a prática sempre foi comum entre pais, filhos e netos.
Tentam ocupar as vagas dos pais nestas eleições: Claudio Tadeu Fonseca Maia (PSB), que usa o mesmo nome do pai para a campanha: Tadeu Maia e Flávio Rodrigues Nogueira Júnior (PDT), filho do candidato a vice-governador na chapa de João Vicente Claudino (PTB), deputado estadual Flávio Nogueira.
Na atual legislatura, muitos parlamentares já herdaram as cadeiras dos pais na Assembléia Legislativa. Mauro Tapety (PMDB), membro de uma família de políticos do município de Oeiras; Marden Menezes (PSDB), filho de Luiz Menezes, atual prefeito de Piripiri; o presidente da Casa, Themístocles Filho (PMDB), filho de Themístocles Sampaio, deputado federal. Na família Sampaio mais um nome tenta conquistar mandato eletivo, o filho caçula, delegado Marllos Sampaio, candidato a deputado federal. Recentemente, os deputados peemedebistas Kleber Eulálio e Warton Santos, ambos do município de Picos, já anteciparam que nas próximas eleições colocarão seus filhos como candidatos.
No entanto, nem sempre são os homens que levam as mulheres para a política, há poucas exceções em que mulheres levam parentes homens para a vida pública, como a deputada Flora Izabel, que levou o primo Jesus Rodrigues Alves para dentro do governo petista. Nestas eleições, Jesus Rodrigues é candidato a deputado federal pelo PT. O deputado federal Antonio José Medeiros também é padrinho da candidatura do cunhado, Merlong Solano a deputado estadual. Merlong é irmão do vereador Décio Solano, do PT. Ainda no Partido dos Trabalhadores, o deputado federal Nazareno Fonteles tenta eleger o irmão Marcelino para a Assembléia Legislativa.
A prática não é condenada pelas leis eleitorais, mas foi este costume político que "permitiu a formação das oligarquias no estado", comenta Ricardo Arraes. O cientista explica ainda que as candidaturas das esposas compreendem uma nova face de "oligarquização" e que cabe ao eleitor a escolha de manutenção ou não deste costume. "Não há nada de errado nesta prática, entretanto, como o tipo de disputa é eleitoral, isto é, passa pelo crivo de eleição, cabe então ao eleitor a tarefa de chancelar ou não a oferta posta no menu eleitoral. Se qualquer uma das candidatas for eleita, cabe unicamente ao eleitor a responsabilidade".