Farra com o dinheiro público

* Por Zózimo Tavares


O Diário do Povo publicou, em sua edição de ontem, com base em levantamento do site Congresso em Foco, uma reportagem sobre a destinação de mais de R$ 9 milhões para festas no Piauí. Os recursos foram alocados por senadores e deputados federais, através de emendas orçamentárias.

Não se discute a importância do lazer na vida das comunidades. O que se discute é que normalmente os gestores reclamam que os recursos são poucos. Mesmo assim, não hesitam em torrar quase R$ 10 milhões apenas em festas que pouca ou nenhuma contribuição trazem para as suas comunidades.

O primeiro inconveniente a ser destacado é que, na maioria dos casos, os recursos que chegam aos municípios através das emendas parlamentares, para a realização de festanças e carnavais fora de época, saem imediatamente para o pagamento de bandas que vêm de fora. Quase nada fica na cidade.

Há denúncias indicando que, na promoção desses eventos, a corrupção campeia. Oficialmente, por exemplo, as bandas são contratadas por um valor mais alto, porém recebem uma quantia menor. Para onde vai a diferença? Em que bolso esses recursos vão parar? Uma investigação dos órgãos competentes haverá de tirar essas denúncias a limpo.

De todo modo, é injustificável que os parlamentares se entusiasmem mandando dinheiro para festanças enquanto as cidades padecem de muitas outras carências, especialmente na área de saúde. O entusiasmo é tão grande que um festival desses foi realizado em Cocal logo depois da tragédia da barragem de Algodões.

As festas populares revestidas de apelo artístico-cultural haverão de continuar merecendo apoio financeiro dos parlamentares. Mas eles devem separar esses eventos dos que nada acrescentam culturalmente às comunidades. Estes, infelizmente, são os que predominam no Piauí entre os patrocinadores com dinheiro público.


* Zózimo Tavares é editor chefe do Jornal Diário do Povo