
Feitiço da vila (do mocha)
Esta reflexão me veio de uma conversa (MSN) com o antenado poeta e cantor oeirense Vivaldo Simão. Falávamos sobre Noel Rosa que ele, encantado, vem descobrindo nos últimos dias, para mim mais uma prova do fino gosto do rapaz.
A certa altura da conversa me veio à cabeça perguntar a ele: Porque você não monta um espetáculo apenas com músicas do Noel. Percebi que apreciou a sugestão mas sua primeira resposta foi:
– Em Oeiras não dá! Não tem público para isso” e ajuntou
– A turma reclama do repertório mas, quando a gente tenta mudar, todo o mundo vira as costas”.
Foram, justamente, estas duas afirmações dele que me fizeram pensar. Primeiro me lembrei que foram Maria Betânia, Caetano Veloso e Gal Costa que me ensinaram a gostar de um monte de cantores que eu considerava brega, como, por exemplo, o Vicente Celestino, (coração materno, com um arranjo primoroso do saudoso maestro Rogério Duprat, de saudosa memória, ficou lindo!) ou a descobrir verdadeiras jóias de Ataulfo Alves, Ismael Silva, que teve o seu Antonico imortalizado na voz da Gal, entre dezenas de outros. Aliás, Bethânia é especialista nisso: transportar canções antigas para ouvidos modernos. Noel eu conheci menino, em um álbum 78 rotações com doze discos interpretados pela Araci de Almeida (que, aliás, me foi roubado!
É claro que existem cantores/compositores, como o nosso Vavá Ribeiro, o rei Roberto Carlos, entre outros, que só interpretam músicas da própria autoria , assim como há os que constroem seu repertório apenas entre os sucessos consagrados, adaptando-se, inclusive, ao gênero musical da moda.
Mas ninguém me tira da cabeça que os grandes intérpretes na acepção da palavra são aqueles que eu chamaria de Cantores-Demiurgos, aqueles que, sem serem compositores, sabem, melhor que ninguém, fazer com que o público aprenda a gostar de Noel Rosa e de inúmeros outros grandes compositores esquecidos nos desvãos do passado, de um lado ou que, como Elis Regina “descobrem”, para o sucesso, compositores, até então, desconhecidos como ela fez com Belchior, João Bosco, Tunai e muitos outros
Em brilhante artigo sobre a Bossa Nova em Oeiras (vale a pena ler - CLIQUE AQUI PARA LER), publicado no Portal do Sertão, Ferrer Freitas mostra com foi possível ao Careca, apelido de Gerardo Queiroz, um dos filhos de Possidônio, introduzir, na velha Oeiras das românticas serenatas, as batidas inovadoras da Bossa Nova, ainda na década de sessenta.
Vivaldo me disse que o Vavá Ribeiro elogiou, entre outras coisas,a , maturidade do seu fazer poético. Acho que o Vavá tem toda a razão. Mas acho, também, até por isso mesmo, que o Vivaldo tem consciência de que ainda há um longo caminho a percorrer. E esse seu interesse por músicas do passado essa “cabeça aberta” promete dar muito “samba” em futuro próximo. Quem viver, verá!
Joca Oeiras