
Justiça solta dois homens presos por furto de moto em Oeiras
25/05/2025 - 14:23Suspeitos foram liberados após audiência de custódia, mediante fiança e cumprimento de medidas cautelares
O Instituto de Criminalística da secretaria de Segurança do Piauí realizou perícia em uma gravação de programa de rádio a pedido do promotor Elói Júnior. O promotor foi ameaçado de morte por milícias de Picos após denunciar tortura a presos no 4° Batalhão de Polícia Militar, localizado na cidade. Em alguns trechos da entrevista, embora negue, o Major Wagner tropeça nas palavras e faz ameaças veladas de tortura aos ‘bandidos’ e manda um alerta ao promotor Elói Júnior ao afirmar que ele está mexendo com um ‘macho’ e que teve vontade de aplicar um ‘corretivo’ no promotor dentro de seu gabinete no caso da denúncia dos presos torturados com pancadas nos testículos.
Major fala demais e confirma torturas mesmo sem querer
A perícia foi realizada em um CD onde foi gravada entrevista do comandante do 4° BPM, Major Wagner Torres à rádio 95 FM Cidade Modelo concedida no dia 02 de outubro. Na entrevista o Major perde o controle e faz várias ameaças em que confirma, mesmo sem querer, a realização de torturas dentro do batalhão e a as ameaças de morte ao promotor Elói Júnior.
Em suas declarações o Major, após uma discussão com o promotor sobre o flagrante de torturas aos presos teria dito durante a entrevista que a bandidagem de Picos não vai criar ‘asas’ que ele ‘tora bem no meio’, “vocês não vão pensar que vão criar asa não, se vocês criarem asa eu toro ela bem no tronco, viu?”, declarou. “...vim aqui pra ordem, pra espantar essa malandragem daqui e vai ser desse jeito, doa a quem doer, certo?"
Em outro trecho o Major levanta mais uma vez a possibilidade de tortura ao dizer, “...eu nunca fiz uma injustiça com um cidadão, agora marginal, eu trato é como marginal, a rédea é curta para marginal aqui dentro, e vocês podem ir embora de Picos, eu não abro mão, não abro mão de marginal, marginal aqui a rédea é curta...”.
Apoio das autoridades
A certeza da impunidade contra os crimes de tortura cometidos em Picos fica ainda mais clara na seguinte declaração do major Wagner Torres, "bandido não vai cantar aqui não...e meus policiais podem ficar tranqüilos, enquanto eu for comandante eu pago do meu bolso, eu pago o melhor advogado aqui da cidade pra defender vocês, e é aqui que eu fico enquanto tiver o apoio da comunidade, dos empresários, do Governador do Estado e principalmente do Comandante Geral, o Coronel Prado, que me deu essa missão de espantar esses bandidos daqui, eu fico na cidade”.
O Major declarou ainda que os hematomas encontrados nos presos são causados por eles mesmos dentro das delegacias, que se machucam com o objetivo de acusar a polícia. No caso em questão o da tortura a três presos com pancadas nos testículos foi negado pelo major. “Não existiu nada de tortura, isso é conversa fiada...”
A captura dos presos torturados
Na transcrição o Major Wagner descreve a prisão de três indivíduos que segundo ele, faziam parte da ‘quadrilha do Coelho’ que seriam os responsáveis por uma série de assaltos a comércios de Picos. Ele afirma ainda que Coelho foi preso anteriormente, mas liberado em 30 dias, ocasião em que o Major pediu ao serviço de inteligência da polícia que monitorasse o acusado iniciando assim a operação “Caça ao Coelho”.
As buscas teriam durado 20 dias pela periferia da cidade até a equipe do Rocar receber uma denúncia de que o individuo teria sido visto entrando em um comércio na região central da cidade. Coelho teria fugido pelo telhado ao perceber a entrada da polícia e após uma busca de mais de duas horas, coelho foi encontrado escondido debaixo de uma cama em uma residência próxima ao local. Preso, o assaltante entregou os comparsas conhecidos como Airon Alves, José Fabrício e “Zanôi”
Major Wagner afirmou que após prender os acusados e entregá-los na delegacia recebeu uma ligação de que o promotor Elói Júnior teria chegado ao local dando voz de prisão aos policiais que estavam de plantão alegando ter recebido da mãe de um dos presos, a denúncia de que eles estavam sendo torturados. Ao chegar ao local o promotor Elói já teria tirado fotos dos presos que atestavam as torturas, ocasião em que o Major teria dito a seguinte frase “Quer dizer doutor que o senhor tem poder, o senhor é Deus pra estar presente em todo lugar e ter visto que foi a polícia, o senhor viu?” Ao que o promotor teria replicado com a frase “não, eu não vi” . A discussão teria continuado com o major perguntando “então doutor, quem foi que viu?” e Elói Júnior teria dito que foi a mãe do rapaz quem disse.
Desafio e ameaça ao poromotor Elói Júnior - "Sou macho topado"
O Major também desafiou o promotor Elói Júnior ao afirmar que não tem medo de nada e que o mesmo pode apurar as denúncias e que não vai se intimidar. “...num tenho medo de nada nesse mundo não; eu ouvi aí do promotor que disse que vai mandar apurar quem mandou fazer isso, aquilo; pode mandar apurar isso ai...eu num vou me intimidar com essas palavras dele não , de maneira alguma, se ele ta pensando que vai me intimidar, ele ta redondamente enganado, viu?Mas ele está redondamente enganado mesmo, eu sou muito diferente de outros oficiais que ...eu sou muito diferente dele, inclusive ontem no gabinete eu perguntei se ele tava me ameaçando, ele disse que não, porque se ele tivesse dito que tava me ameaçando eu tomava outras providências e tomava ali mesmo certo?”. O repórter ainda tentou intervir para evitar que as ameaças continuassem, mas o major não se intimidou, “ele ta mexendo é com homem macho topado...não é com um camarada despreparado não”.
Perícia em presos
Os exames periciais realizados nos presos atestaram que dois deles sofreram 'trauma testicular' e correm o risco de ficarem infertéis. Foram realizados exames de ultra-som do saco escrotal dos presos e atestando que eles sofreram tortura na genitália.
Fonte: Portal AZ