
Mulher é presa em flagrante com munições, aparelhos eletrônicos e mais de R$ 2 mil em espécie durante operação contra tráfico em Picos
02/05/2025 - 18:40Todo o material foi recolhido e encaminhado à delegacia para os procedimentos legais.
Em Goiás, um assassino condenado a mais de 40 anos de prisão consegue ser libertado por ordem judicial. Assim que volta às ruas, mata novamente. A pergunta que fica: por que esse homem estava solto?
Numa cela escura, um homem de 31 anos confessa estupros e assassinatos. “A sensação era que queria matar. Tinha ódio, tinha raiva”.
O depoimento obtido com exclusividade pelo Fantástico foi gravado com uma câmera que registra imagens em ambientes onde não há luz.
“Uma coisa falava no meu ouvido, uma voz. Eu ia lá e fazia”.
Depois de sete meses de investigação, Adaylton Neiva foi preso terça-feira passada, em Picos, no Piauí, pra onde tinha fugido. O maníaco morava na cidade de Novo Gama, Goiás, e diz ter matado seis mulheres de setembro a dezembro do ano passado.
“Ele fala que agia sozinho, não agia com armas. Ele esgana as vítimas”, contou o delegado Fabiano Medeiros de Souza.
Adaylton foi preso, pela primeira vez, em julho de 2000. Ele matou a mulher, que estava grávida de sete meses, e a enteada, de dez anos. O assassino mostrou para a polícia onde enterrou os corpos: no quintal da casa da família.
Em 2001, a juíza Rosângela Santos, de Goiás, decidiu soltá-lo. O prazo para que Adaylton fosse a julgamento tinha vencido. Segundo a juíza, por falha do Sistema Judiciário.
Logo depois de ganhar a liberdade, ele estuprou três mulheres. Voltou pra cadeia e foi condenado a 41 anos de prisão.
Em 2003, um laudo psicológico apontava que havia chance de Adaylton cometer novos crimes. Em 2004, os peritos consideraram que não havia melhora no quadro.
Quatro anos depois, uma mudança no diagnóstico. O preso, segundo um novo laudo, apresentava estabilidade emocional e nenhum distúrbio psicológico.
“Os psicólogos lá dentro iam só pra conversar: ‘E aí? Como você tá? Como tá lá dentro?’. Aí eu: ‘tá do mesmo jeito’”.
“O Adaylton jamais foi avaliado criteriosamente por profissionais da área de psicologia, psiquiatria”, afirmou o delegado Fabiano Medeiros de Souza.
Tentamos falar com os peritos. Ligamos para a Polícia Civil do Distrito Federal, secretaria de Segurança Pública, secretaria do Sistema Penitenciário e para a assessoria do Tribunal de Justiça, mas não tivemos retorno.
O juiz Osvaldo Tovani, que concedeu a Adaylton em 2008 o direito ao regime semiaberto, preferiu não comentar o caso.
Segundo a polícia, Adaylton aproveitou o direito de ficar fora da cadeia durante o dia para voltar a cometer crimes. Ivanilde Ribeiro, de 41 anos, foi uma das vítimas.
“Pra mim, ele devia estar preso e a minha mulher não tinha morrido. A minha Ivanilde não estava debaixo da terra”, desabafou o viúvo José Maria da Silva.
Em outubro do ano passado, Adaylton fugiu. Dois meses depois, ele matou Alessandra Rodrigues, de 14 anos. “Muito alegre, brincalhona, estudiosa”, lembrou Alexandre Rodrigues, pai de Alessandra.
Esta semana, o maníaco mostrou onde deixou o corpo de Alessandra. “Quando eu fui com a mão no pescoço dela, ela desmaiou. Eu só lembro que ela estava morta já”.
Dez dias antes de matar Alessandra, Adaylton assassinou outras duas mulheres no mesmo dia, uma pela manhã e outra à tarde. O crime foi próximo a um rio e a polícia ainda procura os corpos.
Como Adaylton conseguia atrair as mulheres? O que ele falava pra convencê-las? Esse é um mistério que a polícia ainda não tem resposta.
O maníaco diz ser viciado em drogas como maconha e crack e se considera um doente mental. “Eu preciso de um tratamento. Se eu sair desse jeito, eu vou matar”.
Mostramos os depoimentos para o psiquiatra Marcos Ferraz, professor da Unifesp, a Universidade Federal de São Paulo. “A capacidade de uma melhora radical que permita viver bem na sociedade é pequena”.
Para o médico, pessoas como Adaylton precisam passar por uma avaliação muito rigorosa. “O Judiciário tem que ter prudência nesses casos. Tem pessoas que tem distúrbio de personalidade extremamente grave e o beneficio da progressão pode causar risco à sociedade”.
Há três meses, na mesma região de Goiás, o pedreiro Ademar Silva foi preso e confessou o assassinato de seis jovens. Ele já tinha sido condenado por crimes sexuais e estava no regime semiaberto, apesar de um laudo indicar sinais de doença mental.
Ademar foi encontrado morto dentro da cela. “Está na hora da sociedade olhar mais pra esse tipo de pessoa, porque casos como este já aconteceram e até quando irão acontecer?”