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Nesta sexta-feira, 15 de agosto, completam-se 40 anos da construção da estátua de Nossa Senhora da Vitória, no Morro do Leme, em Oeiras.
Em 14 de agosto de 2019, o portal Mural da Vila publicou uma entrevista com o mestre de obras Geraldo Barros, que revelou detalhes do trabalho realizado para erguer um dos principais cartões-postais da cidade.
Hoje, aos 93 anos, o senhor Geraldo vive de forma tranquila, junto à família, lúcido e consciente, sentindo-se realizado por ter participado dessa obra que se tornou símbolo de Oeiras.
Para marcar as quatro décadas da estátua de Nossa Senhora da Vitória, o Mural da Vila republica essa entrevista como forma de homenagem a Geraldo Barros — um cidadão oeirense cuja trajetória guarda importante contribuição para o desenvolvimento e a história do município.
Confira a matéria originalmente publicada em 14 de agosto de 2019:
Mestre de obras conta como foi construída estátua de Nossa Senhora da Vitória no Morro do Leme em Oeiras
A estátua de 15 metros de altura teve como mestre de obras o senhor Geraldo Barros.
Inaugurada em 1985, com 15 metros de altura, a estátua Nossa Senhora da Vitória, foi erguida no Morro do Leme, na cidade de Oeiras e levou cerca de 03 anos para ser construída. Pode-se dizer que ela foi criada a seis mãos.
O trabalho de construção da imagem da Padroeira de Oeiras e do Piauí envolveu um engenheiro, um artesão e um mestre de obras, que comandou uma equipe de sete pessoas.
O mestre de obras é o Senhor Geraldo Barros, hoje com 87 anos que, em conversa com Lameck Valentim, conta detalhes da construção dessa obra que é um dos cartões postais de Oeiras.
Seu Geraldo Barros conta que logo que o então prefeito, B.Sá, teve a ideia de construir a estátua, ele foi convidado através do secretário de administração e finanças para comandar a obra.
Diante do desafio proposto, Seu Geraldo procurou conhecer todo o projeto para dar início aos trabalhos, começando por conversar com o engenheiro. Em seguida, foi até o Morro do Leme, para ver o local exato onde a estátua seria construída. Chegando ao local, encontrou um buraco de três metros quadrados, que ao olhar, percebeu ser muito raso para suportar a imagem, e logo procurou o engenheiro para dizer que precisaria ser aprofundado.
“Logo que o buraco foi aberto, uma forte chuva caiu sobre a cidade. Foi uma chuva torrencial. Logo que a chuva parou, fui ao Morro do Leme para ver como estava o buraco, pois acreditava que estaria cheio de água. Para minha surpresa ao chegar lá, o buraco estava completamente seco. Daí percebi que precisaria ser aprofundado. Procurei o engenheiro e disse isso a ele, que de início achou desnecessário, mas logo quando contei sobre a chuva e que não havia água no local, ele entendeu que eu estava correto e autorizou que eu fizesse o trabalho de aprofundamento”, relembra Seu Geraldo Barros.
Enquanto o buraco era aprofundado, Seu Geraldo Barros procurou conhecer o artesão que confeccionava os moldes da imagem para saber como iniciar os trabalhos. “O artesão, de nome Zequinha, era da cidade de Picos. Fui até lá para conhecimento dos detalhes de como as peças da imagem estavam sendo feitas e as dimensões para eu saber como começar o meu trabalho. Chegando lá, vi as peças enormes e vi a real dimensão da obra”, disse Seu Geraldo.
De volta a Oeiras Seu Geraldo conta que deu início aos trabalhos de fundação preparado o local. Ele disse que teve um cuidado especial, uma vez que o terreno do morro é todo de piçarra solta e as pedras são separadas. “Você observando outras partes do morro vai ver que existem muitas pedras que não são compactadas, é como se houvessem algumas fendas”. Relembra Seu Geraldo, dizendo que cavou ainda mais o local, até chegar a uma base mais firme, para então preparar a base com ferros e concreto. “A imagem está bem segura. A sua base é muito firme”, ressalta.
Após a base pronta, novamente o mestre de obras discordou do engenheiro que queria que a estátua fosse construída no piso do morro. “Falei pra ele que era necessário fazer um pedestal, e não deixar a estátua no mesmo nível do morro”, afirma. O engenheiro permitiu que o pedestal fosse construído, com cerca de dois metros de altura.
Seu Geraldo conta que para as obras foi construído uma espécie de bonde que levava o material de baixo para a parte superior do morro, mas que em muitos momentos o material era transportado pelos próprios trabalhadores. “Construímos esse bonde para facilitar o transporte do material. O bonde era feito à base de cabos de aço e duas bases de madeiras, uma na parte de baixo e outra na de cima. Uma caçamba transportava o material, mas em muitos momentos os próprios trabalhadores subiam com o material nas costas. Lembro de que o Teodoro Batista chegava a subir as escadas com até dois sacos de cimento nos ombros”, afirma Seu Geraldo, ressaltando a grandeza do trabalho feito em uma época em que a cidade não dispunha de muitos recursos de engenharia.
Ainda sobre a questão dos recursos, seu Geraldo afirma que não existiam equipamentos de segurança e os funcionários trabalhavam basicamente seguros por cordas. “Montamos os andaimes, de madeira e os funcionários ficavam seguros basicamente por cordas. O concreto era passado de um funcionário para o outro, até chegar à parte superior do andaime, para assim ir preenchendo os espaços”.
Seu Geraldo diz ainda não saber com precisão quantos sacos de cimento foram usados para a construção da imagem. “Não sei dizer quanto foi gasto na obra. O secretário de finanças da época apenas enviava o material e eu não tinha tanta proximidade com ele. Esses números somente ele poderia dizer”.
O mestre de obras conta que durante as obras por diversas vezes chegou a pensar em abandonar os trabalhos por desentendimentos com setores da administração. “Fui muito maltratado durante as obras da estátua e por isso pensei em muitos momentos em deixar os serviços. Uma vez cheguei a reunir os funcionários e fomos conversar com o prefeito B.Sá para contar as nossas insatisfações e entregar o serviço. Mas depois de uma conversa resolvemos continuar, mesmo não satisfeito com a forma que era tratado, e assim terminamos a obra”.
Questionado como foi a sua emoção no dia em que a estátua foi inaugurada, seu Geraldo é bem objetivo: “Nenhuma! Depois de tudo que passei, como a forma que fui tratado, não consegui sentir emoção no dia da inauguração.”
Seu Geraldo conta ainda, que na etapa final, por conta dos desentendimentos, foi afastado das obras, não conseguindo fazer os acabamentos. “Se você observar com detalhes verá que a obra possui falhas de acabamentos. É uma obra segura, bem feita. No morro venta muito, mas a estátua é segura, mas possui problemas no acabamento. Isso aconteceu por que fui afastado no final e os acabamentos foram feitos por um vigia do morro que foi posto em meu lugar”, ressalta.
Perguntado se após passados muitos anos da construção da imagem, qual a sensação que ele tem ao olhar para a mesma, ele diz que pouca coisa mudou: “Sinto feliz por ter contribuído para a construção de um dos cartões postais da nossa cidade, mas não consigo ter grandes emoções, pois lembro de tudo o que passei”.
O Morro do Leme e a Estátua de Nossa Senhora da Vitória continuam sendo um lindo cartão postal da cidade, contudo, talvez pela grande escadaria e a falta de infraestrutura, é pouco procurado pelos habitantes da cidade e pelos visitantes, ficando sua movimentação restrita praticamente aos dias de festejos religiosos no local.