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Carlos Rubem
O meu avô paterno, Nataniel de Sousa Reis, conhecido por Natu, foi essencialmente fazendeiro. Constituiu numerosa prole. Os seus dois filhos mais velhos, Joaquim e Miguel, ainda imberbe, passaram a trabalhar. Antanho, toda criança tinha que aprender um ofício. Tornaram-se caixeiro da loja de tecidos do Sr. Elias Carvalho. Em 1939, o velho Natu comprou aquele estabelecimento mercantil. Joaquim e Miguel tornaram-se sócio da empresa que foi denominada Estabelecimento N. Reis & Sucessores. Prosperaram. Construíram próprio situado na rua da Feira.
Somente em 1985, muito tempo depois da morte do meu avô, os seus filhos, já beneficiários da Previdência Social, acharam por bem separar a sociedade empresarial. Cada um criou suas firmas. Dividiram o estoque e o prédio em partes iguais. Mas permaneceu a amizade fraternal...
Nesta nova etapa, tio Miguel Reis, muito simpático, que já contava com mais de 65 anos de idade, transformou seu espaço de trabalho em ponto de encontro de antigos amigos que, diariamente, por lá apareciam. Formava-se enorme roda. Contavam episódios pessoais, políticos e sociais de suas épocas. Relatavam suas andanças e aventuras. Discutiam sobre tudo, enfim. Frequentemente, irrompiam gargalhadas. Vez por outra, dois dos convivas, Oliveira Sinimbú e João Mariano tinham comportamentos singulares. O primeiro fazia reparos dos fatos narrados, enquanto o outro, muito discreto, nada falava, apenas esboçava seu sorriso maroto!...
Muito curioso, eu gostava de participar daquela grei. Permitam-me sintetizar três distintas histórias que presenciei ou ouvi naquele ambiente da boca dos seus protagonistas: Miguel, Zeca Amorim e Amadeuzinho Reis (irmão do primeiro).
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Certa feita, Miguel, que estava, confortavelmente, sentado numa cadeira de espaguete na sua loja, quando lá adentrou uma senhora muito bem vestida, fornida, bonitona. Tratava-se de uma conterrânea de meia idade, da região da Briona, que há décadas morava em São Paulo. Ao vê-la à contraluz, Miguel se espantou. Fitava a freguesa da cabeça aos pés, a qual tinha um farto par de ancas. Tirou e colocou seus óculos na tentativa de reconhecê-la. Demonstrando sua natural solicitude, resolveu atendê-la, mas sempre com o rabo de olho em direção ao proeminente decote dela.
Em dado momento, a insinuante figura, exageradamente maquiada, carregando o absorvido sotaque sulista, indagou-lhe se não estava lembrado de sua pessoa. Ao declinar o seu nome, Miguel abraçou-a ternamente. Muito engraçado o arroubo do reencontro de ambos. Conversa vai, conversa vem, Miguel, para tirar persistente dúvida, fez-lhe uma pergunta sem maiores arrodeios: – Foi você ou a sua irmã que eu “prejudiquei”?.
Ante a confirmação positiva, Miguel revelou-me um segredo. “Meu sobrinho, esta aqui é meia-sola!”. “Como assim?”, redargui. Em seguida, esclareceu: “Esta mulher me deu o maior trabalho para eu quebrar o cabaço dela”. Na euforia em que se encontravam, tiraram casquinha um do outro!...
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José Roberto de Amorim, ou simplesmente Zeca Amorim, casou-se no dia 10 de novembro de 1937, com pompas e circunstâncias, com Petronila Rêgo Amorim (Dona Petinha), na data do aniversário da nubente. Ambos musicistas. Ele, porém, nunca deixou a vida boêmia...
Numa dessas conversas, Zeca Amorim, sempre muito falante, contou o seguinte: lá pelos anos cinquenta, ele e alguns amigos foram animar uma festa em Valença do Piauí. Assim que entrou no club onde se realizou o baile, Zeca cruzou olhar com uma senhora muito traquejada que estava sentada ao lado do seu marido, já necroqué. Rolou instantâneo clima entre ambos. Na hora em que os casais dançavam em grande quantidade, ele que, nesta altura, tocava saxofone, foi ao centro do salão para solar “Marina” bem pertinho daquela Deusa. Ela dava sinais de que estava gostando de ser cortejada. Quando do intervalo, Zeca notou que o marido já estava embriagado. Deu um jeito de trocar algumas palavras com a sua paquera. Combinaram encontrar-se na residência da mesma logo que a orquestra reiniciasse a brincadeira. Ele, muito esperto, sugeriu um código. Se houvesse uma vela acesa na janela da casa, era sinal livre de que o esposo já estaria dormindo.
Zeca Amorim, experiente nestas aventuras, acertou em cheio a residência de sua novel eleita. O lumiar era perceptível de longe. Na maior tranquilidade chegou aos aposentos da matrona. A refrega sexual foi uma maravilha, nem se lembraram que o tempo corria.
Muito depois de ter-se encerrada a festa, o casal de amantes ouviu o tocar de uma tuba. Era Zé da Guia que resolveu localizar o Zeca. Os seus parceiros estavam há quase duas horas esperando o treloso Zequinha em cima de um caminhão para empreenderem viagem de retorno a Oeiras. Quando o saciado de amor estava em cima da carroceria, Levi Tabaqueiro, pistonista de escol, deu a maior bronca. Disse que quem primeiro viu aquela atraente dama fora ele. “Mas você não soube se arriscar como eu!”, retrucou Zeca Amorim para risos generalizados.
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O Oeiras Club, até os primeiros anos da década de sessenta, funcionava na Rua da Feira. Lá, o carteado corria solto entre uma seleta plêiade de senhores da cidade. O tapete verde era alumiado à base de petromax. Dentre os participantes, Amadeuzinho Reis destacava-se por ser cigogueiro. Era muito ansioso, tremia quando estava armado para bater. Determinada noite, estando de azar, perdeu todo o dinheiro do bolso, e não foi pouco!
Já passava das duas horas da manhã quando deixou aquele ambiente. A lua cheia clareava a silente madrugada. Ao sair porta afora, avistou ao largo do Mercado Público uma “curica” em passos ligeiros. Deu-lhe psiu!... A cabrocha estacou. Então, Amadeuzinho foi ao encontro dela. Sem maiores cerimônias, acertaram participar de um congresso genésico debaixo de um tamarindeiro, às escuras, existente no Condado. Antes mesmo de saírem, encostou a morena contra uma das portas da então famosa Casa da Sinceridade, pertencente ao Sr. Antônio Carvalho, situada numa esquina do Mercado. Levantou a criola pelas pernas e aplicou-lhe “facada” de baixo para cima. Quando terminou o serviço, sequer podia caminhar, pois suas pernas tremelicavam. Sentou-se na calçada daquele equipamento comunitário para recobrar suas forças e, ao mesmo tempo, a “nega” agachou-se para mijar. Nesta hora, Antônio Grande, guarda noturno do Armazém Bela Aurora, do Sr. Mário Freitas, que se dirigia ao Oeiras Club para tomar um cafezinho, como de costume, viu aquela cena insólita. De longe pigarreou... A mulata se assustou, saiu correndo em direção oposta. De si para consigo, Amadeuzinho achou foi bom, pois se livrou dar-lhe algum trocado!
Em seguida, ficou a imaginar a briga que sua esposa Zelinda iria fazer quando ele chegasse em casa. Depois de muito meditar – qualquer hora que adentrasse ao seu lar iria ter mesmo confusão – resolveu voltar ao “gramado”. Pediu dinheiro emprestado a Antônio Dentinho, arrendatário do bar, e passou novamente a jogar. Agora, a sorte lhe bafejava. Ganhou quase todas as paradas. Recuperou o dinheiro perdido e capitalizou muito mais ainda. Na euforia em que se encontrava, Dr. Paulo de Tarso Ribeiro Gonçalves, respeitável médico, indagou-lhe o que havia ocorrido com ele para obter aquela façanha. “É que fui calibrar os nervos”, justificou, descrevendo as delícias de que há pouco usufruíra.