
Oeiras de luto

(*) Por Ferrer Freitas
Mestre Arimathéa Tito Filho gostava de dizer que as cidades têm alma e jeito próprio de ser. Muitas são alegres, expansivas... Outras são fechadas, ensimesmadas... Para mim elas são, na realidade, sua gente, o citadino, enfim o que ali vive no dia-a-dia, corroborando aqui o lema de um prefeito de Teresina, “a cidade é o povo”. Este introito é justo para dizer que Oeiras está de luto pelo falecimento há sete dias de uma oeirense de excelsas virtudes, Ana Romana de Holanda Barroso, perda irreparável para a primeira capital. Para a comunidade então nem se fala, já que se tratava de alguém que viveu toda sua vida dedicada aos mais carentes.
Vi-a, pela última vez, quando das comemorações dos 90 anos de minha mãe, Lilásia, ou ainda Lalá, como também é conhecida, há pouco mais de um ano. Era amigas incondicionais, com vários elos de ligação, entre eles a música. Dona Ana, pianista. Minha genitora, bandolinista. Havia ainda o de parentesco com meu saudoso pai, João Burane, de quem era prima em segundo grau, pois os avós, paterno (Silvino) do meu velho, e materno (Sílvio) de dona Ana, eram irmãos. Mas, do que gostávamos mesmo de conversar nos nossos reencontros era de duas idas sua ao Rio, acompanhada de seu esposo, dr. Raimundo Barroso, levados de carro pelo meu velho, isso nos anos sessenta, ao tempo do Estado da Guanabara. Que alegria recebê-los, eu e nossa prima comum, Isabel de Freitas Lima, que lá residia há muitos anos.
Já a lembrança mais antiga que guardo dela é a de professora do Grupo Escolar Armando Burlamaqui, recém-formada. Isso por que, mesmo eu morando em casa bem próxima da outra unidade, o Costa Alvarenga, com somente a Praça da Bandeira a separar. minha madrinha e espécie de preceptora, Mimbom, não abria mão de que fosse aluno de Doninha Feitosa, como era conhecida de todos a mestra Eva das Neves Feitosa. Pois lembro de dona Ana, ainda muito nova, se iniciando no magistério. Depois, contraiu matrimônio com dr. Raimundo Barroso, farmacêutico, cidadão pacato e extremamente educado, que exerceu o cargo de vice-prefeito de Oeiras e presidente da Câmara Municipal. Do consórcio nasceram os seguintes filhos: Gemma Galgani, Ana Elisa, Hélio, Marcos (falecido) Andreia, Raimundo Junior e Ana Maria. Dou-me muito bem com todos, que me tratam com carinho e amizade, naturalmente por verem e sentirem a forma lhana que me dispensava a querida dona Ana e dispensa o dr. Raimundo. Sei da dor lancinante da perda do Marcos! Como disse certo compositor em belíssima letra de música , “...é a vida, é a vida!”
Dona Ana Romana de Holanda Barroso, pelo exemplo de vida e ações benfazejas aqui na terra não precisou pedir licença para entrar no Páramo Celestial. Com certeza São Pedro disse-lhe o mesmo que disse a Irene dos versos de Bandeira: “pode entrar dona Ana, a senhora não precisa pedir licença!”
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras