Estudantes do IFPI – Oeiras conquistam 33 medalhas na OlimpÃada Brasileira de Geografia 2024
06/09/2024 - 17:04A competição, que envolveu 12.400 equipes de todo o Brasil, das quais 489 representavam o PiauÃ.
Na lÃngua guarani, "Guatã" ou "gwata" remete a conceitos como viajar e movimentar-se. Tradicionalmente, entre os povos indÃgenas do Brasil, a locomoção se dava principalmente a pé, fazendo com que o termo também seja interpretado como andar ou caminhar. Com a evolução dos meios de transporte, o significado do termo se expandiu, abrangendo agora viagens de avião, permitindo que os indÃgenas alcancem lugares distantes, incluindo transatlânticos.
No mês de setembro, oito doutorandos indÃgenas brasileiros embarcarão em uma jornada rumo à França, onde participarão de um intercâmbio em universidades locais, com uma duração que varia de seis a dez meses. Entre eles, encontram-se dois representantes guarani (nhãndeva e kaiowá), dois terenas, assim como membros das comunidades pipipã, xokleng, tupinambá de Olivença e trumai.
A estudante guarani nhãndeva, Maristela Aquino, de 44 anos, reside em Dourados (MS) e é bilÃngue em guarani e português. Apesar de suas limitações, ela está determinada a aprender francês, a lÃngua do paÃs onde ficará durante seu intercâmbio na Universidade Paris 8. "Je m’appelle Maristela... Ça va?" [Me chamo Maristela. Como vai?], diz ao se apresentar a uma comitiva francesa.
Maristela cresceu nas aldeias guarani e trilhou um caminho acadêmico desafiador. Apesar das adversidades, formou-se em pedagogia e é uma ativa defensora da cultura e da educação indÃgena. "O que me amparava era a minha cultura e a luta do meu povo, assim como o referencial curricular nacional para as escolas indÃgenas", ressalta.
Após concluir sua graduação, Maristela optou por um mestrado na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), onde estuda antropologia e propõe alternativas de agroecologia visando combater a insegurança alimentar nas aldeias. Sua luta ativa por um território digno, com acesso à água e plantas nativas, destaca como as comunidades indÃgenas enfrentam desafios diários, resultado de uma longa história de degradação ambiental.
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Idjahure Kadiwel, de 34 anos, traz uma experiência distinta. Filho do ator indÃgena Mac Suara Kadiwel, Idjahure nasceu no Rio de Janeiro e, aos 18 anos, decidiu se reconectar com suas raÃzes terena e kadiwéu. Em sua tese na Universidade de São Paulo (USP), ele pretende explorar a tradição de canto dos terena, conectando-a a tradições similares de outros povos indÃgenas na Amazônia.
Esta não é a primeira vez que Idjahure vive uma experiência de intercâmbio na França, onde já esteve anteriormente. O acadêmico está entusiasmado com a oportunidade de estreitar laços entre as comunidades indÃgenas brasileiras e pesquisadores europeus, trazendo à tona a rica produção intelectual e cultural indÃgena.
O programa Guatã, iniciado no ano passado, já enviou alunos para o intercâmbio na França e conta com a participação de universidades brasileiras renomadas. A adida para Ciência e Tecnologia do Consulado da França, Nadège Mézié, explicou que o programa é estruturado como um doutorado sanduÃche, com grande liberdade de escolha de seminários e aulas para os estudantes.
As universidades também oferecem suporte a cursos de francês básico antes da partida, possibilitando que os alunos se preparem para a imersão na cultura francesa e aproveitem melhor a experiência. Essa sinergia entre os saberes indÃgenas e a academia europeia é vista como uma oportunidade valiosa para todos os envolvidos.
A professora Delphine Leroy, responsável pela supervisão de alguns dos doutorandos, enfatiza a importância de receber esses estudantes nas universidades francesas, pois promove um intercâmbio de saberes diverso e enriquecedor. Essa troca de experiências é fundamental para uma educação mais inclusiva e consciente das realidades globais.
O programa Guatã não apenas fortalece os acadêmicos indÃgenas, mas também gera uma onda de conhecimento que poderá impactar positivamente a academia e a sociedade como um todo.