Religião
Tradição e fé caminham sob chuva em Oeiras na procissão de Bom Jesus dos Passos
Tradição que atravessa gerações une fiéis em oração, cânticos e emoção pelas ruas da cidade histórica.
Por: Da Redação em 11/04/2025 - 21:01
Na tarde desta sexta-feira, 11, Oeiras foi mais uma vez tomada por um mar de devoção. A Procissão de Bom Jesus dos Passos, expressão profunda da fé do povo piauiense, reuniu milhares de fiéis pelas ruas centenárias da cidade. No compasso dos cânticos e orações, uma tradição viva ganhou forma entre passos lentos e corações em silêncio.
A imagem do Bom Jesus dos Passos permanecia desde a noite anterior na igreja de Nossa Senhora do Rosário. O templo, envolto pelo silêncio absoluto dos fiéis, tornou-se espaço de vigÃlia e contemplação, onde a presença sagrada era sentida em cada suspiro.
Ao meio-dia, o OfÃcio ao Bom Jesus dos Passos elevou-se como um hino ancestral. Entre vozes que reverberam desde tempos imemoriais, o nome sagrado ecoou mais de cem vezes, como se cada menção fosse um degrau na escada da fé.
A procissão começou com o sol já ameno, quando mãos piedosas ergueram o andor. A imagem desceu pelas ruas de paralelepÃpedos e pedras, onde os passos encontram história a cada esquina. Em cada Passo, a Maria Beú entoava seu canto e o Miserere era entoado, enquanto o incenso se espalhava no ar como prece invisÃvel. A cada canto, a voz da tradição dava forma à dor, à esperança e ao mistério.
Durante o percurso, uma forte chuva surpreendeu os fiéis, provocando dispersão momentânea da multidão. Mas, passada a chuva, a fé se reagrupou. Os fiéis voltaram a se reunir, com roupas encharcadas, mas com o espÃrito firme, e a procissão seguiu seu caminho com ainda mais intensidade e comoção.
No encontro entre o Bom Jesus e Nossa Senhora das Dores, em frente à Sede do Poder Municipal, o Sermão do Encontro proferido por Dom Pedro Brito Guimarães, bispo emérito da Arquidiocese de Palmas (TO), ressoou como um abraço entre o sofrimento e a compaixão. Era o Filho e a Mãe, retratados no coração de um povo que compreende a cruz não como fim, mas como passagem.
Entre os Passos, o do Engano guardava seu gesto mais simbólico: a imagem que gira três vezes em torno de si mesma, gesto que fala sem palavras, rito que transcende o tempo. E então, sob o cair da noite, a procissão chegou à Igreja Catedral. O povo seguia em silêncio, guardando no peito aquilo que não se explica — apenas se sente.
Em Oeiras, o sagrado não é lembrança. É presença. E a cada Semana Santa, a fé caminha com o povo — mesmo sob chuva — pelas ruas da cidade onde tudo começou.



















