
Ainda vivemos as mazelas da escravidão

* Por Francisco Petrônio
Mesmo se passando quase 130 anos da abolição da escravidão, o Brasil continua vivendo a tragédia desse passado sombrio.
Esses dias fomos surpreendidos (ou não!) com os números do raio-X da violência. Segundo dados do IPEA 2017 (Instituto de pesquisa Econômica Aplicada) a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. O mesmo atlas divulga que os negros possuem 23,5% de chances de serem assassinados em relação a outras raças, já descontando o efeito da idade, escolaridade, sexo, estado civil ou bairro de residência. Isso evidencia o quanto ser negro no Brasil ainda é desafiador.
Embora os negros tenham ganhado espaço e um relativo avanço, no que diz respeito a inserção social e econômica (não sem muita luta), o que se percebe é que os números ainda estão longe de serem satisfatórios, muito pelo contrário. Isso remete a um processo de abolição em que o negro não foi pensado como cidadão, sendo marginalizado socialmente, sem a devida possibilidade de emancipação. Fatos esses que tem ligação direta com os dados calamitosos apresentados essa semana. Vivemos um genocídio velado de negros no Brasil, uma disseminação das mazelas da escravidão.
Diante de tais informações, se torna evidente a necessidade de manter e ampliar as políticas de ações afirmativas, como forma de enfrentamento a essas desigualdades e com intuito de tentar incluir o negro num contexto social que possa favorecer ao menos a diminuição de números tão assustadores, que ainda impactam pela sua disparidade social. Na medida em que esses números estão diretamente ligados a escolaridade e condições sociais. É preciso manter o debate sobre o tema, para que esses dados apresentados não permaneçam apenas como números e se transformem em políticas públicas que verdadeiramente tenham um impacto positivo na vida da população negra no Brasil.
* Francisco Petrônio, Professor do Instituto Federal do Piauí-Oeiras