Amor Tardio

Por Milena Palha

Triste do coração que toca outros corações, mas não sabe o quanto tem. Triste do coração que em meio a tantas flores e carinhos não percebe os espinhos que crava no coração de alguém. Triste do coração que é cego e, em meio a tantas sutilezas, não percebe, não enxerga, ignora  e  despreza quem lhe faz delicadezas.

Infeliz daquela alma que cercada de cuidados, nunca olha para os lados e não vê quem lá está. Infeliz daquela alma que, vendo um amor a si dedicado sem querer retribuir, emudece, esquece, se afasta, ignora e devasta aquele amor que é por si. Infeliz daquela alma que não sabe converter esse amor em sentimento amigo, que lhe sirva de abrigo e de fiel devoção.



Como é vazio aquele ser que profere dos ensinamentos os mais belos, mas abriga em si o flagelo de falar e não fazer. Como dói aquele abraço que tão logo desfaz-se o laço, esquece quem afagou. Como é pobre o sorriso que toca o coração de quem viu, mas veio somente da boca, não passou sequer de longe no coração de quem sorriu.

Mais infeliz do que aquele que ama e não é amado, é aquele que amado não ama e só depois que já é tarde, na solidão em que arde vai perceber o amor que tinha.




Trecho do livro Pegadas no Tempo - Prosa - Autora: Milena Palha


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