Incêndio destrói cozinha em residência do conjunto Verde Teto em Oeiras
25/04/2024 - 10:13ntervenção rápida do Corpo de Bombeiros evita que o fogo se alastre, preservando vidas e propriedade.
Na manhã deste sábado, 19, O Museu de Arte Sacra de Oeiras – MAS foi presenteado pelo casal Teresa Gonçalves Mendes de Carvalho e Dr. Darcy Mendes de Carvalho ( in memorian) com um quadro de pintura cuzquenha de autoria do artista plástico Costa Andrade.
A obra destaca a imagem de Nossa Senhora da Vitória ao fundo da procissão do Fogareu. Também estão retratados os rostos de algumas pessoas conhecidas daqui de Oeiras.
A arte cuzquenha versa sobre temas sacros, e o seu estilo típico se caracteriza pelo uso de cores quentes, pelo interesse na beleza das formas, pelo requintado detalhe de caráter ornamental e pela desproporção dentre as figuras centrais dos santos e anjos em relação às pessoas comuns que podem ser representadas junto com eles.
O quadro foi entregue ao Museu de Arte Sacra numa solenidade simples, da qual participaram cerca de trinta pessoas, dentre elas o bispo D. Juarez, o padre João Francisco dos Santos e a diretora do Museu, Maria do Espirito Santo Marques.
Na ocasião, a senhora Teresa Gonçalves Mendes de Carvalho proferiu uma breve fala, abordando os aspectos da arte cuzquenha e narrando a trajetória do artista Costa Andrade.
Também foi lida a carta transcrita abaixo, dirigida à diretora do Museu pelo autor da obra.
Costa Andrade é um dos mais significativos representantes da arte sacra no Brasil. Nasceu em Simplício Mendes, viveu por muito tempo em Brasília e hoje está radicado em Palmas, capital do Tocantins, onde mantém atelier. Suas obras estão expostas nas mais importantes galerias do Brasil. Costa Andrade é também o escultor da estátua do Bom Jesus dos Passos, erguida no cume de um morro da entrada de Simplício Mendes.
Ilma. Sra. Maria do Espírito Santo Marques – Diretora do Museu de Arte Sacra de Oeiras – MASO e toda a equipe.
Penso que fazer Arte, conviver com cultura, é como respirar o próprio oxigênio e, parodiando os versos do poeta, digo comigo que... fazer é Arte é preciso, viver sem arte não é preciso! Reflexo inquestionável de uma criação que meus pais, dois filhos da terra que a amavam e a cultuavam acima de tudo, moldaram em todos os seus 10 filhos, dos quais dois labutam na área das artes visuais, este que ora vos escreve e minha irmã Josélia Costandrade.
O meu pai, José Severiano da Costa Andrade, era Poeta, dos bons. Ainda rapaz, tomado de sonhos e ideais, chegou em Salvador, com a missão de vencer curso universitário e o desejo íntimo de dar vazão à veia artística que permeia o DNA de nossa gente. Na Boa Terra, foi amigo e parceiro de militância política e cultural de um jovem que já se anunciava como um dos mais notáveis escritores brasileiros de todos os tempos. Jorge Amado, o companheiro das tertúlias literárias e atividades políticas, com quem meu pai fundou a Academia dos Rebeldes na Bahia de Todos os Santos, abraçou o mundo, tornou-se o autor mais lido do Brasil e uma das personalidades nacionais mais marcantes do século XX. E aquele poeta, que depois de cumprir a missão, regressou aos sertões de dentro e nunca mais reencontrou o amigo, também ganhou o mundo, carregado pelo escritor famoso nas páginas de suas obras.
A cidade de Oeiras, eu confesso, sempre povoou o meu imaginário. Sempre me senti como um dos seus moradores. Trago- a permanentemente em meu coração. A velha urbe está ligada a mim por sua história, pelo seu inestimável patrimônio Barroco ainda conservado, pelo seu casario colonial. E também pela poesia. O poema A Carnaubeira da Praça de Oeiras “ foi composta por meu pai quando eu, lá na pequena e afável Simplício Mendes, tinha distantes quatro meses de idade:
A CARNAUBEIRA DA PRAÇA DE OEIRAS
Outrora...imprecações, pranto, suspiro e quanta
Aflição presenciou, no cárcere da praça!
Agora... – em sua fronde há um bem-te-vi que canta
E, em derredor, jardim, encantamento, graça!
É a mão de Deus que a terra amesquinha ou agiganta
E, através da palmeira, aos nossos olhos traça
O contraste, o milagre a que nada suplanta
Na cidade imortal, onde glórias consagra!
Das carnaubeiras ungindo as semi humanas raízes,
Com o desespero e a dor daqueles infelizes
Detidos no presídio em que a plantaram outrotra
Fê-la, um dia, chorar... e as lágrimas de cera,
Criaram, neste torrão da terra brasileira,
A riqueza e o vigor com que se atesta agora!
Também tenho Oeiras em minha alma e em minha mente por nela residirem os meus queridos tios Teresinha Gonçalves Mendes de Carvalho e o saudoso Dr. Darcy Mendes de Carvalho.
Meus tios sempre foram um marco e exemplo, bem como apoio para toda a família. O meu primeiro quadro vendido ao estado do Piauí foi por eles adquirido. Trata-se de uma tela com moldura também por mim confeccionada, com o tema de “ Nossa Senhora da Conceição”. Esse quadro adorna a residência do casal aí em Oeiras.
Aqui me demorarei mais na figura impar de tia Teresinha, pessoa sensível, de formação cultural ampla e generosa, que a partir desta encomenda passou a ser uma vitrine de meus trabalhos e a minha principal multiplicadora, contatando vário de meus conterrâneos. A partir de sua indicação, eu recebi muitas encomendas de trabalho aí do Piauí. Por meio de sua indicação, posso dizer que passei a existir no Piauí .
Digo sempre que a Arte existe somente por e através do olhar do espectador. Estes sim são os verdadeiros incentivadores e guardiões do produto final do trabalho do Artista, pois sem as necessárias vendas, não se teria como desenvolver e continuar na lida.
Não faz mais de um ano que fui a Oeiras, levado por tia Teresinha, que me incentivou e me apoiou como sempre, fazendo com que eu viesse a viver um momento impar em minha vida, qual foi expor num belo casarão em frente à “Carnaubeira” fonte de inspiração ao meu querido pai, bem como fazer novas amizades.
Senhora, concluo que o quadro, ora doado ao Museu de Arte Sacra de Oeiras, no dia 7 de agosto de 2015, aniversário de minha querida Tia, vem a ser tão verdadeiramente uma doação deste casal por mim tão querido, por tudo que fizeram e tem feito pelo meu trabalho, bem pela vivência exemplar em todos esses anos de compromisso e seriedade para com a bendita e invicta Oeiras, cabendo a mim tão gloriosamente da obra doada ser o Autor.
Atenciosamente,
Palmas, 5 de agosto de 2015.
Costa Andrade