Geral
Arte Cuzquenha integra o acervo do Museu de Arte Sacra de Oeiras
Por: Da Redação em 21/09/2015 - 12:18
Na manhã deste sábado, 19, O Museu de Arte Sacra de Oeiras – MAS foi presenteado pelo casal Teresa Gonçalves Mendes de Carvalho e Dr. Darcy Mendes de Carvalho ( in memorian) com um quadro de pintura cuzquenha de autoria do artista plástico Costa Andrade.
A obra destaca a imagem de Nossa Senhora da Vitória ao fundo da procissão do Fogareu. Também estão retratados os rostos de algumas pessoas conhecidas daqui de Oeiras.
A arte cuzquenha versa sobre temas sacros, e o seu estilo típico se caracteriza pelo uso de cores quentes, pelo interesse na beleza das formas, pelo requintado detalhe de caráter ornamental e pela desproporção dentre as figuras centrais dos santos e anjos em relação às pessoas comuns que podem ser representadas junto com eles.
O quadro foi entregue ao Museu de Arte Sacra numa solenidade simples, da qual participaram cerca de trinta pessoas, dentre elas o bispo D. Juarez, o padre João Francisco dos Santos e a diretora do Museu, Maria do Espirito Santo Marques.
Na ocasião, a senhora Teresa Gonçalves Mendes de Carvalho proferiu uma breve fala, abordando os aspectos da arte cuzquenha e narrando a trajetória do artista Costa Andrade.
Também foi lida a carta transcrita abaixo, dirigida à diretora do Museu pelo autor da obra.
Costa Andrade é um dos mais significativos representantes da arte sacra no Brasil. Nasceu em Simplício Mendes, viveu por muito tempo em Brasília e hoje está radicado em Palmas, capital do Tocantins, onde mantém atelier. Suas obras estão expostas nas mais importantes galerias do Brasil. Costa Andrade é também o escultor da estátua do Bom Jesus dos Passos, erguida no cume de um morro da entrada de Simplício Mendes.

.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
Ilma. Sra. Maria do Espírito Santo Marques – Diretora do Museu de Arte Sacra de Oeiras – MASO e toda a equipe.
Penso que fazer Arte, conviver com cultura, é como respirar o próprio oxigênio e, parodiando os versos do poeta, digo comigo que... fazer é Arte é preciso, viver sem arte não é preciso! Reflexo inquestionável de uma criação que meus pais, dois filhos da terra que a amavam e a cultuavam acima de tudo, moldaram em todos os seus 10 filhos, dos quais dois labutam na área das artes visuais, este que ora vos escreve e minha irmã Josélia Costandrade.
O meu pai, José Severiano da Costa Andrade, era Poeta, dos bons. Ainda rapaz, tomado de sonhos e ideais, chegou em Salvador, com a missão de vencer curso universitário e o desejo íntimo de dar vazão à veia artística que permeia o DNA de nossa gente. Na Boa Terra, foi amigo e parceiro de militância política e cultural de um jovem que já se anunciava como um dos mais notáveis escritores brasileiros de todos os tempos. Jorge Amado, o companheiro das tertúlias literárias e atividades políticas, com quem meu pai fundou a Academia dos Rebeldes na Bahia de Todos os Santos, abraçou o mundo, tornou-se o autor mais lido do Brasil e uma das personalidades nacionais mais marcantes do século XX. E aquele poeta, que depois de cumprir a missão, regressou aos sertões de dentro e nunca mais reencontrou o amigo, também ganhou o mundo, carregado pelo escritor famoso nas páginas de suas obras.
A cidade de Oeiras, eu confesso, sempre povoou o meu imaginário. Sempre me senti como um dos seus moradores. Trago- a permanentemente em meu coração. A velha urbe está ligada a mim por sua história, pelo seu inestimável patrimônio Barroco ainda conservado, pelo seu casario colonial. E também pela poesia. O poema A Carnaubeira da Praça de Oeiras “ foi composta por meu pai quando eu, lá na pequena e afável Simplício Mendes, tinha distantes quatro meses de idade:
A CARNAUBEIRA DA PRAÇA DE OEIRAS
Outrora...imprecações, pranto, suspiro e quanta
Aflição presenciou, no cárcere da praça!
Agora... – em sua fronde há um bem-te-vi que canta
E, em derredor, jardim, encantamento, graça!
É a mão de Deus que a terra amesquinha ou agiganta
E, através da palmeira, aos nossos olhos traça
O contraste, o milagre a que nada suplanta
Na cidade imortal, onde glórias consagra!
Das carnaubeiras ungindo as semi humanas raízes,
Com o desespero e a dor daqueles infelizes
Detidos no presídio em que a plantaram outrotra
Fê-la, um dia, chorar... e as lágrimas de cera,
Criaram, neste torrão da terra brasileira,
A riqueza e o vigor com que se atesta agora!
Também tenho Oeiras em minha alma e em minha mente por nela residirem os meus queridos tios Teresinha Gonçalves Mendes de Carvalho e o saudoso Dr. Darcy Mendes de Carvalho.
Meus tios sempre foram um marco e exemplo, bem como apoio para toda a família. O meu primeiro quadro vendido ao estado do Piauí foi por eles adquirido. Trata-se de uma tela com moldura também por mim confeccionada, com o tema de “ Nossa Senhora da Conceição”. Esse quadro adorna a residência do casal aí em Oeiras.
Aqui me demorarei mais na figura impar de tia Teresinha, pessoa sensível, de formação cultural ampla e generosa, que a partir desta encomenda passou a ser uma vitrine de meus trabalhos e a minha principal multiplicadora, contatando vário de meus conterrâneos. A partir de sua indicação, eu recebi muitas encomendas de trabalho aí do Piauí. Por meio de sua indicação, posso dizer que passei a existir no Piauí .
Digo sempre que a Arte existe somente por e através do olhar do espectador. Estes sim são os verdadeiros incentivadores e guardiões do produto final do trabalho do Artista, pois sem as necessárias vendas, não se teria como desenvolver e continuar na lida.
Não faz mais de um ano que fui a Oeiras, levado por tia Teresinha, que me incentivou e me apoiou como sempre, fazendo com que eu viesse a viver um momento impar em minha vida, qual foi expor num belo casarão em frente à “Carnaubeira” fonte de inspiração ao meu querido pai, bem como fazer novas amizades.
Senhora, concluo que o quadro, ora doado ao Museu de Arte Sacra de Oeiras, no dia 7 de agosto de 2015, aniversário de minha querida Tia, vem a ser tão verdadeiramente uma doação deste casal por mim tão querido, por tudo que fizeram e tem feito pelo meu trabalho, bem pela vivência exemplar em todos esses anos de compromisso e seriedade para com a bendita e invicta Oeiras, cabendo a mim tão gloriosamente da obra doada ser o Autor.
Atenciosamente,
Palmas, 5 de agosto de 2015.
Costa Andrade