
As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão...

*Por Clara Failla
As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão...
Mas as coisas findas
muito mais que lindas
essas ficarão
(Drummond)
Aí está a sala de jantar da casa da minha Vó Ina. É janeiro de 1963. Júnior, filho dos tios Santa e Walter, faz dois anos. Não só as pessoas que amamos nos dizem o definitivo adeus, mas tudo o que vivia com elas.
A janela de vidraça e veneziana não existe mais, nem o lindo vaso em cima da cristaleira. Me parece que o móvel continua em alguma casa de Ouro Fino. Mas nada sei da mesa e das cadeiras.
Esse jeito de fazer aniversário das crianças também não existe mais. Agora, só super produções com animadores contratados.
O refrigerante era também local. Chamava-se Maçã. Tinha uma versão menor, o Maçãzinha. Tínhamos um jeito muito extravagante de tomá-lo. Nossos pais faziam um furo na tampa, usando um prego mesmo. E por esse furo bebíamos o líquido docinho, mais claro que guaraná. A primeira vez que tomei coca-cola cuspi fora... achei ruim demais... amarga! Pra piorar tinha cor de xarope pra tosse...
Os salgados, todos feitos em casa, eram colocados em grandes pratos de vidros, guardados com zelo pelas minhas tias. Todos presentes de casamento. Os copos coloridos de bordas douradas e as taças só saíam da cristaleira em ocasiões. Em festas de crianças, aniversários e batizados, de bebida alcoólica só licor. Pode-se ver à mesa, ao fundo, uma linda licoreira.
Só bebi duas vezes demais na vida: uma aos sete anos, no batizado de minha prima Regina Pellicano. Me embebedei com licor de jabuticaba sem que os adultos dessem conta. Fui pra rua e fiquei rolando pelo chão com vestido de festa pra horror da vizinhança. Outra, aos 14, numa festa de aniversário, também em Ouro Fino, da Rita, mulher do meu primo Ronaldo Pellicano. A bebida? Ponche. O que eu fiz? Dei ponto pra menino comprometido. Que coisa!!! Nunca mais bebi de ficar tonta!!! Medo de fazer loucuras...
* Clara Failla é jornalista de Brasília