
Café do Piauí

*Por Joca Oeiras
Para Paulo Moura
O melhor café que eu já tomei em toda a na minha vida é feito por Rita Gomes, proprietária, com o marido, do “Bar do Bené” situado aqui no (tombado) Centro Histórico de Oeiras. Já disse isto pra ela, sem favor nenhum.
Mas o que eu acho, ainda mais, relevante dizer é que, foi no Piauí que eu tomei os melhores cafés em bibocas de beira de estrada. E isto eu comecei a descobrir logo cedo, quando de minha viagem de Teresina a Oeiras, na, para mim, inesquecível, manhã do dia 27 de dezembro de 2002. Este café, do qual me lembro até hoje, foi tomado na parada que o ônibus da Líder fazia (não sei se ainda faz) em Elesbão Veloso.
A qualidade daquele café, tomado nas primeiras horas da manhã após uma noite mal dormida (por conta da expectativa de não perder o ônibus que saia da rodoviária de Teresina às 5h da manhã) me infundiu um ânimo novo e me ajudou a chegar em Oeiras bem mais disposto.
Acho bom eu explicar tanto entusiasmo por ter tomado, em Elesbão Veloso, um café tão decente. Talvez nem todo mundo saiba, mas sou nascido e criado na Terra do Café (São Paulo dá café/Minas dá leite e a Vila/Isabel, dá Samba- Grande Noel Rosa!). Quem conhece aquela terra, mormente a capital, onde nasci e vivi muitos dos meus 64 anos, sabe que são célebres e mui justamente celebradas as nossas padarias onde não falta, ainda bem cedo, um pão quentinho e crocante passado na manteiga e um café que, se não é igual ao de inebrianre perfume daquele da Rita Gomes, nada deixa a desejar em relação aos melhores cafés, acredito, em qualquer parte no mundo (só saí do Brasil para visitar Buenos Aires). É que, muitos anos atrás, quando as Viações de transporte coletivo interurbano ainda não tinham institucionalizado seus “Bus Stop” (onde hoje se come mal e caro, embora num ambiente sofisticado) era extremamente temerário arricar-se a tomar um café numa daquelas biroscas que beiravam as estradas de São Paulo para o Rio de Janeiro ou o interior de Minas Gerais (eu tinha parentes em Poços de Caldas-MG). Se algumas delas servissem água de batata, ainda assim, seríamos melhor servidos.
Bom, eu tenho medo de ser desacreditado ao contar uma história que aconteceu comigo num restaurante, até badalado, na época, e localizado bem no centro de São Paulo (Rua Augusta bem próximo à Praça Roosevelt). Por isso faço questão de contar esta história com riqueza dos detalhes.
Chamava-se “Cantina D’Amico Piolin” e o Google me informa que ainda existe e funciona, até hoje, no mesmo lugar (Rua Augusta, 311). Seja como for, da época que eu falo (final dos anos 60) poucas devem ser as testemunhas ainda vivas. Lembro-me, até hoje, que comi, muito bem por sinal, um prato denominado “Talharin a Parisiense” que consistia em macarrão ao molho branco misturado com ervilhas e peito de frango, salpicado com queijo ralado e levado ao forno para gratinar. Findo o repasto, raramente acontece isso (e, naquele tempo, o cafezinho era cortesia da casa) o garçon veio me oferecer um café e eu, antes de aceitar, perguntei, mais por blague do que por outra coisa, se o café era de hoje, no que recebi pronta resposta afirmativa.
– Você garante?, perguntei ainda. E ele garantiu.
Aceitei o café, tomei de um gole... e fui direto para o banheiro vomitar o meu outrora delicioso repasto. Só de lembrar isso me revolta! Mas deixa pra lá, não vale a pena chorar pelo macarrão vomitado.
Então, voltando ao Piauí do século XXI, devo dizer que acho que o piauiense, e não apenas a Rita Gomes, faz um café que “dá nos gostos”. Fico feliz também por isso!
Em tempo: Vale lembrar, e eu ia me esquecendo de dizer, que, com o advento da estrada que, já há alguns anos, liga Oeiras a Regeneração, a parada para o café e o pipi no trajeto entre Oeiras e a Cidade Verde ( e vice-versa) se dá agora em Água Branca, no simpático e democrático bar que é ornamentado por cartazes de candidatos de todos os partidos políticos sem discriminação de qualquer espécie. Lá, para variar, o café também é muito bom e eles têm um bolo frito “de primeira”, como bem lembrou, outro dia, o jornalista Mauro Sampaio.