
Carta Aberta à Coca-Cola Norsa
Recebi, através da jornalista Paula Dinau, Nota de Posicionamento assinado pela Assessoria de Imprensa da Norsa¬ dando conta de que entende que a Cajuína é um produto tradicional e admirado em alguns estados do Nordeste esclarecendo, ainda, que nunca teve a intenção de patentear o nome cajuína e que o uso da palavra cajuína na designação de sabor é absolutamente livre, não fazendo parte da marca ou de seu registro, no caso de Crush.
Agradeço a atenção a mim reservada, e, ao mesmo tempo, fico feliz por ter repercutido na empresa a minha (e de muitos outros) indignação.
Não há como deixar de reconhecer que são boas as intenções reveladas neste comunicado e, não nego, fico feliz com isso. Por outro lado, no entanto, permanece uma questão que, no meu modo de ver, é central: o fato da palavra Cajuína constar do rótulo da garrafa, além de toda a propaganda falando em Crush Cajuína, quando sabemos que, na verdade, o que existe na fórmula é suco de caju e guaraná.
Recordemos a definição de Cajuína que pedi emprestada da Wikipédia “Cajuína - é uma bebida típica do nordeste brasileiro, sem álcool, clarificada e esterilizada, preparada a partir do suco de caju, no interior da embalagem, apresentando uma cor amarelo-âmbar resultante da caramelização dos açúcares naturais do suco. Preparada de maneira artesanal, é muito comum nos estados do Ceará e Piauí. Foi inventada em 1900 pelo farmacêutico, cearense por adoção, Rodolfo Teófilo[1] (* Salvador, 6 de maio de 1853 / Fortaleza, 2 de julho de 1932) que pretendia com ela combater o alcoolismo.” Salta aos olhos que o refrigerante Crush Cajuína nada tem a ver com a cajuina cristalina em Teresina mas, justamente por isso que não pode ser denominado desta maneira.
Sei que o nome “Cajuína” é comercialmente forte mas ele o é, justamente, por ter a bebida uma profunda identidade cultural. Admitir que a palavra Cajuína seja utilizada “livremente” para designar uma bebida industrial que não é cajuína (que, alias, é fabricada artesanalmente) é o caminho mais rápido para banalizá-la, inclusive comercialmente.
Entendi, perfeitamente, que vocês não estão negociando nada, apenas esclarecendo equívocos, e que acham que a utilização da palavra cajuína é livre para quem quiser dela se apossar. Não posso concordar com isto e acho que é perfeitamente possível entrar na justiça para garantir a supressão da palavra cajuína tanto do rótulo como da propaganda do novo refrigerante, contra o qual nada tenho. Mas não acho correto que ele seja chamado, no rótulo e na propaganda (enganosa), de cajuína. Lembro, por exemplo, que durante anos a Sadia foi impedida de utilizar-se do nome “Presunto de Peru” e só começou a utilizá-lo após sentença judicial, neste sentido, transitada em julgado.
Por fim devo dizer que este “golpe publicitário” de chamar de Cajuína o que não é Cajuína pode sair pela culatra. Tenho muita curiosidade de saber que Agência de Publicidade possui a conta da Coca-Cola Norsa. Ela merece um bom puxão de orelhas.
A última palavra ainda não foi dada mas, por hora, me despeço com
Beijos e abraços
Do Joca Oeiras, o anjo andarilho