
Como é bom estar vivo

(*) Por Ferrer Freitas
A frase-título ouvi-a na festa comemorativa do aniversário de 80 anos de um conterrâneo que tem prenome e sobrenome de alguém muito em evidência no momento, Joaquim Barbosa, primeiro negro a presidir, o Supremo Tribunal Federal, o que sem dúvida é de muita valia num país em que a raça precisa de cotas para tudo. Aconteceu na fria Curitiba, mais precisamente em São José dos Pinhais, quando fez-se a louvação do nosso Barbosa, de tal modo assim conhecido que poucos sabem do Joaquim.
A lembrança dele dos tempos de Oeiras é muito vaga, já que nossa diferença de idade fica em torno de uma década. E Barbosinha, como também era chamado, apesar da boa estatura , arribou, escafedeu-se, ganhou o mundo ainda nos anos cinquenta. Vale frisar que já há algum tempo, nas suas vindas anuais a Teresina, fugindo do frio, privo, e me deleito, com seu jeitão que pouco mudou, tenho pra mim. É aquilo que se diz com muita propriedade: “quem sai aos seus não degenera.” E ele é, antes de tudo, um sertanejo, que, quando moço, se preciso fosse, corria debruçado numa sela atrás de gado. Andou por Minas, São Paulo e foi dar com os costados no Paraná, onde vive com a esposa, filhos (pra mais de 10) e netos na Chácara Santista, coisa de cinema, como se diz ainda hoje de algo bom e bonito. É que seu mano Antônio, também Tõin ou Madeira, danado que só quando menino em Oeiras, há 20 anos adquiriu-a e, torcedor doente do Santos, deu-lhe o nome de Santista, trazendo Barbosa para administrar, o que ele faz com muito zelo . A propósito de Santos, a cidade, o caro Madeira saiu de Teresina nos anos sessenta direto para ali morar e trabalhar, levado pela sua paixão pelo time, cujo verso primeiro do hino é: “Agora quem dá bola é o Santos...”. Naquele tempo então nem se fala, com o ataque formado por Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.
E a festa foi lá, com muita gente daqui do Piauí e de outros estados, parentes e amigos do aniversariante. Barbosa, todo prosa, metido num terno bem talhado, sem, evidentemente, o indefectível boné, muito feliz com tanta gente a festejá-lo. Registre-se ainda a presença , como não poderia deixar de ser, da turma do futebol-soçaite dos sábados. Alguns se fizeram ouvir, sendo que um deu-me a impressão que vai mais pelo que vem depois, papo e cerveja, Olinto Artero (mesmo sem o “i” faz jus ao sobrenome). É dele a frase que dá título a esta crônica. Seu humor é de tal modo refinado que, contou-me Madeira, certa vez sua (dele) mulher encontrou-o bebendo com algo preso ao copo por fita adesiva. Ante o espanto da consorte, saiu-se com esta pérola: “você não disse que eu bebesse com controle!?”. Era o da TV.
Com relação ao frio, reafirmo que é de lascar pra quem vive e moureja nesta nossa amorável Teresina que chega aos 40 graus, à sombra, quase-todo-dia-que-Deus-dá. Como não tiritar com 15? Só minora com muito agasalho e mé. Não é Barbosa?
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras