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Um clichê surrado dos primeiros capítulos de novelas são as tomadas aéreas. Elas imprimem grandiosidade e investimento de produção. Pois “Joia rara”, novela das 18h da Globo que estreou anteontem (de Thelma Guedes e Duca Rachid, direção-geral de Amora Mautner e núcleo de Ricardo Waddington), abriu justamente com um plano no alto de uma montanha nevada. Porém, sem sombra de clichê surrado. O capítulo impressionou sim, entre outros motivos, pelo investimento, mas nada pareceu acessório. Em pouco menos de dez minutos, vimos Franz (Bruno Gagliasso) no topo do Himalaia, soubemos que o ano era 1934, que Manfred (Carmo Dalla Vecchia) é um arquivilão. O malvado sabotou as cordas de segurança do mocinho, houve uma avalanche, e a ação se transferiu para um mosteiro da vizinhança e para o Rio de Janeiro da época.
As sequências no Tibete — com a participação do grande Nelson Xavier — deram direito a pílulas de sabedoria budista, mas sem artificialismos enciclopédicos. A mesma harmonia reuniu, via efeitos, o Himalaia (na verdade, o Chile) e o retiro dos monges. Gagliasso teve a dura missão de definir seu personagem num só fôlego (“sou filho de suíço, não acredito em outras vidas, gosto de escalar” etc e etc). Mesmo assim, se saiu bem.
No Rio, a história se abriu em três frentes: a fábrica e a luta de classes; a casa do vilão Ernest (José de Abreu) e o cabaré. Cada uma dessas ambientações funcionou como uma oportunidade para a direção esbanjar seu repertório. Na fábrica, chamou a atenção o burburinho ambiente invadindo os diálogos. Isso criou uma sensação de realidade difícil de se obter numa trama de época, em que o grau de encenação é sempre mais intenso e alcança figurinos, cenografia, enfim, tudo. Nessas cenas, brilhou Domingos Montagner como Mundo, personagem que resume o modelo épico do líder operário. Bianca Bin também teve bons momentos como Amélia, uma mocinha mais sofrida, portanto com mais peso, do que a Açucena de “Cordel encantado”. No cenário do cabaré, Letícia Spiller fez bonito numa sequência de bom gosto, apesar de cheia de cascas de banana para cair no exagero. A casa do vilão, sombria, hitchcockiana, deverá ser palco de grandes tramoias com o competente trio de malvados formado por José de Abreu, Ana Lúcia Torre e Dalla Vecchia.
Ritmo e fotografia — criativa, além de tecnicamente impecável —, além de lindos figurinos e cenografia, marcaram a noite. Mas, mais do que isso, “Joia rara” ganhou com algo que nem sempre testemunhamos: a ambição estética esteve aliada à preocupação em contar a história. Essa sintonia entre autoras e direção promete ser um dos principais valores dessa produção que devolveu à faixa a qualidade vista em “Cordel encantado” (também obra desse trio). Mais do que um capítulo de apresentação, a estreia já disse a que veio a nova produção das 18h.