
Divino Presente

* Por Ferrer Freitas
O historiador da cidade, como gosto de referir-me a Dagoberto Carvalho Jr. , no seu livro-poema “Passeio a Oeiras” assevera que uma ida à velha terra não deve ter data, “vale qualquer que seja o tempo”. Só que, se lhe permitissem escolher um dia, que fosse na “Quinta-Feira da Fugida” (para os que não sabem, representa o recolhimento de Jesus ao Horto das Oliveiras, no caso, a Igreja do Rosário), véspera da Sexta-Feira de Passos, talvez a data maior e mais guardada pelos nascidos naquela gleba querida. Com certeza o grande homem de letras, que não tira Eça da cabeça nem Oeiras do coração, interpreta deveras um sentimento de unanimidade.
Dessa sexta , e de sua procissão, já muito se disse. O livro mesmo tem um capítulo todo dedicado à data e ao monumental cortejo. Do que gostaria de falar neste ensejo é de algo extraordinário que acontecerá em seguida à “Fugida” , a instalação solene da galeria “Casa do Divino”, sonho sonhado, planejado e executado por um filho de Oeiras, Olavo Braz Nunes Filho. Alguém poderá perguntar , e onde entra o poder público? Responderei, incisivamente, não entra! A galeria passa a ser a maior obra cultural de iniciativa particular já vista em Oeiras, em todos os tempos. Seu acervo, de mais de 200 peças, é todo ele dedicado ao Espírito Santo, entalhadas em madeira e/ou preparadas em terracota. Todas um primor de arte.
A idéia, agora concretizada, começou em 2007 quando sua família foi sorteada para abrigar o Divino Paráclito na casa da rua Isaac Sérvio, centro histórico, o que representa para a maioria dos devotos uma bênção. Prova maior é o sem- número de pessoas, evidentemente mais mulheres, de nome Espírito Santo, e me permito, à guisa de homenagem, em citar a querida mestra dos tempos do Ginásio Municipal Oeirense, Amália do Espírito Santo Campos. A mãe, Bembém, preferiu deixar de lado seu sobrenome Nogueira para louvar sua especial e ardente veneração. De homens, vêm-me à lembrança os amigos Divino França, falecido, Geraldo do Espírito Santo (“magro-velho”) e Divino Coco (Baltazar).
A festa de Pentecostes está entre as três mais comemoradas do calendário religioso oeirense. As outras são, Passos e Conceição. Trazida para o Brasil pela família Real (1809), é comemorada em Oeiras há mais de 150 anos. Pois bem, sem trocadilhos, a galeria constitui-se um divino presente de Olavo a Oeiras. Há, em tudo, desde a casa que abrigará o acervo , adrede construída para esse fim, um esmero formidável. Merece ser dito, ainda, que o projeto contou com o apoio denodado de sua Bel, a esposa Isabel.
(*) Ferrer Freitas é devoto do Divino