
Encruzilhada

* Por Josevita Tapety
Entre a cruz e a corda
Entre a espada e o nada
Entre a verdade e a concessão
Entre a esperança e a toalha
Entre a força e o medo
Entre a luta e a estrada
Vida é encruzilhada,
Diria Clarice, isto ou aquilo.
Nova encruzilhada, pergunto a você:
Seguir com a cruz, a espada, a verdade, a esperança, a força e a luta?
Ceder à corda, ao nada, conceder ao medo, jogar a toalha, seguir a estrada?
Perguntaram-me: e ai? Vai continuar insistindo? - Perda de tempo!
Afinal, há 2000 a escolha é Barrabás.
Acredito firmemente que a opção pela preservação das nossas riquezas é a única forma de promover as mudanças de que a sociedade precisa para a libertação.
Acredito e insisto que ética, moral, respeito, caráter e amor não podem ser relativos.
Todas as experiências bem sucedidas de desenvolvimento social foram possíveis apenas com respeito ao potencial humano e criativo, com respeito às desigualdades e todo tipo de crença.
Insisti e reafirmo a necessidade de mudar. O mundo precisa mudar. Mudar em essência, em espírito, em alma e, principalmente, em posicionamento diante da vida. Saúde, educação, cultura, casa e comida têm que ser bom para todos. Champanhe e caviar aos nobres ( ou enobrecidos) e craque, cachaça e carniça aos pobres ( ou empobrecidos) é sinal claro de espoliação.
Para alcançar mudança real, nenhum vínculo com os vícios e amarras ao erro podem ser mantidos. Refiro-me ao posicionamento eticamente inadequado de que – tal como em Tróia - para vencer o inimigo, é preciso aliar – se a ele, infiltrar-se maquiavelicamente em suas entranhas e envenená-lo, trucidá-lo, extorqui-lo para, enfim, conceder o golpe final.
Há ainda os que aproveitam o discurso e pegam carona, para – mais uma vez – vender a confiança dos amigos mais adiante, por qualquer tostão, espelho ou trocados sujos, dourados.
Busquei os amigos e convidei a formarmos uma comunidade ambientalista no lugar onde estão as minhas raízes. Um novo ideal, independente e livre, com direito à voz.
Era consenso: ou você se junta a um deles ou jamais será ouvida.
Discordei.
Discordo.
Desconsidero a hipótese de concordar por conveniência, corromper – me ou me prostituir ideologicamente, filosoficamente, muito menos fisicamente para atingir objetivos vazios e egocêntricos.
Argumentam algumas hienas: se você não se juntar a eles, vão lhe destruir. O povo gosta é disso.
Muitos me fizeram crer que o povo quer ser escravo. Tem mesmo pavor a quebrar as correntes. Prefere o pelourinho.
Talvez realmente o peso dos 300 anos a chicote e tronco, a café, cuscuz e goma, trocados por cerveja, carne e arroz sejam o suficiente.
Talvez não seja mesmo necessário ainda expor minha integridade física, ética e moral em nome do crescimento e libertação de todos.
Mais uma vez pergunto ao Divino, como em toda decisão importante e Ele me diz: pergunte a eles.
Pergunto então: o que me diz a consciência do todo?
A cruz ou a corda?
A espada ou o nada?
A verdade ou a concessão?
A esperança ou a toalha?
A força ou o medo?
A luta ou a estrada?
...
Encruzilhada.
* Josevita Tapety é arquiteta, urbanista e produtora cultural