ENTREVISTA: Preta Lessa: uma lição de vida e resiliência na luta contra o câncer
03/12/2023 - 17:26Com uma visão única sobre a vida, Preta nos ensina sobre coragem, gratidão e a importância de sermos solidários uns com os outros.
Com o encerramento da campanha Setembro Amarelo, que busca promover a conscientização e prevenção do suicídio, entrevistamos a psicóloga Ludymilla Sousa. Ela compartilhou seus conhecimentos valiosos sobre a importância da saúde mental e as ações necessárias para a prevenção do suicídio, especialmente na sociedade oeirense. Nesta entrevista, Ludymilla oferece informações fundamentais sobre como reconhecer sinais de alerta, oferecer apoio emocional e desmitificar conceitos errôneos sobre o suicídio. Junte-se a nós nesta conversa vital, enquanto exploramos maneiras de construir um ambiente seguro e acolhedor para discutir questões de saúde mental e valorizar a vida.
1. Quais são os principais objetivos da campanha Setembro Amarelo?
Intensificar o debate entre sociedade e governo sobre o fenômeno do suicídio e seu grave problema de Saúde Pública, ampliando o processo de prevenção e conscientização da população, chamando a atenção de todas as pessoas sobre a importância da saúde mental, que ela importa e salva vidas.
Além de evidenciar a busca por ajuda nos primeiros sinais que compreendem o espectro comportamento suicida, onde o final dele é o mais trágico, a morte, mas que se cuidarmos do que vem antes disso, transtornos mentais, pensamentos, emoções, desprazer, desvalor, descrença, diminuímos as alarmantes estatísticas.
Nesse sentido a campanha setembro amarelo acontece o ano todo, onde a responsabilidade cidadã é evidenciar que sem saúde mental não existe saúde e que viver é sempre a melhor opção.
2. Por que é importante discutir a prevenção do suicídio na sociedade, em especial na sociedade oeirense?
Porque ele é um grave e urgente problema de saúde pública. Porque as estatísticas para o ano de 2020 apontaram que aproximadamente 1,5 milhão de pessoas morreriam por suicídio no mundo, ou seja, em dados para o ano de 2020 teríamos 01 suicídio a cada 20 segundos e 01 tentativa a cada 02 segundos. Esses números de pessoas superam a soma de todas as pessoas que já morreram por HIV/AIDS, guerra e por acidente de trânsito no mundo. Então, é importante falar sobre isso ou não? Sim é importante.
Estamos perdendo muitas vidas, não dá para ser simplesmente ignorado. E Oeiras não é diferente do mundo, suas raízes sócio-histórica são marcadas por diversos tabus e consequentemente por números significativos dentro do contexto da saúde mental e suicídio, então em especial na sociedade oeirense, precisamos falar sim, precisamos falar muito sobre tudo isso. Diálogos que vem sendo bem mais debatidos em nossa Oeiras, com a devida responsabilidade que problemas de Saúde Pública sejam tratados.
3. Como a campanha Setembro Amarelo pode contribuir para a redução do número de suicídios?
Porque a maioria das pessoas que morreram por suicídio e que tentam o suicídio não querem morrer, elas têm um transtorno mental e/ou estão em sofrimento emocional/psicológico e não buscam ajuda em serviços de saúde mental por estigmas, preconceitos e medo. Então, as campanhas de conscientização como a campanha setembro amarelo busca contribuir para a importância de as pessoas buscarem ajuda profissional para cuidar da sua saúde, dos seus sofrimentos e que todo problema tem solução, que você não precisa passar por situações difíceis sozinhas e se permitindo ver outras possibilidades de viver, conviver e/ou enfrentar seus as adversidades. A campanha setembro amarelo aplicada o ano todo, fortalecida em toda a rede de políticas públicas e privadas, respeito da sociedade sobre a forma de ser e viver de cada um, reduz sim o número de suicídio.
4. Quais são os sinais de alerta que devemos estar atentos em relação ao comportamento suicida?
Bem, o suicídio é resultado de muitas coisas juntas, nunca tem uma causa única, então não tem receita de bolo. Alguns sinais de alerta de que alguém possa estar dentro do espectro do comportamento suicida compreende pontos como:
- Não gostar mais das coisas que gostava antes;
- Verbalizar frases que colocam para baixo, como: "eu deveria sumir"; "as coisas nunca vão dar certo para mim"; "Eu não tenho jeito"; "Eu queria sumir"; "Eu deveria dormir e acordar morto"
- Achar que nada e nem ninguém pode ajudar no seu problema e que o melhor é se calar;
- Pessoas que perderam entes queridos por suicídio;
- Histórico prévio de Transtorno Mental na família.
5. Como podemos abordar uma pessoa que está passando por um momento difícil e suspeitamos que possa estar pensando em suicídio?
Perguntando. Na dúvida pergunte abertamente, o pior que pode acontecer é ela se esquivar da resposta e se calar e o máximo será ela se abrir com você e falar sobre o que está passando no momento e assim abrir o caminho para acessar os serviços e os profissionais para acompanhar o caso. Chamo atenção para um ponto específico nesta abordagem: neste perguntar e se permitir ajudar o outro é primordial que você deixe de lado todos os teus julgamentos, as tuas crenças e teus preconceitos. É preciso empatia se colocando na dor do outro.
6. Quais são as melhores estratégias para oferecer apoio emocional a alguém que está lutando contra ideações suicidas?
A principal é fazer com que ela chegue até um serviço de saúde. Porém até ela ser direcionada ao serviço especializado você pode:
- Chamá-la para uma conversa e escutar com muita atenção e humanidade;
- Compartilhar com um profissional ou serviço que você conhece e confia. Não guarde segredo em suspeitas de comportamento suicida;
- Acolher sem julgar!
- Direcional a buscar ajuda imediata ligando para o Centro de Valorização da Vida (CVV) - número 188 ou acessando o chat pelo www.cvv.org.br além de acessar o www.mapasaudemnetal.com.br e ver qual o CAPS ou serviço de saúde mental mais próximo.
7. Quais são os mitos mais comuns sobre o suicídio e como podemos desmitificá-los?
- "A pessoal que ameaça se matar não fará isso, quer apenas chamar atenção";
- "Não devemos falar sobre suicídio, pois isso pode aumentar o risco";
- "É proibido que a mídia aborde o tema suicídio";
- "Não preciso de Psicólogo, eu não sou doido";
- "Quando uma pessoa mostra sinais de melhora ou sobrevive à uma tentativa de suicídio, está fora de perigo".
Erros e preconceitos assim vêm sendo historicamente repetidos e contribuem ainda mais para a formação de estigmas que envolvem as doenças mentais e o comportamento suicida e resultam no processo em que as pessoas que passam por este sofrimento se sentem envergonhadas, excluídas e discriminadas e a consequência disso é não buscar ajuda.
A educação é a principal forma de desmistificar a saúde mental e promover a transformação social que precisamos para salvar vidas.
8. Como podemos criar um ambiente seguro e acolhedor para perceber sobre problemas de saúde mental e suicídio?
Traçando um plano de ajuda que compreende se questionar para saber quando você deve buscar ajuda e aprender a olhar mais para os outros e ser um agente de cuidado e promotor de vida:
1- Quais são os sinais de que não estou bem?
2- O que me faz bem e o que me ajuda?
3- O que não em faz bem / o que me atrapalha?
4- O que me ajuda no universo virtual e o que me atrapalha?
5- Quais são meus sonhos e o que eu quero para o meu futuro?
6- O que eu posso fazer para chegar lá?
7- Quem sou eu?
8- Onde eu posso pedir ajuda / para quem eu posso ligar / onde acessar online...
9. Quais são os recursos disponíveis para alguém que está passando por um momento difícil e precisa de ajuda?
Alguns serviços especializados no cuidado à saúde mental e prevenção ao suicídio:
- Unidades Básicas de Saúde / Unidades de Saúde da Família - Procure a do seu bairro;
- CAPS - Centros de Apoio Psicossocial - CAPS I - Fone: (89) 9 9414-8939 / CAPS AD - (89) 9 9414-6678;
- Centro de Valorização à Vida - CVV - Fone: 188 (No site também é possível ser atendido via chat ou e-mail);
- Minutos pela Vida (SESAPI) - Atendimento psicológico de segunda-feira a sexta-feira, 8h às 18h - Fone: 08002802882;
- SAMU 192 e
- UPA 24 horas.
Entendendo que o sofrimento se manifesta de várias formas, o principal recurso disponível é buscar suporte para a dor que você está passando no momento. Ou seja, conhecer e saber pedir ajuda onde você encontrar apoio. Só não desiste de encontrar alguém disponível. Eu costumo dizer que é o lugar de você buscar ajuda em um momento difícil é aquele onde você é acolhido e escutado sem ser julgado.
Busquem as políticas como um todo, os gestores e a sociedade civil organizada, nestes âmbitos você deve encontrar suporte para com o momento difícil que esteja passando. Todo lugar que trabalha com vida deveria ser um lugar de cuidado e prevenção ao suicídio.
10. Há grupos de risco mais suscetíveis ao suicídio? Quais são os fatores de risco mais comuns?
Olha só, vou pegar como base para a formatação desta resposta um estudo da Gerência de Saúde Mental do Estado do Piauí de 2023 e explana sobre a epidemiologia do suicídio.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que o suicídio é responsável por uma morte a cada 40 segundos no mundo, sendo a segunda maior causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos. No Brasil, entre 2010 e 2019, ocorreram 112.230 mortes por suicídio, representando um aumento de 43% no número anual de mortes durante esse período. Homens apresentam maior risco de morte por suicídio, enquanto mulheres têm maior prevalência de ideação e tentativas de suicídio.
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023), o número de suicídios no Brasil cresceu 11,8% em 2022 em comparação com o ano anterior. No Piauí, os relatórios do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) indicam uma taxa de mortalidade por suicídio de 10,9 por 100 mil habitantes, com homens apresentando uma taxa 4,3 vezes maior do que as mulheres. Além disso, os idosos são mais afetados, com uma taxa de mortalidade de 15,9 por 100.000 habitantes.
A análise por regiões de saúde no Piauí revela que a Região Entre Rios apresenta a maior prevalência de lesões autoprovocadas, seguida pela Vale do Rio Guaribas e Região da Planície Litorânea. A notificação é uma ferramenta vital de vigilância em saúde, fornecendo dados epidemiológicos para embasar ações de saúde.
Este estudo, traz uma análise importante sobre a realidade de Oeiras. Durante muito tempo nossa cidade ocupava um local de destaque de morte e tentativas por suicídio, este número vem diminuindo em relação a outras cidades e regionais de saúde do Piauí e garanto a você que, isso é reflexo de ações e serviços que vem trabalhando de forma articulada e fortalecidos com a cultura da saúde mental e valorização da vida. É exatamente a ampliação do olhar para a vida integral dos oeirenses e o fortalecimento de suas Políticas públicas que os fatores de risco para o suicídio começam a diminuir.
11. Como os profissionais da área da saúde mental podem se envolver de forma eficaz na prevenção do suicídio?
Eu diria profissionais de todas as áreas. Quando a gente entender que todo e qualquer profissional é, antes de tudo, um agente transformador de vida a prevenção ao suicídio vai verdadeiramente se tornar eficaz.
Tem um texto da Psicóloga e sobrevivente enlutada por suicídio que reverbera sobre a importância de fortalecer a saúde mental e diz mais ou menos assim: "10 de setembro: dia mundial de prevenção ao suicídio. Uma data, um fenômeno e vários estigmas." Enquanto não rompermos a lógica de ver a saúde mental separada da saúde não vamos conseguir avançar.
Profissionais, precisamos entender que sem saúde mental não existe saúde, sem perder o medo de falar, de cuidar, de dialogar sobre suicídio não vamos prevenir o mesmo. E esta tarefa não é privativa de categorias específicas ou de um mês específico, é uma luta diária que se faz com muitas mãos envolvidas.
12-Sabemos que nem todas as cidades da nossa região possuem Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Em Oeiras, há a possibilidade de receber pacientes de cidades vizinhas que não têm acesso a serviços de saúde mental adequados? Como funciona essa articulação regional em termos de atendimento em saúde mental?
A universalização da saúde é um dos princípios do SUS e cabe ao Estado assegurar este direito, garantindo acesso às ações e serviços para todas as pessoas, ou seja, o cuidado em saúde mental não pode ser negado ao usuário. É importante salientar que o SUS também tem os princípios organizativos, posso citar neste momento o processo de regionalização e descentralização, onde os serviços são organizados em níveis crescentes de complexidade e distribuídos com critérios nos territórios, por isso que não temos CAPS em todo lugar.
Em Oeiras, temos o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS I), que não é regional, ou seja, está organizado hierarquicamente para atender a população de Oeiras, mas gostaria de ressaltar que mesmo organizado desta forma e trabalhando nos limites de recursos disponíveis para este contexto, o CAPS I atende também pessoas de outras cidades circo vizinhas à Oeiras. O município também conta com o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD), este é regional e atende toda a população do território vale do canindé.
Oeiras e municípios que compreendem o Território Vale do Canindé conta ainda com a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e o Hospital Regional Deolindo Couto (HRDC) que em termos organizativos têm leitos de Saúde Mental e o Núcleo de Valorização da Vida (NUVVI), um serviço de Psicologia voltado para a prevenção do Suicídio.
13-. Quais são as principais iniciativas que podem ser tomadas individualmente para contribuir com a prevenção do suicídio?
Autoconhecimento. Se conheça, saiba quais são seus pontos fortes e pontos fracos, perceba os seus limites, se ame, tenha sonhos e lute dia a dia para transformá-los em realidade. Vida o hoje, ele não é chamado de presente à toa.
Faça terapia, você não está sozinho. Percorrer o caminho do autoconhecimento com a ajuda de profissionais especializados fará você descobrir que desistir não deve ser uma opção.
14-Para aquelas pessoas que estão enfrentando dificuldades emocionais ou pensamentos suicidas, qual é o momento apropriado e como devem buscar ajuda? Quais são os recursos disponíveis em Oeiras para quem precisa de apoio em termos de saúde mental e prevenção do suicídio?
Quando perceber os primeiros sinais de que sua produtividade está rebaixando. Quando você perceber um descontentamento pela vida ou começar a ter dificuldade em resolver questões que antes para você era tranquilo, é um bom momento para buscar um Psicólogo ou médico. Vou deixar disponível nesta entrevista locais com endereço e contato em Oeiras que você pode estar buscando ajuda no contexto da Saúde Mental e Prevenção ao Suicídio.
15-Qual mensagem ou conselho você gostaria de compartilhar com nossa comunidade em relação à importância da prevenção do suicídio e do cuidado com a saúde mental, especialmente durante o mês de Setembro Amarelo?
Do fundo do meu coração, eu só queria que as pessoas olhassem para a saúde mental como eu fui despertada a olhar. Uma Política Pública que precisa ser respeitada como qualquer outra. Assim como toda a sociedade, eu precisei e preciso todo dia de pesquisa, professores, mestres e muito contato com pessoas com transtorno mental e situações desafiadoras, para que pudesse deixar de lado tantos tabus que me ensinaram e que eu fui vendo e vivendo durante a minha existência.
A única coisa que posso falar é que lutar para mim é verbo e ação. Como protagonista da minha vida e cidadã eu escolho todo dia ocupar mais espaços de cuidado e valorização de vida, por mim e por tantos. Toda vida importa, todo problema tem solução e viver mesmo que difícil é a melhor decisão que podemos tomar na vida.
Setembro Amarelo é todo dia! E como diz Carl Gustav Jung: “Qualquer árvore que queira tocar os céus precisa ter raízes tão profundas a ponto de tocar os infernos”. É preciso coragem para agir em favor da saúde mental e em valorização da vida de setembro a setembro.