
Morre em Oeiras o senhor Domingos Francisco de Sousa, aos 84 anos
04/05/2025 - 09:46Homem de fé e trabalho, construiu uma família numerosa e deixou um legado de simplicidade e dedicação
Além de falarem a mesma língua (o português), há outra impressionante identidade entre Brasil e Índia na nova novela das oito, "Caminho das Índias": o tamanho dos "palácios" das famílias ricas de ambos os países, com seus pés-direitos monumentais, suas muitas salas e antessalas, seus serviçais e familiares agregados.
Têm realmente uma escala "oriental" reparem nas portas, na altura dos tetos as residências da elite carioca, ali.
É, no entanto, em torno das diferenças culturais que gira a dança de quadrilha dos conflitos amorosos da trama. O "tempero exótico", além da cafonice, é uma das marcas de sua autora, Glória Perez.
Dessa vez, há o jovem indiano que faz negócios no Brasil e ameaça desrespeitar um dos preceitos de sua cultura o casamento arranjado para poder se unir à amada brasileira. Isso porque, claro, ele ainda não conhece Juliana Paes, moça de grupo social superior e operadora de telemarketing que já se apaixonou por um integrante de casta "intocável" com doutorado nos Estados Unidos (Márcio Garcia).
Abundam os clichês de uma Índia ao mesmo tempo "globalizada" e tradicional, em que se ressaltam suas características rígidas e hierárquicas. Serve para que o Brasil apareça como representante da modernidade ocidental, antiga aspiração da ex-colônia periférica magicamente realizada por Perez.
Mas as oposições entre os dois países criam relações curiosas, talvez não propositais. Apresentados ambos como objeto de preconceito e ignorância, um certo paralelo surge entre os "intocáveis", na Índia, e os loucos ou "usuários de saúde mental" no Brasil. Não à toa, o principal personagem nesse último grupo é negro e pobre. A "naturalização" das diferenças, criticada na prática das castas, parece ressurgir, parcialmente, no "ocidente".
Quanto aos "palácios" da gente rica de toda parte, é verdade que eles são um fetiche constante do mundo das novelas. Mas, numa trama que procura dar tanta importância às diferenças, é curioso que seja justo nessa dimensão digamos, socioeconômica que apareçam as maiores semelhanças e nada "ocidentais" entre os dois países.
Creio que Márcio Garcia tinha em mente diferenças, e não semelhanças, quando comentou sobre a condição social de seu personagem: "Na Índia, direitos iguais não existem".