
'Gente é pra brilhar'
De que maneira as manifestações de rua em todo o País afetam Oeiras? Elas podem influenciar positivamente? Ajudam a questionar a vida política do município? Oferecem novas perspectivas não só de leitura da realidade, mas de mudanças reais da política praticada aqui?
É pouco aprovável que os atos públicos de insatisfação contra a corrupção e a política partidária exercida no Brasil não tenham afetado os cidadãos oeirenses ou pelo menos despertado interesse. Nesse sentido, basta dizer que aqui também houve manifestações de rua, inspiradas nos protestos que se veem, diariamente, nas grandes cidades brasileiras.
O simples fato de ter havido nos últimos dias em Oeiras atos políticos coletivos é de grande relevância, se pensarmos que se deram fora da esfera ou do comando dos grupos político-familiares-partidários. O principal exemplo veio dos estudantes do CEMTI Pedro Sá, que fizeram passeata e reivindicaram a continuidade das aulas que seriam interrompidas para a escola servir de alojamento a atletas de um campeonato de futsal. Uma comissão foi recebida pelo Governador, que, imediatamente, atendeu a reivindicação dos estudantes. As manifestações de rua em Oeiras denotam que, aqui também, há descontentamento contra a prática política exercida há décadas e que é possível a participação política suprapartidária.
A análise crítica fundamentada das estruturas de poder em Oeiras nunca foi um hábito entre nós. A atual onda de protestos no Brasil, certamente, é uma oportunidade de se colocar em cheque tais estruturas de poder, seus principais atores, personagens e lideranças. E principalmente os efeitos na vida dos cidadãos.
Oeiras é uma miniatura do Brasil e, como de resto ocorre em todo o País, a política exercida aqui também precisa mudar, e mudar radicalmente, da água para o vinho. Como essa mudança pode ocorrer? Certamente, ela não será uma realidade, se forem usados os mesmos expedientes manuseados pela velha política tradicional, com a qual não devemos mais ter complacência.
Para haver as mudanças que a sociedade precisa, é necessário que os cidadãos, individualmente, a desejem no fundo do seu íntimo e que marchem organizados, com esforço e propostas urgentes, criando organismos ou se incorporando aos núcleos e entidades civis já existentes, que lutam pelo bem estar coletivo. Porém, é preciso usar eficazes métodos políticos de ação. Para o momento atual, talvez os mais indicados sejam os da não violência e o da desobediência civil.
Não se assustem: são métodos pacíficos, não pregam a luta armada, nem quebra-quebra. Segundo Martin Luther King Jr, uma das coisas mais importantes desses métodos é que eles não buscam destruir a pessoa, mas transformá-la.
Um dos pilares da desobediência civil é negar obediência às leis injustas. A não violência consiste em retirar apoio e cooperação às injustiças, sejam elas quais forem. Sabemos que muitos absurdos ocorrem na sociedade porque encontram nela concordância e alimento. Se uma só pessoa discordar e retirar seu apoio, estará usando de não violência, enfraquecendo os opressores. Como essa atitude sempre está baseada em princípios morais e, às vezes, espirituais, serve de exemplo educativo, muitas vezes seguido por populações inteiras. Quando isso acontece, a eficácia do método se comprova e a coletividade é beneficiada, sem ter usado comportamentos agressivos.
Mas, além de minar a resistência de posturas nocivas à coletividade, os atos de desobediência civil e de não violência podem ser ativos, no sentido de enfrentamento explícito às injustiças sociais e aos absurdos cometidos por homens públicos. Por exemplo, o recente protesto, que começou em SP, contra as tarifas do transporte público. Ele teve caráter de não violência. O que parecia um simples ato contra algo pontual e localizado logo adquiriu dimensão nacional, espalhando-se para amplos setores da vida politica e social brasileira.
No caso de Oeiras, basta que o cidadão retire seu apoio à má política, não só com palavras, mas com atitudes. Isso é necessário, mas insuficiente. É preciso também que o cidadão se engaje em movimentos por causas justas, já existentes no município, ou crie e organize movimentos novos, para o bem estar coletivo. Se isso for feito, será uma revolução pacífica, sem tiros, nem quebra-quebra, que transformará, ao mesmo tempo, governantes e governados.
A desobediência civil e a não violência podem transformar a sociedade, pois a base de ambas é o amor. Seja o que fizermos será uma escolha. Podemos desperdiçar a atual oportunidade de ouro e optarmos por deixar as coisas como estão. Ou escolher a construção de uma nova realidade, em que todos – inclusive os políticos - brilhem e se respeitem.