
Oeiras sedia I Encontro dos Núcleos de Capoeira Raízes do Brasil
02/05/2025 - 10:10Evento reuniu grupos locais e convidados, com apoio da Prefeitura de Oeiras e instituições parceiras
O técnico do Fluminense, Muricy Ramalho, falou nesta terça-feira sobre o trabalho que terá no clube a partir da conquista do título brasileiro. Para o comandante tricolor, o planejamento já está atrasado e a diretoria precisa começar a definir como vai preparar o elenco para a disputa da Libertadores. Muricy falou ainda da saudada da família, do reconhecimento da torcida, e desafiou os treinadores europeus a trabalharem no Brasil. O técnico já avisou que uma das mudanças para o ano que vem será a contratação de um psicólogo esportivo, para trabalhar os nervos dos jogadores.
Veja trechos da entrevista:
Adaptação do calendário
É difícil acompanhar o calendário europeu. Precisa respeitar os patrocinadores. Mas alguma coisa tem que ser feita. Que não está legal, não está. A gente está machucando nossos jogadores. Não pode ficar na conversa. O número de lesões dobrou esse ano, isso preocupa demais. Se não tiver plantel não adianta. O campeonato é longo, oscila demais. As pessoas oscilam. O clube também tem que estudar o técnico antes de contratar. Qualquer crítica quer mudar tudo. Os técnicos brasileiros são os melhores do mundo.
Estrutura do clube
Vou conversar com o presidente que foi eleito. Tem que mudar. Não pode achar que porque ganhou sem estrutura está tudo certo. Vamos ter que melhorar muito. Isso que vou propor a eles. Precisamos de muitas coisas. Tem que melhorar Centro de Treinamento, sala de musculação. Tem que crescer, não pode ficar parado. Tem que estar criando, mudando, melhorando. Eu não sossego enquanto não melhorar isso. Não podemos continuar do mesmo jeito. A diferença é essa para clubes como Internacional, São Paulo. Por isso que eu falo que nós ganhamos de potências.
Família
Isso é o pior do futebol. Não vi minha famílila. Vou para São Paulo ver meus filhos e minha esposa e amanhã estou de volta. Por isso que eles devem mudar para cá. Recebo muitos convites para sair do país, e não saio. Tem várias pessoas que eu cuido um pouco também. É um sacrifício que vale À pena. To cansadíssimo, emocionalmente arrebentado. Mas não tem sensação maior que encontrar o torcedor na rua e ele te dá um abraço. Fico no telefone todo dia com minha esposa. Ela que me inspira. O resto do tempo fico muito solitário. Isso é dureza.
Melhor treinador
Esse título de melhor é difícil. No ano passado infelizmente cheguei na última rodada bringando pelo título e não pude fazer isso pelo Palmeiras. Meu fim de ano foi ruim. Como sou teimoso prometi para mim mesmo que voltaria esse ano para buscar o troféu. E com o título, que é o mais importante. A dificuldade parece que me faz bem. Mas encontrei grande profissionais no clube. A comissão técnica fez a diferença. Não o técnico.
Melhor técnicos do mundo
Eu dou nota oito a todos eles. Só vou dar 10 o dia que um deles vier trabalhar no Brasil. Dirigir um ano os times. Aqui sim é duro para trabalhar. Estou longe disso, aprendendo, não é fácil trabalhar no Brasil. Se manter é complicado. Sou muito crítico em relação ao meu trabalho. Eu acho que depois desse título, esses dias sozinho, sem comemorar nada, acho que estou me tornando um bom treinador. Porque não é fácil vir num time 26 anos sem título, três anos brigando para não cair, e a estrutura infelizmente não é tão boa. Enfrentamos poderosos. Com essa vitória do Flu posso me considerar bom treinador. Nunca vou estar realizado. Quero ganhar o próximo. Tenho que trabalhar mais para manter o Flu. Não pode ganhar e ficar só nisso.
Seleção
O Mano é o técnico, temos que respeitar o que está aí. Com o Brasil campeão do mundo todo mundo vai querer os técnicos brasileiros, os jogadores, temos que ajudá-lo a ganhar a Copa. Me coloquei à disposição do Mano. Se ele precisar de informações sobre jogadores pode me ligar.
Telê Santana
Vi ele no sonho feliz, ele é um ídolo do Fluminense. No vestiário tinha foto dele enorme. Não vi a declaração da família. Desde quando acabou o campeonato não deu para fazer nada. A ficha não caiu. Eu me senti um filho mesmo. Ele foi meu treinador, não só meu mestre. Tive a felicidade de conhecer a família. Ter contato com eles. A gente se parece muito. Ele é muito mais chato do que eu (risos). Aprendi muito, me ensinou que as atitudes são importantes. Que os princípios que eu defendo e parece para muitos coisa de louco, é o correto. Os meus é seja correto que papai do céu vai te ajudar. Isso aprendi com Telê e com meu pai. Que a família dele esteja feliz. Tenho certeja que ele também está.
Ídolo
Técnico ser ídolo é muito engraçado. Qualquer resultado ruim o técnico é culpado. Todo lugar que eu vou, é incrível, no Brasil todo recebi mensagens, pessoas me dando força, acho que é por isso que eu ganho. O Brasil todo torce para mim, até de outros times. A única explicação é a necessidade que as pessoas tem de ouvir umas coisas mais verdadeiras, sem frescura. E nisso eu sou bom. Não me importo muito com as coisas. Por onde eu vou está difícil até de caminhar.
Segredo
O dia a dia tem que ser bom no que você faz. Tem que dominar vaidade de dirigente, jogador, muito interesse. E concentrar no que está fazendo. Tem que ser exemplo para o jogador, ser honesto, e ajudar. Amanhã tem que ser o melhor de novo. Não pode ser ontem e parar. O próximo é sempre mais difícil. Tive professores para isso: Telê Santana, Parreira. Permanecer anos no topo ganhando títulos não é fácil.
Libertadores
Volto ao Rio para conversar sobre isso quarta. Ver o que o Fluminense pensa. Temos que melhorar muito se quisermos alguma coisa. Nosso grupo é uma pedreira. Se não melhorar vai ser difícil. Já estou conversando e vou continuar. A resposta vai ser campeão. Então tem que melhorar muito. As carências é uma coisa interna, que não posso estar falando. Mas estamos atrasados no planejamento. O Brasileiro nos tomou muita energia, ficamos 26 anos sem ganhar e todo mundo se concentrou nessa competição.
Torcida
A torcida acreditou, tirou aquela desconfiança. A energia é muito grande, é difícil parar. Eu vi no nosso gol uma mulher rezando, chorando. Isso é incrível. Criança chorando. Penso nos meus filhos (se emociona). Não é fácil fazer o que a gente faz. Essa semana vocês não tem ideia do que eu passei. Por mais experiência que eu tenha. A cobrança comigo mesmo. Não dorme direito, não come legal. Muita gente que você pode fazer feliz, milhões de pessoas. Imagina a minha responsabilidade! No Engenhão e no mundo todo, se as pessoas não tem o resultado que esperavam? Por isso me cobro demais e as pessoas com quem trabalho. A paixão é muito grande. A gente tem que respeitar o torcedor.
Os bastidores
Sofri um pouco. Não conhecia a estrutura do Fluminense. Mas tivemos que melhorar a parte psicológica. Nos últimos três anos o time tinha brigado para não cair. Tive que convencer a eles que podia brigar na parte de cima.
Maior dificuldade
Eu treino todos os jogadores de forma igual. Para poder usar no momento certo. Quando precisei estavam todos bem treinador e eles deram a resposta. Esse foi o momento mais difícil. Tive também que recuperar jogadores, como o Tartá. Dei tempo ao tempo no começo. Mantive os profissionais da comissão técnica e acertei. Um time depende 25?uma boa comissão técnica. Outro problema sério foi terem nos tirado o Maracanã. Afastaram nossa torcida. Poderiam deixar para depois. Enfrentamos gente poderosa.
Mudanças
Vou sugerir ao Fluminense que contrate um profissional de psicologia do esporte. O lado emocional é fundamental. Fomos mal no primeiro tempo contra o Guarani por causa do emocional. Torcedor nervoso, dirigente nervoso, vai tudo para o time. Fiz um trabalho no intervalo para tentar acalmar os caras.
Conca
O jogador brasileiro está em desvantagem em relação ao argentino. Por causa da palavra saudade. Essa é a maior dificuldade. Eles não querem saber de feijão com arroz. O Conca dominou a dor, não sentia nada, não tinha tempo ruim, não reclama de nada. Argentino é assim. Ele é um exemplo de superação. Além de ser um craque diferenciado, nunca se esconde.
Postura fora de campo
A coisa mais importante de um atleta é a consciência. À noite tem que se alimentar, dormir. Se tiver prejudicando meu trabalho eu corto, afasto. Não vou ficar correndo atrás. É por isso que ainda não podemos deixar de ter concentração.