
O amor por uma cidade, segundo caetano, joca oeiras e eu
Para Uma Oeirense de Nome Zuleika Rocha
-Quando eu te encarei frente a frente, não vi o meu rosto. Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto. É que Narciso acha feio o que não é espelho...
Esta é uma das belas estrofes com que Caetano compôs uma das mais lindas peças do cancioneiro popular brasileiro. Compôs, dando forma a uma verdade. Não somente a sua verdade, mas, também a minha e de muitos. Quando ali cheguei, senti um intenso frio por dentro, um misto de medo e fascÃnio. Depois, fomos nos oportunizando (a cidade e eu, eu e a cidade), até afeiçoar-me por completo por aquela magnÃfica metrópole, onde vivi por quinze anos. Nas horas vagas costumava sentar-me num banquinho lá no Largo da Memória e sentir, maravilhado, o seu pulsar. Mas, apesar do amor por Sampa, eu tinha ciência de que eu era um filho adotivo e narrei esta minha condição no poema Sampa que faz parte do livro DO OUTRO LADO DA HISTÓRIA:
Filho adotivo desta terra
Sei o quando me dói dizer adeus
Amei-te com a sinceridade dorida de uma orfandade
E acolheste-me
Mostrando-me os caminhos calcados
De intempéries, do lutar e do sonhar...
Há várias maneiras de se apaixonar, de gostar ou de amar uma cidade. A minha em muito se parece com a de Caetano, que busca o que se esconde por trás das aparências. A maneira de Joca Oeiras se parece a de um adolescente, um amor unilateral, que quer apenas o belo, o que adoce sua boca, ouvir tão somente palavras que soem como belas canções ao seu ouvido. Joca Oeiras, assim como seus fiéis patrocinadores, se negam a ver o povo oprimido nas filas, vilas e favelas; A força da grana que ergue e destrói coisas belas; A feia fumaça que sobe apagando as estrelas, como bem diz na canção, o filho de Santo Amaro.
*Por Jota Jota Sousa – Escritor