
O mundo azul de Primim

*Por Jota Jota Sousa
Quiseram as sábias mãos do destino que depois de muitas andanças eu viesse ter-me novamente aqui. A cidade me dá lições, uma juventude gritando com o olhar e toda uma gente ainda refém do medo de experimentar o novo. Mas existem ainda -e são muitos- os que ainda conseguem enxergar o azul. Sabem daquela estória do pequeno príncipe?: “Se dizemos às pessoas grandes, vi uma bela casa de tijolos cor de rosas, gerânios na janela, pombas no telhado... Elas não conseguem de modo algum, fazer uma ideia da casa. É preciso dizer-lhes: Vi uma casa de seiscentos mil reais. Então elas exclamam: Que beleza!”. Assim acontece com pessoas. Eu conheço um homem muito interessante em minha cidade. Um homem que traz perene no rosto o sorriso da esperança; Que acredita nos outros e por assim proceder vez por outra se vê saqueado em sua boa fé. Não é homem de dinheiro e talvez por isto você não o tenha notado. Seu verdadeiro nome é Constantino, mas, por trazer consigo o sonho de uma fraternidade onde todos são próximos passou a ser conhecido como Primim. O conheci quando criança veio morar próximo a rua em que nasci. Desajeitado, manso de coração, porém forte fisicamente, de cara, os meninos o escalaram para jogar de zagueiro. Sem muitas habilidades com a bola bastou apenas lhe dizer que seu papel era defender. Pronto! Não passava atacante algum e a bola só passava mesmo através dos costumeiros pênaltis que ele cometia em sua missão. O que lhe rendeu a alcunha de “Brutual”.
O reencontro agora um novo homem. Tornou-se ativista político, frequentou os bancos da escola vermelha, experimentou o afiado e camuflado punhal de desastrados companheiros. Mas sonha e acredita com o lado bom da política, tanto que lançou sua esposa como candidata a vereadora de Oeiras. Caderno debaixo do braço saiu Primim pelas ruas a pedir votos para a sua digníssima mulher. Chegou a listar 2000 priminhos e priminhas que lhe prometeram o voto de confiança. Mas como se diz que voto é como ovo, sobraram poucos nas urnas. De inquebrantável esperança repetiu o feito e lançou novamente o nome da companheira, desta vez para concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado. Contra todas as artimanhas que envolvem estas campanhas, obtiveram quase 500 votos. Foi sim um fato histórico. E saiu Primim a dizer que é possível transformar, que se pode ir longe, e que o sol nasceu e é para todos. Quando saiu a conversa sobre mudanças nas regras da política eleitoral e que uma candidata que obtivera 30 votos poderia assumir uma cadeira, Primim saltou da cadeira, piscou freneticamente, esfregou as mãos, colocou o sorriso no rosto e saiu pelas ruas a espalhar a esperança recém-nascida. Para aqueles que desdenhavam se saia com esta: - Ora Primim, ora Priminha, se com trinta pode “magina” com quinhentos.
Recentemente fez uma sondagem de cunho pessoal e apregoa agora por onde passa que sua mulher está em primeiro lugar na corrida pela sucessão municipal de 2012. Existem pessoas sem graça, que parecem usar viseira. Uma dessas, deselegantemente o mandou ir pra roça. O sorriso fugiu-lhe por instantes, porém reagiu dizendo que sentia orgulho de ter sido da roça, mas que agora tinha em planos, outra colheita.
-Olha Priminha, pode até nascerem calos em minha língua, mas nestas mãos, jamais- Tentou encurtar a conversa. Mas, a senhora não desistia de espezinhá-lo lembrando-lhe que até seu “importante marido” naquele instante estava na roça. Sem papas na língua foi ele curto e grosso:
-Ora Priminha, é porquê ele é Zoião!- Recompôs o riso e saiu a cumprimentar outros priminhos e priminhas pelas ruas da velha urbe.
Quiseram as sábias mãos do destino que depois de muitas andanças eu viesse ter-me novamente aqui. Estou temporariamente numa rua bastante engraçada que embora tenha o nome de Dr. Fulano de Tal, já foi rua do Sol Nascente. Sinto-me feliz por morar numa rua com o nome de sol nascente. Renova a esperança, me dá lições de um novo amanhecer. Ah, e neste momento em que teço essas linhas, estou frente ao encantando leme. Olhando e vendo o que ninguém vê, sentindo o que ninguém sente. Um pequeno rebanho pasta no alto encantado, no meio deste se move arisco, um animalzinho de tonalidade amarelo reluzente. Penso: poder ser o carneirinho de ouro.
*Jota Jota Sousa é poeta e escritor oeirense