
Obrigado, Dom Augusto!

* Por Gutemberg Rocha
No próximo dia três de julho, Dom Valdemir Ferreira dos Santos, oriundo da Arquidiocese de Vitória da Conquista, na Bahia, será empossado como Bispo da Diocese de Floriano, em substituição a Dom Augusto Alves da Rocha, que pediu renúncia após completar 75 anos de idade, conforme prescreve o Direito Canônico. Dom Augusto, hoje com 76 anos, comemorou em fevereiro passado o jubileu de ouro da sua ordenação sacerdotal. Foi homenageado, então, com uma grande festa, que teve como ponto alto a missa solene na igreja de São Pedro de Alcântara, Catedral da Diocese, com a presença de oito bispos e aproximadamente setenta padres. Uma grande comemoração. Grande e merecida, pois são cinquenta anos de bons serviços prestados à Igreja e às comunidades nas quais atuou, sempre firme na missão de anunciar o Evangelho e denunciar as injustiças.
Tenho pouco relacionamento direto com ele, mas muitas vezes pude testemunhar o seu zelo pelas coisas de Deus, principalmente no cuidado com as ovelhas da Diocese de Oeiras-Floriano, para cujo desmembramento seu empenho pessoal junto à Santa Sé foi decisivo. Oeiras voltou a ser sede de diocese, condição há muito almejada pelo povo oeirense, e foi criada a nova Diocese de Floriano. De minha parte, como oeirense, quero manifestar aqui a minha gratidão. Muito obrigado, Dom Augusto. Que Deus o abençoe sempre!
Dom Augusto tem de sacerdócio praticamente o que eu tenho de vida. Eu tinha apenas três anos de idade quando da sua ordenação, e quinze anos depois nossos caminhos se cruzaram. Em 1975 fui estudar em Floriano e costumava frequentar a igreja de São Pedro de Alcântara, onde ele exercia a função de Vigário. Naquele mesmo ano, ele foi nomeado e ordenado bispo de Picos. Eu estava presente na cerimônia de ordenação, em Floriano, e foi naquele momento que tomei uma decisão de importância fundamental para minha vida. Tocado pelas palavras do celebrante, Dom José Freire Falcão, que alertava para a necessidade premente de operários para a messe do Senhor, resolvi dizer sim ao apelo da Igreja e candidatar-me ao sacerdócio. Não cheguei a me ordenar – percebi a tempo que ser padre não era a minha vocação –, mas a vivência no Seminário marcou-me para sempre e de forma extremamente positiva. Mais um motivo para minha gratidão. Obrigado novamente, Dom Augusto!
Como bispo de Oeiras-Floriano, Dom Augusto exerceu um pastoreio digno de admiração e elogios. É verdade que sentíamos sua falta no dia-a-dia e às vezes em algumas datas especiais do calendário litúrgico de Oeiras, mas acredito que ele procurou ser o mais justo possível na assistência às sedes da Diocese. Na Semana Santa, por exemplo, sua presença de certa forma se equilibrava entre as duas cidades. Num ano a prioridade era Oeiras, no outro era Floriano. Se não me engano, Oeiras até prevalecia um pouco nessas ocasiões, pois a Missa dos Santos Óleos, assim como outras cerimônias, era sempre realizada na Catedral de Nossa Senhora da Vitória. Talvez para compensar a ausência do Bispo no nosso cotidiano e certamente pela forte tradição oeirense no que concerne às festas religiosas em geral e à Semana Santa em particular. E entre várias iniciativas suas que vieram enriquecer as tradições da velha capital, destaco aqui uma que espero tenha vindo para ficar: a Serenata Pascal.
A Serenata acontece pouco antes da Vigília Pascal, na noite do sábado anterior ao Domingo da Ressurreição, no adro da Catedral. Acompanhado pelos tradicionais bandolins, além de violão e teclado, o público presente, tendo à frente um coral meio que improvisado, entoa deliciosas músicas do cancioneiro popular, como um “aperitivo” para a bela cerimônia litúrgica que se aproxima. Canções como “Felicidade”, “Luar do Sertão” e “Asa Branca” têm cadeira cativa no repertório. O canto suave se espalha pela Praça das Vitórias, afagando as paredes do velho casario e impregnando de paz e nostalgia a noite que silencia na expectativa da Glória do Senhor. É um momento divino! Por isso digo, mais uma vez:
Obrigado, Dom Augusto! Muito obrigado!
* Gutemberg Rocha é do Instituto Histórico de Oeiras