
Quando a máquina apita: IA e os novos rumos da arbitragem esportiva
17/06/2025 - 13:21Por Aline Gonçalves Jatahy
* Por Augusto Brandão
Aproveitei o feriado de Nossa Senhora da Aparecida, para visitar minha mãe Socorro e rever Oeiras.
O bom é que estava acompanhado da minha mulher Osmarina, do meu filho Rildo, e de um casal amigo, Zé Ribeiro e Alzerina.
Como faço todas as vezes, vou do beco Coelho Rodrigues até à esquina com a agência dos Correios.
Paro, penso e admiro aquele manto meio retangular da cor do céu debruçado sobre a Praça da Vitória.
Então, vejo como é esplendorosa a praça da matriz de Oeiras.
Portas e janelas entreabertas. Cachorro solitário deitado na grama. Menino correndo atrás da bola. Casal conversando do outro lado da praça. Vida.
Casas com suas inúmeras janelas, fachadas descaracterizadas pelos donos modernos, casarões guardando segredos.
Ali, guardam-se sonhos, esperanças, fuxicos, conversas jogadas fora, traquinices, molequices e tudo o mais que a imaginação e a criação do povo oeirense permite.
Aliás, aos poucos, Oeiras vai perdendo muito a sua História.
São os casarões desmoronando, sem que as autoridades façam qualquer coisa.
São os ambientes internos, demolidos, na busca da modernidade, no caso das cozinhas com seus fogões a lenha.
Se bem que dava para conciliar o antigo, histórico, com o moderno e com o contemporâneo.
É triste ver todo aquele ambiente, que caracterizava uma cultura, ser simplesmente destruÃdo. É o mesmo que enterrar parte da cada um de nós, que conviveu, naquele tempo, desconfortável e duro, mas era nosso tempo.
Mas, vou voltar à visita a Oeiras.
Começo pelo Morro do Leme.
E, assim, pude observar como a primeira capital piauiense é esplendorosa. Vista do alto, nem se fala!
Oeiras é uma poesia, que se desmancha em água com açúcar, e refaz a esperança de quem a ama sempre.
Depois de quarenta anos, tempo que deixei a cidade, numa madrugada fria e terrÃvel, não esperava que Oeiras fosse tão linda. Muito mais do que imaginei!
Lá de cima, tudo é maravilha de Deus, como diz minha mãe.
São velhas construções e outras desconhecidas. Ruas tortas e becos quase sem saÃda. Pessoas andando devagar. Carros nas suas pressas.
Cá em baixo, no entanto, a tristeza é grande.
A sujeira toma conta das ruas. As motos avançam sobre as calçadas. O feirante fica no fogo cruzado.
Mesmo assim, a beleza sobrepõe. Então, fui passear por recantos inesquecÃveis da minha terra-natal.
Da Rua Coelho Rodrigues, desloquei-me à Rua do Fogo e dei de frente com a casa, na qual nasceu o médico, poeta, escritor e jornalista José Expedito Rêgo, na minha época, a casa de Dona Rêgo.
A atual moradora, LÃvia Rêgo, sabiamente, resolveu conservá-la. Não no seu todo, mas manteve suas caracterÃsticas básicas de fachada e tudo o mais. E boas lembranças.
No momento, pela religiosidade da terra, a visita à casa de Chico Rêgo e da minha irmã Socorrinha, é obrigatória pelo acervo de peças sacras que o casal reúne em sua sala de visita.
Sigo viagem pela Rua do Fogo, passando pelas janelas e portas da casa de "Seu" Dito e dona Olga, hoje morada de um sobrinho. Passei próximo à ponte do riacho Mocha, andei por um beco estreito e saà na Casa do Divino, na outra ponta da Praça da Matriz.
Oeiras é um labirinto com muitas saÃdas. Então, não sei o porquê de tantas pessoas, sem juÃzo, como se costuma dizer na cidade. Que o diga Gutemberg Rocha com seu bloco Joga o Barro na Parede.
Sim, a Casa do Divino é uma visita obrigatória para os devotos ou não do Divino EspÃrito Santo. Na minha época de moleque, dificilmente você não encontraria uma famÃlia que não tivesse alguma filha com o nome do pombo.
Ali pertinho estava a Casa de Cultura, com suas 14 janelas fechadas, coloridas, onde morou, por muitos anos, o Dr. Gentil, dentista e pai da minha professora, dona Raquel. Muito bonita e muito bem utilizada, mas - confesso - achava que seu interior era bem maior.
Subi pela Praça da Matriz, pisei em cada um dos degraus da praça da Bandeira, fui até o coreto, passei pelo Café Oeiras e sosseguei o juÃzo na água benta da igreja da Vitória.
Lá, tiramos fotos, falei com o irmão de Titica, filho mais novo de Antônio Dentim, rezei, renovei minha promessa de menino e subi até os sinos.
Como era pouco mais das nove horas da manhã, embora a tentação fosse grande, decidi não mexer nos sinos, mesmo porque "os tempos" eram outros e o bispo também.
Curioso, observei que o último conserto no relógio foi feito por um técnico de Juazeiro do Norte, no Ceará. Por isso, talvez, não esteja funcionando.
Depois foi a vez de passar, rapidamente, pelo Palácio do Bispo, hoje o Museu Sacro. Todas as vezes que vou a Oeiras esse prédio está fechado.
Com o calor intenso de outubro, recolhi-me na casa da mamãe e resolvi tomar uma geladinha, com tira-gosto de linguiça caseira comprada no Chico Nunes. Sempre na companhia da minha irmã Mercezinha e do casal amigo.
À tarde, depois das 16 horas, retomei a viagem pela Oeiras indomável, ou como dizia meu tio José Expedito, invicta. Se bem que Paulo da Ester diz que não entende muito bem esta história, mas concordo com o tio Zé.
E quem quiser entender ou procurar explicações, leia o coração e o sentimento de quem fez a afirmativa.
O próximo destino foi a fazenda Primavera, do meu avô Assuéro, estação do ano todo.
Olhe! Todas as vezes que passo pela ponte antiga do Riacho Mocha e vejo em que foi transformado, dá-me uma tristeza sem dó.
Pelo visto, não dá para acreditar que um filho de Oeiras tenha feito aquilo e não procure se redimir do erro que cometeu. Sinceramente.
Não conheço o prefeito eleito de Oeiras, Lukano Sá, mas o seu pai, B. Sá e, principalmente, seu tio Raimundo, o Dim, com quem fui moleque de rua e brigas na pracinha e no Beco de Pedro Careca, "Seu" Casimiro.
Como cidadão oeirense, mesmo distante, entendo que o lÃder B. Sá tem uma dÃvida grande com a História de Oeiras e do PiauÃ, que o Lukano pode muito bem resgatar, ou seja, recuperar o leito do Riacho Mocha, transformado em esgoto a céu aberto.
Acredito que Lukano nunca tenha tomado banho de calção nas águas cristalinas dos riachos Mouca e Pouca Vergonha, porque, com certeza, ele teria vergonha do que são hoje.
A passada pela Primavera foi curta e ligeira, mas o tempo suficiente para renovar o ar dos pulmões, sentir o cheiro do curral e rever as cercas de pedra, a porteira, a cancela, as mangueiras. Como era cedo, não deu para ouvir o sino da Matriz repicar ao meio dia. E vovó Carmem mandar todo mundo fazer o Pelo Sinal e o Nome do Pai.
Mesmo já tendo admirado Oeiras, do alto do Morro da Cruz, não deixei de emocionar-me mais uma vez. É a vista panorâmica mais bonita da velha capital piauiense. Mas se olhar de lado, no entanto, muda tudo, porque um desmatamento criminoso está deixando o solo desnudo e à noite, pelo que percebi casais de jovens nas suas motos, bebendo e fumando de tudo. Não acredito que as autoridades não saibam disso.
De lá, Oeiras está mais próxima, mesmo sem muito verde, as praças dão aquele ar de alegria; as ruas de pessoas em movimento, as igrejas de um povo de fé. Mesmo levando-se em conta os automóveis, circulando sem regras, e as motos desembestadas com candidatos à morte na direção e na garupa.
Depois de um passeio desses, não poderia deixar de rever o quintal da casa do vovô Assuéro e encontrar, no mesmo lugar, os velhos pés de umbu e siriguela, com suas copas alteradas pelo tempo. E a casa do vovô Antônio, no Canela, hoje, tão perto, porém, quando menino, era uma viagem longa até lá.
Para fechar os três dias de visita, no perÃodo de calor intenso, quando até as noites são quentes, nada melhor do que uma geladinha, na casa da minha mãe, com tira-gosto de paçoca.
E ainda matei a saudade da frigideira, do "fricassé" de arroz com feijão. Ah! No café da manhã, tinha comido bolo corredor e cuscuz de arroz. E, na merenda, teve peta e caridade.
Ia esquecendo que, à noite, teve bolo frito, tapicoa(beiju) de macaxeira com aquela manteiga de nata. Sentados na calçada, debaixo do céu azulado, ainda sobrou tempo para debater com o Paulo e a Ester, a polÃtica de Oeiras. E que polÃtica! Se bem que não é diferente do resto do paÃs. E talvez do mundo. Ainda bem que não deu nenhuma indigestão.
Oeiras é muito mais do que uma cidade que sacia a saudade da gente. É, sim, um coração que pulsa na alma da gente e nos enche de alegria.
A visita foi significativa, maravilhosa, inolvidável.
Oeiras, terra-natal, que a esponja do tempo jamais a apagará da minha memória.
Fortaleza, 22 de novembro de 2012
Augusto Brandão
augustocrbrandao@gmail.com
*Augusto Brandão é oeirense, residente em Fortaleza/CE, onde é Diretor Editor do periódico TRÂNSITO EM REVISTA