
Opinião: A luta pela Diocese

(*) Por Ferrer Freitas
O responsável maior pela criação da Diocese de Oeiras há 70 anos foi, sem dúvida nenhuma, o Cônego Antônio Cardoso de Vasconcelos. Orador extraordinário, o então pároco da primeira capital conseguiu arrebanhar oeirenses ilustres para uma luta insana, já que cidades outras do centro-sul do Piauí, como é o caso da já progressista Picos, reivindicavam a primazia. Evidentemente que Cardoso contou com o apoio decisivo do então arcebispo de Teresina, Dom Severino Vieira de Melo, homem sério e de palavra. Não tergiversava em suas decisões. Dizem que dava de tal modo importância a horário que deixou de participar de várias sessões solenes comemorativas de alguma data, geralmente programadas para realização no Teatro 4 de Setembro. Bastava não começarem na hora marcada para ausentar-se deixando o seguinte recado: “hora é hora; não é antes nem depois.”
Decidida a criação da diocese pela bula “Ad Dominicis Gregis Bonum”, do Papa Pio XII, o cônego dá início à arrecadação de recursos para sua instalação. À frente da comissão acima citada passa a visitar pessoas abastadas na tentativa de angariar os recursos necessários. Em algumas casas eram bem recebidos e o intento alcançado. Em outras, nem tanto! Dizem que um ricaço da cidade, mas pão-duro de fazer dó, ao avistar o pessoal em direção à sua casa, o cônego à frente, escondeu-se por trás da porta de entrada (ou da rua) deixando no entanto visível seus pés metidos em pantufas. Após o bate-palmas, apareceu um serviçal que perguntou de que se tratava, adiantando logo que o dono da casa havia se ausentado. Contam que Cardoso teria dito: “diga a ele que quando sair leve os pés!”
A comissão tinha entre os participantes Possidônio Queiroz, Assuero Rêgo, dr. Paulo de Tarso, Joel Campos, André Holanda, José Sá, João Diogo Filho, para citar somente estes, e resolveu empreender viagem a Picos com o intuito de apaziguar os ânimos e convencer as autoridades da cidade que seria importante a criação da diocese em Oeiras, já que tudo começara ali. E lá se foram certos de que seriam bem recebidos e entendidos, o que jamais ocorreria ante a profunda mágoa de muitos picoenses pelo que consideravam uma falseta com a cidade. Ainda bem que à época lá residia, com a família, um oeirense de quatro costados, Godofredo Carvalho, pai do desembargador José Luís Martins de Carvalho, falecido. Ao tomar conhecimento da iminente chegada de seus conterrâneos pega um veículo e vai ao encontro do grupo para impedi-lo de entrar na cidade, tentando evitar achincalhes ou até mesmo brigas. Ainda bem que os oeirenses entenderam e deram a volta imediatamente.
Pois bem. Para encerrar, permito-me fazer um apelo às autoridades da minha cidade. Recoloquem em algum lugar do centro histórico a estátua do Cônego Antônio Cardoso de Vasconcelos, retirada de espaço nas imediações da catedral. Alguém até me falou que fora aprovado o canteiro central da avenida situada entre o antigo prédio da prefeitura e a casa que foi residência, por muitos anos, do dr. Paulo de Tarso Ribeiro Gonçalves. Não se faria homenagem maior ao velho cônego.
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras