
Opinião: Ariano Suassuna, um sertanejo convicto!

* Por Carlos Rubem
No final dos anos noventa, num congresso do Ministério Público, em Maceió, conheci, pessoalmente, o escritor Ariano Suassuna. Fiz lá minha tietagem, claro!
Em 2004, quando da primeira edição do Festival de Cultura de Oeiras, o Instituto Histórico local, por mim presidido, à época, foi um dos realizadores deste evento. Assim, pela segunda vez, deparei-me com o autor de “O Auto da Compadecida”, exatamente no dia 15 de agosto daquele ano, num domingo radioso, por volta das 12h.
Ariano chegou acompanhado de sua esposa Zélia e do seu genro Alexandre num voo especial direto do Recife para a Primeira Capital do Piauí. Nesta ocasião, foi a primeira oportunidade em que pisou no solo do nosso Estado. E olha que não lhe faltaram convites anteriores!
Fui recebê-lo no campo de aviação juntamente com Dagoberto Carvalho Jr, Ferrer Freitas, Joca Oeiras e outros. Foi levado à Pousada do Cônego. Quando ele avistou a jesuítica Igreja de Nossa Senhora da Vitória, exclamou: “Já valeu a pena ter vindo aqui!”.
Em seguida, foi-lhe oferecido um concorrido almoço na casa do meu irmão Paulo Jorge. Rolou muita conversa, registros fotográficos!
Lá pelas 17h, depois que fez a sesta na dita hospedaria, vi-o caminhando pela Praça das Vitórias, em largas passadas vestindo calça e paletó de linho branco, bem ao seu estilo. Desci do carro e perguntei-lhe para onde desejava ir: “Quero tomar cajuína!”. Conduzi-o a uma lanchonete. Não tardou chegar pessoas querendo autógrafo. Até mesmo falou ao telefone com a arqueóloga Nièd Gudon, sua amiga, que se encontrava na Serra da Capivara. Depois que se fartou com este refrigerante natural, esteve descortinando a paisagem colonial da cidade a partir do patamar do referido templo católico. Uma cena chamou-lhe sua atenção: Dona Julinha Nunes sentada numa cadeira colocada na calçada de sua casa. Ao saber de quem se tratava, quis cumprimentá-la. “A senhora fez-me lembrar da minha primeira professora em Taperoá! (PB)”, ressaltou.
À noite, fui pegá-lo na rancharia e o levei ao anfiteatro do Campus Professor Possidônio Queiroz – UESPI. No percurso, quis saber nomes dos literatos da velha urbe. Declamei-lhe o soneto “Senhora da Bondade” da lavra do poeta Nogueira Tapety, o que muito lhe agradou.
A Aula Espetáculo por ele ministrada naquele centro educacional foi uma explosão de sabedoria e bom humor. Muito solícito, atendeu a todos que queriam vê-lo de perto.
Posteriormente, esteve assistindo parte da programação artística daquele evento seminal no Café Oeiras.
No dia seguinte, visitou o Museu de Arte Sacra de Oeiras e a nossa “amada Catedral”. Fez interessantes comentários acerca das nossas peças religiosas.
A presença dele fechou com chave de ouro a memorável efeméride. E a partir de então, por onde andava pronunciando as suas afamadas palestras, sempre fazia referências elogiosas a Oeiras, inclusive incorporando na parte audiovisual, cenas da arquitetura da velhacap.
Tais lembranças chegaram-me em face da morte desta grande personalidade ocorrida no final da tarde de hoje (23/07/14), no Recife, vítima de um AVC, aos 87 anos de idade. Foi-se o homem, ficou sua obra imortal!
* Carlos Rubem Campos Reis é promotor de Justiça e presidente da Fundação Nogueira Tapety em Oeiras