
OPINIÃO: O descimento da cruz

(*) Por Ferrer Freitas
Mesmo não indo a Oeiras ultimamente com a frequência costumeira , por razões que não importa declinar, acompanho tudo que lá ocorre. A Semana Santa então nem se fala, sobretudo Passos, Fogaréu e Descimento da Cruz, mostrados ao vivo pela TV. E é sobre esta última cerimônia que gostaria de ater-me ante a extrema preocupação que me invade, anualmente, quando levada a efeito. Merece ainda ser dito, até com o fito de explicar a muitos, de lá e alhures, o porque da maioria de coadjuvantes para a retirada do Senhor Morto da cruz e, ato contínuo, levá-Lo no esquife em procissão, ter o sobrenome Freitas.
Pois bem, de 1872 a 1906 foi pároco de Oeiras José Dias de Freitas. O padre Freitas, como era conhecido de todos, com idade próxima aos 50 anos conheceu, vinda do interior do município, Esperidiana Roza , com quem viveu maritalmente, deixando muitos filhos. Tomei conhecimento , por informação de um neto ilustre do reverendo, o Coronel José Otino de Freitas, que ele teria colocado o Papa Leão XIII a par de tudo através de carta, mas não obteve resposta, levando-o a crer que Sua Santidade considerou tratar-se de um “padre secular” (ou diocesano), caso dele. Registre-se que José Otino foi governador de Rondônia, quando ainda Território. O certo é que na cerimônia do Descimento da Cruz e em outras da Semana Santa de Oeiras de antigamente, a maioria dos coadjuvantes detinha o sobrenome Freitas. Mas o “padre velho”, como também era conhecido , não foi o único em Oeiras a manter relacionamento marital. O Cônego João de Souza Martins, filho de Manoel de Souza Martins, o Visconde da Parnaíba, também deixou alguns filhos. Registre-se que os cearenses José de Alencar, romancista, e Clóvis Bevilacqua, jurista, eram filhos de padres.
Afinal, o que tanto me preocupa na cerimônia do Descimento da Cruz em Oeiras? É, sem mais delongas, o fato do madeiro (cruz) objeto da cerimônia realizada no adro da catedral ter somente cerca de 1 metro fincado e, seguramente, mais de 5 a descoberto para a realização do ato que antecede a procissão. Além do peso da imagem, para retirá-la sobem em escadas apoiadas nos braços da cruz, fazendo as vezes de José de Arimatéia e Nicodemos, meus primos Clóvis Jr. e Pedro Freitas, cada um com bem mais de 70 quilos, perfazendo um total superior a 140. Isso, somados aos cinquenta e poucos do Senhor Morto, chega-se a total considerável que empurra tudo para a frente, com risco iminente, tenho pra mim.. Tanto é verdade que ao chegarem aos braços os tiradores da imagem, percebe-se uma ligeira guinada para a frente da cruz.
Creio que não custava nada colocar-se à altura (ou pouco acima) dos braços uma corrente que atracasse em argola chumbada na parede da fachada do templo. Com isso dar-se-ia uma total segurança à secular imagem. Merece ainda acrescer, finalmente, que a pelica do ombro esquerdo da imagem está bem desgastada , como verifiquei ante a dificuldade de acomodar o braço no esquife.
(*) Ferrer Freitas é trineto do Padre Freitas e ex-coroinha da Catedral de N.S. da Vitória