
Opinião: Oeiras e a CULTURA do faz de conta

*Por Lameck Valentim
Há dois anos, afastei-me da direção do espetáculo A Paixão de Cristo em Oeiras. Desde então, acompanho o espetáculo apenas como espectador e como amante do teatro, acompanhando também a luta dos meus ex -companheiros para manter este espetáculo vivo.
No meu último ano como diretor, montamos o espetáculo a duras penas, com o” pires na mão”. Tivemos o apoio da FUNDAC, e o humilhado apoio da prefeitura de Oeiras. Digo aqui, que enviamos um projeto, atendendo aos requisitos exigidos, em especial o prazo, solicitando um aporte de R$ 5,000,00. O que nos foi dado foram R$ 1. 500,00 e com atraso, bem depois do dia em que o espetáculo foi apresentado.
Por essa falta de apoio, por esta falta de incentivo ao teatro, resolvi fechar as minhas cortinas, sair de cena. Cansei de ver uma cultura de faz de conta, uma cultura que vive a ser apenas mais do mesmo, com shows em um circuito elitizado e exposições que o povo passa longe. Uma cultura que é um verdadeiro faz de conta. O que há de novo nas artes e na cultura de Oeiras? Desconheço. Tudo é só mera repetição, nada se faz, nada se cria, tudo apenas se repete, e numa repetição em que o povo fica sempre de fora.
Realizar exposições e shows apenas no centro, no tal circuito Café Oeiras é fazer cultura? O que tem sido feito na nossa periferia? Nada. Até mesmo por que os gestores culturais de Oeiras nem conhece os bolsões de pobreza de Oeiras.
Mas o que motivou essa crítica, foi a falta de respeito com que o pessoal do grupo teatral Mãos de Oeiras, que atualmente realiza A Paixão de Cristo de Oeiras foi tratado pela Prefeitura de Oeiras e a Secretaria de Cultura. Depois de dois meses de ensaios, o grupo simplesmente foi deixado na mão às vésperas do espetáculo. Nesta terça- feira, todos os atores foram surpreendidos com um NÃO da prefeitura de Oeiras, que não honrou com o seu compromisso em arcar com parte das despesas do espetáculo. Durante todo o dia, os diretores e produtores tentaram em vão falar com os gestores e não conseguiram. Montar este espetáculo grandioso sem o incentivo da prefeitura é inviável, haja vista a sua proporção. O grupo em momento algum, pediu que se bancasse todas as despesas, até por que parte do figurino já tem.
Atores de outras cidades foram convidados e já estavam em Oeiras. O cantor Francis Lopes que interpretaria Pilatos, chegaria a cidade na manhã desta quarta e foi surpreendido com esta vergonhosa situação.
O interessante é que a secretaria de cultura realiza um projeto chamado Teatro Vivo. Que ironia! Mais um faz de conta, pois o teatro está morto, e hoje jogaram “a última pá de cal”. Ah, pode ser teatro vivo, pois estão trazendo grupos de outras cidades. Nada contra, o intercambio é necessário. Mas faz viver o teatro de fora, enquanto mata o teatro de Oeiras, justamente o que deveriam fomentar.
É preciso deixar a zona de conforto, aprender a ouvir as críticas, pois não existe unanimidade na cultura de Oeiras. É preciso conhecer as reais necessidades culturais do nossos povo. É preciso sair desses circuitos do centro da cidade, conhecer nossa periferia, levar os bens culturais onde o povo está. É preciso respeitar e valorizar nossos artistas.
Louvo aqui o empenho e dedicação de Wellestron Martins, Socorro de Felão, Agivanildo Sousa, Pompeu Sousa e todos aqueles que resistiram bravamente a tantas portas batidas em suas caras.
*Lameck Valentim é diretor teatral, produtor cultural e ex-diretor do espetáculo A Paixão de Cristo em Oeiras