
Opinião: Rio de sol, de céu, de mar

(*)Por Ferrer Freitas
E pensar que eu morava no Rio há 50 anos, quando das comemorações de seus quatrocentos! Aliás, para ser exato, lá chegara em março de 1962 a convite de uma santa tia-avó de nome Rita Bastos Reis, figura inesquecível, de importância tal na minha vida que palavras não expressariam o carinho e gratidão que a ela dedico. Fora para lá no início dos anos trinta, onde já moravam sua mãe e três irmãos, vindo a contrair matrimônio com um músico extraordinário de nome Dyonízio Rosa Reis, mineiro, maestro da famosíssima Banda do Corpo de Bombeiros, o Rio ainda Distrito Federal. Para eterna gratidão de nós oeirenses, numa de suas vindas a Oeiras ele compôs o hino da cidade, com letra do excelso poeta Expedito Rêgo, sem que os dois fossem sequer apresentados, o que só ocorreu algum tempo depois, por mim, para alegria e palmas de todos que estavam em evento na União Artística Operária Oeirense , isso já em 1985, se não estou enganado.
Pois bem, agora a cidade comemora , com muita festa, 550 anos de sua fundação entre o Morro Cara de Cão e o Pão de Açúcar, à frente Estácio de Sá, sobrinho do terceiro governador-geral do Brasil. Mem de Sá, O nome Rio é justo por que alguns navegantes comandados por Gaspar de Souza, que adentraram a baia bem antes, precisamente em 1º de janeiro de 1502, cuidarem tratar-se da foz de um grande rio. Daí, Rio de Janeiro. O município, no entanto, só foi fundado em 1º de março de 1565 com o topônimo São Sebastiao do Rio de Janeiro, em homenagem a Dom Sebastião, então rei de Portugal.
A beleza da cidade é algo que impressiona. Está situada entre o mar e a montanha, com a Floresta da Tijuca, maior área verde urbana do mundo estendendo-se das encostas do morro Corcovado, onde se ergue o Cristo Redentor, ao Alto da Boa Vista. As praias (Leme, Lido, Copacabana, Leblon, Arpoador , Barra etc.) são belíssimas, com seus calçadões em pedra portuguesa que permitem caminhadas intensas além do uso das ciclovias em bicicletas. Merece registro que a “Princesinha do Mar”, como também é chamada Copacabana, por conta de samba antológico, já há algum tempo, transformou-se em bairro de idosos. São inúmeros os casais indo e vindo. Evidentemente que a bandidagem existe, como não poderia deixar de ser, o que requer cuidado e prudência. Mas, como resistir a um chope gelado em bares com mesas no calçadão? É como diz Tom em “Lígia”, tentando desdizer-se : “Eu nunca quis tê-la ao meu lado num fim de semana/um chope gelado em Copacabana/andar pela praia até o Leblon...” Devo registrar que é do “Samba do Avião”, dele, Tom, o verso que dá título à crônica. Aliás, nunca é demais dizer que a musicalidade da cidade é algo incomparável . É o berço do samba. Alguns antológicos, de autores, entre vivos e mortos, cariocas lá nascidos ou não, a saber: Noel, Cartola, Lamartine, André Filho, Orestes Barbosa, Nelson Cavaquinho, Braguinha, Ataulfo, João Gilberto, Tom, Vinícius, Baden, Carlinhos Lyra, Chico, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Nelson Sargento e outros bambas que marcaram suas vidas com belíssimas páginas da MPB!
Vale registrar, finalmente, que o autor do título “Cidade Maravilhosa” para o Rio é o mesmo de “Cidade Verde” para Teresina, o grande maranhense Coelho Neto. Só que o de lá inspirou o carioca André Filho a compor para o carnaval de 1934 a marchinha de mesmo nome, hoje hino da cidade.
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras