A profundidade da dor e a superficialidade da exposição
31/03/2024 - 18:01Espalhar fotos e vídeos de vítimas fatais de acidentes constitui um ato criminoso.
Aniversariou dia 22 de janeiro, quando chegou aos 90 anos de fecunda existência, a oeirense Coriolana Carneiro, que outra não é senão a caríssima Corizinha, extraordinária mulher, mãe devotada, pessoa das mais solidárias de que se tem notícia em Oeiras. Viúva de Arlindo Dias Carneiro, primo do meu pai, outro ser humano de excelsas virtudes, com ele teve os seguintes filhos; mulheres: Benedita (Bena), Eugênia (Eugeninha), Conceição, Teresinha e Maria do Espírito Santo (Mocinha); homens: Luís Gonzaga (Gonga), Francisco, Arlindo (Arlindinho), Antônio, Naziazeno (Nazi), José (Zezim) e Benedito (B. Chula). Teresinha e Francisco, ainda muito moços foram para o andar de cima, lamentavelmente, deixando pais, irmãos e amigos inconsoláveis. Foi, sem dúvida, o momento mais difícil do casal, que teve que aceitar tudo como desígnio de Deus, indiscutível porque insondável. Restaram dez filhos, acrescidos por outros adotados pela extrema generosidade dos dois. Um, marcou época em Oeiras, onde cursou o ginásio, na sua primeira turma. Para nossa tristeza, também deixou-nos fora do combinado, o saudoso Plácido José Ferreira Neto, um companheiro dos meus tempos de Rio de Janeiro, nos anos sessenta.
Amigo de todos os rebentos da prole, permito-me, no entanto, destacar a ligação maior com o do meu tope, como se diz em Oeiras para jovens de mesma idade e altura, Luís Gonzaga, o Gonga, por quem tenho profunda afeição, que se estende a Júlia e Júlio, mulher e filho. Não esqueço jamais nossos longos papos, muitas vezes contando com a presença de um compadre comum, Bolívar, o velho Bola, autor do apelido Gonga, inevitavelmente entornando uma cervejinha, deixada de lado pelos dois, lamentavelmente, já há algum tempo. Eu, o compadre Pedro deles, ainda tomo umas duas, de leve e de imprudente! O Beco do Cabaré, que Luís nunca deixou de registrar como seu endereço, desde o nascimento, hoje, por inteira justiça, chama-se Benedito Carneiro, pai da avó Eugênia, uma mulher articulada, como se diz hoje de pessoas sem meias-palavras, herança do pai. Nunca esqueço da historinha do diálogo do velho Benedito com um dileto amigo que resolvera entrar para a política. Ao ouvir do próprio a confirmação, deixou escapar esta pérola: “Pois, compadre, ‘vosmecê’ perdeu a vergonha.” Hoje, seu Benedito Carneiro não precisaria perguntar nada. Teria oportunidade de ver, pela TV, com os próprios olhos, políticos enchendo bolsos, cuecas, e até meias, com dinheiro.
Bem que gostaria de ter estado na confraternização pela nona década de vida da querida Corizinha, realizada na União Artística, Raimundinho, o de Zefinha, com certeza vendo tudo lá de cima ao lado do afilhado, Arlindo, e, naturalmente, soltando sua gaitadinha. O de lá de casa, presente em pessoa, deve ter tomado umas geladinhas, pondo o papo em dia com Arlindim. Mas, nem sempre se faz o que o coração pede ou dita. Problemas (sempre eles!) impediram que me ausentasse de Teresina. Meu abraço a todos nesta crônica, pedindo à Imaculada Conceição, devoção ardentíssima da família , muita saúde para Coriolana, ou melhor, Corizinha, doce e terna figura humana.
(*)Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras