
Plano B

* Por Rogério Newton
Outro dia, fui a um encontro familiar, na casa de um dos meus irmãos. Ele mora em um lugar relativamente pródigo em árvores. Não só a residência, mas também o seu entorno estão em meio a pedaços de floresta nativa, que a expansão da cidade, milagrosamente, não engoliu.
Perto das dez da noite, o vento bulia na folhagem. Era tão agradável o clima, que muitos gracejaram, dizendo, por exemplo, que não estavam em Teresina. Um riacho próximo não tinha água superficial, mas garantia alguma umidade.
Após os elogios, seguiu-se uma discussão sobre as possíveis causas do aumento da temperatura. E aí o leitor pode imaginar um rol imenso, desde explosões no núcleo do sol e chuvas escassas do último inverno a falta de planejamento urbano. Houve divergências, mas num ponto todos concordaram: a presença de árvores melhora o clima, conserva a umidade etc. Se isto é tão óbvio, por que as árvores não são, politicamente falando, um gênero de primeira necessidade em Teresina?
As discussões quase entraram pela madrugada. Alguém lembrou que uma amiga, estudante de pós-graduação em arquitetura, prevê, em trabalho acadêmico, a possibilidade de êxodo urbano, caso persistam o calor abrasivo, a secura do ar, a falta de refrigério para nossas pobres almas.
E agora, não bastasse a quentura - e a “cinzentura da tarde” -, vem a falta d’água. Pela segunda vez, em dez dias, há problemas elétricos na Estação de Tratamento. Em nota divulgada na imprensa, a Agespisa afirma que vai “retomar a produção de água”. Pra mim, isso é uma novidade, pois sempre achei que a água era criação da natureza.
Ano passado, li artigo de um professor universitário europeu. Ele não descartava a possibilidade de panes nos sistemas elétricos mundiais, em consequência do aumento das radiações solares. Me arrependi depois que não guardei o texto. Eu o estaria reproduzindo aqui, com o nome do cientista, seus livros e títulos acadêmicos.
De qualquer maneira, os dois episódios de falta d´água em Teresina, tão próximos um do outro e motivados por problemas elétricos, servem para lembrar que o funcionamento de uma cidade é bastante complexo. A hora não está para gracejos, mas podemos dizer que vivemos por um fio.
Ninguém está preparado para o pior. Muito menos eu. Mas me esforço para ver o lado bom das coisas. Por exemplo: nesta última sexta-feira, choveu em Teresina, chuvinha miúda, é verdade, mas como toda roupa veste o nu, fez a temperatura cair, vertiginosamente, para 40 graus.
Se a coisa desandar, isto é, se a temperatura subir na inversa proporção da água disponível, ponho em ação meu Plano B: vou-me embora pra Oeiras. Lá, o Mocha está arrasado, mas minha casa fica parede-e-meia com uma fábrica de gelo, a cem metros da principal igreja da cidade, onde certamente haverá um pouquinho que seja de água benta e algum devoto que possa suplicar comigo ajuda do Além.
* Rogério Newton é escritor