
Casa é arrombada e tem diversos bens levados no bairro Canela, em Oeiras
03/05/2025 - 20:49Criminosos entraram pela janela da cozinha e furtaram eletrônicos, roupas, alimentos e objetos pessoais durante a madrugada
O critério de distribuição das cestas de ali
mentos do Governo para as centenas de famílias desabrigadas pelo rompimento da barragem de Algodões I no município de Cocal da Estação, é político. Esta tarefa foi entregue a pessoas ligadas ao Governo e a Prefeitura de Cocal, que dentre outras atividades, foram candidatas a vereador nas últimas eleições e aproveitam para entregar os alimentos somente aquelas famílias de sua simpatia.
A denúncia partiu das próprias famílias que estão se sentindo discriminadas sem contar as dificuldades já enfrentadas por causa do rompimento da barragem que deixou muitas delas sem casas e sem outros bens.
No povoado Franco, que fica a menos de três quilômetros da barragem muitas famílias estão revoltadas com dois homens identificados como Felipe Brás e João Garapa, ligados ao município e que fazem a distribuição das cestas encaminhadas pela Secretaria da Defesa Civil do Estado.
Segundo o lavrador João Honório Alves Neto, 34 anos, que por causa da barragem está morando numa tenda de plástico, Felipe Brás sempre que chega com as cestas vai distribuindo para umas famílias e outras não, sendo a ele uma das mais prejudicadas.
Na semana passada Felipe, candidato a derrotado a vereador e ex-dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cocal, por pouco não agrediu a dona de casa Clemilda Maria Machado, 30 anos, mulher de Honório.
Ao ver o homem passar com várias cestas, distribuir para muita gente, inclusive a quem não estaria tão necessitado quanto a sua família, Clemilda esperou Brás retornar após a distribuição das cestas para perguntar o porquê dela não ter recebido os alimentos.
Este fato foi o suficiente para que o representante da Defesa Civil investisse contra a dona de casa com agressões morais. “Se quis receber a cesta tive que ir até Cocal que fica a mais de 12 quilômetros de distancia”, informou o marido da vítima.
As denúncias do casal foram confirmadas por outros moradores do povoado. “O Brás conhece todas as comunidades daqui. É ex-dirigente do sindicato, já rodou o município todo quando estava pedindo votos e ficou com um ranço com quem não votou nele”, afirmou um outro morador que também está sem casa, mas que foi alojado no Grupo Escolar Generosa Vieira de Vasconcelos, que fica na margem da PI que liga Cocal a Cocal dos Alves e a poucos quilômetros da barragem.
O pior é que as famílias praticamente não têm a quem reclamar porque os assessores mais graúdos do Governo, principalmente da Sasc, já foram embora e ficaram apenas algumas pessoas para o cumprimento das ordens. A reportagem ainda esteve a procura do prefeito de Cocal, na tarde de sábado para obter a sua versão sobre as denúncias, mas Fernando Sales, o “Fernandinho” não se encontrava no município.
Outra queixa está relacionada ás cestas que não são suficientes para alimentação das famílias. Segundo um morador, as cestas são distribuídas de 15 em dias e quando a família é numerosa, os alimentos só não acabam porque as famílias recebem de entidades filantrópicas e das igrejas.
Autoridades não comparecem à missa
Exatos 30 dias após o rompimento da barragem de Algodões I as autoridades, principalmente as estaduais, consideradas as principais responsáveis pela tragédia, abandonarem o município de Cocal. A maior prova foi dada na tarde de sábado quando foi realizada a missa de 30 dias da tragédia. Na igreja não havia sequer uma autoridade ligada ao Governo do Estado ou o seu representante. Nem mesmo o prefeito de Cocal, Fernando Sales compareceu ao ato religioso.
Já a população compareceu em massa à Igreja de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro no centro do município. Muitos parentes das vítimas, usando luto ficaram nas primeiras filas e as vítimas aproveitaram para fazer um protesto pacífico usando cartazes nas principais entradas do templo religioso. “Só queremos o que é nosso por Direito”. Não é Culpa de Deus. Alguém tem que assumir”. “Não morreram só familiares. Morreram sonhos. E Agora?”, eram algumas das frases escritas em cartolinas e pregadas nas paredes da igreja.
Quem também falou duro sobre o problema das famílias foi o bispo Diocesano de Parnaíba, Dom Alfredo Achäffher, que celebrou a missa auxiliados por vários padres.
“A terra é de vocês. Será que como discípulos de Jesus Cristo devemos nos curvar diante do que aconteceu?”. Em regimes totalitários a verdade sempre foi camuflada. Será que hoje nós vivemos realmente numa democracia”, perguntou novamente o religioso a uma multidão que ouvia a tudo atentamente.
Dom Alfredo também lembrou que o regime de Roma Antiga era conhecido por camuflar os problemas do povo dando pão e circo e voltou a perguntar se algo semelhante iria acontecer dois mil anos depois no Piauí.
Durante a sua homilia, Dom Alfredo demonstrou que a exemplo de muitos moradores do município, não acreditar nos números apresentados oficialmente pelo Governo. “Será que os bombeiros e assistentes sociais receberam instruções para velar os fatos?”, perguntou mais uma vez. “Numa sociedade democrática todos devem saber a verdade”.
O padre encerrou as suas palavras orientando as famílias atingidas a denunciar ao promotor local, qualquer fato, desaparecimento de pessoas amigas ou parentes. “Se você sabe de algo, procure o promotor que ele tem por dever de apurar os fatos. Senão quiser, procure o padre, ou mesmo me manda uma carta”, pediu.
Por último, Dom Alfredo conclamou as famílias lutar por seus direitos criando uma associação das vítimas atingidas pela barragem. Ele alegou que se as pessoas forem procurar os seus direitos individualmente estarão sujeitas a ser enganadas e terem os seus dramas usados para fins eleitoreiros. (OP)
Diário do Povo