
Por amor ao Divino

* Por Olavo Braz B. Nunes Filho
Após cinquenta dias da páscoa é pentecostes, a festa do Divino. É assim desde os primórdios do homem como hoje somos. As famÃlias se reuniam para o inÃcio da colheita do trigo, principalmente, mas outros produtos também faziam parte do paiol. No inÃcio eram os cananeus, hábeis agricultores daquele tempo, depois vieram os judeus, muito mais chegados a criação de pequenos animais, e habitavam as regiões mais inóspitas do conflitado, ainda hoje, oriente médio
O cristianismo incorporou à sua pauta de festividades esta festa universal. Porém, somente no inÃcio da baixa idade média, é que, a festa de pentecoste chegou a penÃnsula ibérica, através da atitude da rainha portuguesa de então, chamada Izabel, que ao perceber a sua famÃlia em conflito pelo poder, fez promessa fervorosa para união dos seus, quando pai e filho se digladiavam pelo controle do reino. Ao EspÃrito Santo ela prometeu grande festa, se pai e filho se abraçassem novamente, como a graça foi alcançada, o culto ao divino Paráclito começou, com coroa e cetro a um menino filho do povo, por um dia, lastreado de esmolas aos mais pobres e muita comida para as comunidades em geral.
Os colonizadores portugueses, os não assassinos e ladrões, certamente, espalharam a festa por onde passavam. E assim, chegou também a Oeiras do PiauÃ. O historiador Possidônio de Queiroz faz referência de movimentação musical, inclusive, nas fazendas da região de Oeiras. Era algo como a folia do Divino, ainda muito comum em alguns rincões brasileiro, mas em Oeiras, atualmente, é uma festa tipicamente classe média urbana, onde a invocação ao EspÃrito Santo se faz tanto no mundo da racionalidade, bem como, quando se refere ao corpo mÃstico do Cristo. É o que preconiza o teólogo Leonardo Bolf ao dizer que o EspÃrito Santo atua especialmente na história, e a história é feita pelas ações das pessoas e de suas instituições, no jogo de projetos polÃticos e utopias que movem as sociedades contemporânea, que tem também suas estruturas fundamentadas, pelos dons emanados do EspÃrito, tais como:sabedoria,inteligência,conselho,fortaleza,ciência, piedade
e respeito a Deus. Fora disso, seria com certeza a barbárie, é meu entendimento.
Somente no ano de 2008, em Oeiras, é que apreendi o poder advindo, do culto ao Divino.Tanto no que diz respeito a questão cultural, quanto a espiritual. Encantou-me sobremaneira, as milhares de assinaturas deixadas no livro de visitação. Mas maravilhou-me, mesmo, quando o núncio apostólico romano, jogou-se de joelhos diante da imagem do Divino de Oeiras, e orou por longos minutos, na presença atônita e silenciosa duma pequena multidão que naquela oportunidade, o acolhia como visitante ilustre da cidade. Foi emocionante aquela fração tempo. Prendi a respiração. Como, um intelectual daquela estatura, de cultura refinada,mais do que um pianista qualquer, educado em escolas de reconhecimento universal, habituado aos reluzentes assoalhos do poder temporal e espiritual, se abandonara de tal forma, diante de uma imagem sem rebuscamento artÃstico? Só mesmo a força do Verbo que se fez homem.
A partir de então procuramos materializar o nosso trabalho como economista, no eixo da economia solidária e popular, incentivando a indústria da arte e artesanato santeira, a produção de imagens, também do Divino, e colecionar algumas das obras, sem exclusão de mestre e/ou aprendiz, hoje organizados em cooperativa, modalidade associativista. A primeira obra captada foi a do Kim, genro do mestre Dezinho, e um a um fomos adquirindo e estimulando a fabricação livre das imagens. LindÃssimas. E por serem de beleza única no mundo da arte santeira brasileira, já reconhecida como patrimônio imaterial por órgão competente, estamos por amor a Oeiras, doando-lhe todo o acervo, que exposto ao público será a partir do dia 25 de março de 2010.
* Olavo Braz B. Nunes Filho, é oeirense, economista com especialização em planejamento econômico e em ciências ambientais.