
Grupo Arte Sertão apresenta “A Paixão de Cristo” nesta quarta-feira, 16, em Oeiras
15/04/2025 - 17:22Espetáculo será encenado também em Várzea Grande e Colônia do Piauí nos dias seguintes
Desde que comecei a escrever eu me questiono "qual é o papel da arte?", e esse texto é um pouco sobre isso.
Antes de começar, preciso dizer que não sou dançarina, a minha arte é a da escrita. O que significa que ao falar de dança, falarei como uma espectadora admirada, com todo o viés do encantado e não o do encantador.
O mundo da dança se abriu para mim no processo de criação e escrita do meu livro "O Canto do Cisne", um romance onde a protagonista Elena, que é uma jovem atriz e bailarina, almeja ser a estrela de um grande espetáculo de releitura de "O lago dos cisnes".
No livro, Elena passa por diversos testes antes de conseguir realizar o seu sonho, até que a mesma maldição que atinge a personagem que ela interpreta acaba a atingindo também. Tal como na versão clássica, Elena precisará encontrar o tal do amor verdadeiro para se ver livre da maldição, correndo contra o tempo para não perder o papel no espetáculo e nem a própria vida.
Apesar da premissa leve e divertida com toque de fantasia, O canto do cisne aborda temas reais como o uso de drogas, abandono parental e o poder da arte e do amor na recuperação destes jovens.
Foi graças a esse livro que conheci o Flávio Henrique, dançarino, professor de dança e responsável pelo Projeto Social Pingo de Arte, e foi também graças à vivência desse livro que pude entender a magnitude do trabalho do Flávio, o impacto desse projeto na vida de cada um dos envolvidos e na sociedade.
A dança é uma das formas de arte que mais me encantam, há quem diga que foi uma das primeiras artes, lado a lado com a música. O uso do movimento para expressar-se e interagir com o mundo remete a tempos imemoráveis.
Laban dizia que o homem se movimenta a fim de satisfazer suas necessidades. É por meio do movimento que dois humanos geram um terceiro, é por meio do movimento que um bebê começa a se expressar. Por meio dos neurônios espelhos, nós aprendemos a nos mover com os adultos com os quais convivemos na infância, e as danças já foram empregadas para nos ensinar a caçar, lutar, amar e muito mais.
A dança e o sagrado afloraram juntos, e pela dança nós afastamos os maus espíritos por milênios, ao redor do mundo todo. Numa continuidade rítmica a dança vem se transformando, mas sem perder o seu papel no cerne humano. Hoje, podemos ver em um projeto como o Pingo de Arte que a dança ainda pode cumprir a função de afastar “maus espíritos” e de ensinar a amar.
O Projeto Pingo de Arte realiza as suas atividades através da Companhia de Dança Passos de Arte oferecendo aulas de balé clássico, dança contemporânea, popular e danças urbanas para crianças e adolescentes.
Pela dança, a sociedade se transforma, em uma coreografia de cidadania, projetos assim cumprem um papel na inclusão social e no desenvolvimento da consciência humana daqueles que participam, dançando ou assistindo. Ainda voltando a Laban "Um observador de uma pessoa em movimento fica imediatamente consciente, não apenas dos percursos e ritmos de movimento, mas também das que os percursos carregam em si".
Precisamos disso! Precisamos desesperadamente nos tornarmos conscientes! Levar a arte para essas crianças, ensiná-las a ocuparem os espaços com a beleza da dança é um gesto de resistência em tempos tão sombrios. Dando asas à essas imaginações para que elas se reinventem e nos reinventem. Reconfigurem o sentido das coisas, e com a força da expressão da dança, que essas bailarinas serenas possam traçar no espaço uma doce esperança.