
Sem lei e sem alma

(*)Por Ferrer Freitas
O título da crônica é o de um western americano de 1957, dirigido por John Sturges, estrelado por Burt Lancaster, Kirk Douglas e a então belíssima Rhonda Fleming, em que é abordado o famoso duelo ocorrido em 1881 na cidade americana de Tombstone, precisamente no OK Corral , e que vi em 1960 no Teatro 4 de Setembro, à época praticamente destinado à exibição de filmes.
Mas, apresso-me logo em dizer que a lembrança do famoso faroeste é somente para uso de seu título, por demais oportuno para o momento desta nossa amorável Teresina, não só pelo primeiro aspecto, o desrespeito à lei, mas pela perda gradativa de sua alma, contrariando o saudoso A. Tito Filho sobre este último aspecto, de que as cidades têm alma. Gostava aquele mestre de dizer que muitas são alegres, abertas, hospitaleiras. Outras são sombrias, tristes, fechadas. Em outras palavras, são como as pessoas. O crescimento vertiginoso de nossa capital vem deixando os que aqui residem com os nervos à flor da pele, entre outros motivos pelo trânsito caótico ensejado, a meu ver, pelo desmedido número de veículos e espaços de menos para transitarem. Faltam viadutos e vias decorrentes de rebaixamentos, entre outras medidas imprescindíveis. Outro motivo é, sem dúvida, o ineficiente transporte coletivo, elevando de forma considerável o aumento de veículos em cada casa, o que é fácil de constatar observando as garagens.
Pois bem. Resido na Aviador Irapuan Rocha, via de mão-dupla, não sei se rua ou avenida, de intenso tráfego, em casa situada entre a Poti e a Lindolfo Monteiro. Esta, com certeza, avenida. Seu início é na João XXIII , à altura da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), indo até à Visconde da Parnaíba, cortando as movimentadíssimas Senador Arêa Leão, Joquei Clube, Elias João Tajra, Dom Severino e Lindolfo Monteiro, para citar somente as avenidas. Em todos os cruzamentos, existe o que se chama rotatória, de modo a evitar as batidas, o que, lamentavelmente, nem sempre evita, pela inobservância de algo simples: uma vez um veículo dentro da rotatória, o que vem na vertical tem que diminuir a marcha e esperar sua vez. O mesmo deve ocorrer com o que se encontra à altura do cruzamento. Como muitos motoristas não dão a menor bola para isso, sobretudo pela alta velocidade que desenvolvem, a toda momento acontecem abalroamentos . A isso se junta o uso abusivo de celulares pelos que dirigem. E que dizer das motos e dos motoqueiros? E das calçadas de lojas e restaurantes que viram estacionamentos?
Sobre o que falei de alma, poderia estender-me bem . Mas, não quero tornar-me cansativo, ranheta ou até ouvir de alguém , como aconteceu recentemente, partido de pessoa que não conheço : “por que o senhor não volta a morar onde nasceu?” E só queixei-me do calor! Agora, não posso deixar de lamentar a perda considerável de árvores em Teresina, que credito sobretudo ao desaparecimento dos quintais, o que me faz lembrar versos da belíssima letra da canção “Tempo de Quintais”, de Paulinho Tapajós, com música de Sivuca: “Era uma vez um tempo de pardais/De verde nos quintais,/Faz muito tempo atrás,/Quando ainda havia fadas...”
(*) Ferrer Freitas é bacharel em Direito