Sem médicos em seus povoados, moradores do interior do Piauí querem os cubanos

Para descobrir que estava com útero baixo, a razão das fortes dores que sente durante o dia e a noite, a aposentada Maria do Nazaré Batista, de 81 anos, que mora ao lado de um posto de saúde no Povoado Lagoa Seca, na zona rural do município de São Pedro do Piauí precisou ir para outro município Água Branca para encontrar um médico e ir para a capital de seu estado, Teresina distante 120 quilômetros para falar com uma ginecologista, que determinou sua cirurgia.

Apesar das fortes dores, do cansaço e de fortes diarreias, características da doença, Maria do Nazaré Batista ainda está na lista de espera, que já dura dois meses, para marcar a data da cirurgia, histerectomia.

“Eu fui para Água Branca depois que meu útero ficou no vai e vem. Foi lá que o médico falou que teria de fazer a cirurgia. Porque a última vez que um médico tinha me visto na cidade onde mora foi em dezembro.

A ginecologista de Teresina me viu e pediu todos os exames. Agora é esperar que marquem a cirurgia. Para conseguir a cirurgia, a gente tem que falar com a ginecologista em Teresina”, falou Maria do Nazaré Batista, que nunca conseguiu falar com um neurologista para tratar dos sintomas de Alzheimer.

“Faz tempo que eu queria saber qual era a minha doença. Isso está com mais de dois anos. Eu sinto dores na barriga. Eu estou dormindo e acordo com as dores, não posso andar, sinto o peso nas pernas, só vivo tremendo, com tremura”, falou Maria do Nazaré Batista.

São Pedro do Piauí é um dos municípios piauienses que não foram escolhidos pelos médicos brasileiros no Programa Mais Médicos da Saúde.

Sem acesso aos médicos brasileiros, Maria do Nazaré Batista falou que nunca entendeu direito a história da chegada de médicos estrangeiros para o interior do Brasil, mas quer atendimento médico perto de casa.

“Pode vir de qualquer lugar, pode vir de Cuba, o importante que se tenha médico e não é preciso ir para Teresina no carro da Prefeitura. É muito bom vir médico de Cuba para tratar da gente. A gente gosta de médico que cuida da gente. O médico que vai para o posto de saúde demora muito”, afirmou Maria do Nazaré Batista.

Lucas da Silva Oliveira, de 24 anos, residente na zona rural de São Pedro do Piauí, diz que já sabe qual é a sua doença, neurocisticercose, conhecida como a doença da verme do porco, por isso não consegue estudar e trabalhar por causa das fortes dores de cabeça e forte vontade de dormir por causa do uso dos medicamentos.

Ele diz que para o médico receitar os medicamentos para a convivência com a a doença – gardenal e tegretol – tem que viajar para Teresina, pagar consulta de R$ 300,00; e gastar R$ 700,00 com ressonância magnética e R$ 300,00 com tomografia, duas vezes a cada ano, podendo ser mais vezes se aparece uma crise da neurocisticercose.

“Quem aparecer com a mesma doença não tem médico em minha cidade para diagnosticar se estar com neurocisticercose ou não. Meu pai é um lavrador que precisa ficar juntando o dinheiro o ano todo para bancar minha ida ao médico, muitas vezes é apenas para alterar o número de vezes que devo tomar o remédio”, declarou Lucas da Silva,

“Os médicos daqui são fracos, eu tenho certeza que os médicos de Cuba são melhores, são famosos em todo mundo e se virão trabalhar no interior e para cuidar da gente serão recebidos com os braços abertos”, declarou Lucas da Silva Oliveira.

O coordenador de Atenção Básica da Prefeitura de São Pedro do Piauí, David Williames, afirmou que a Prefeitura Municipal chegou a fechar seis equipes completas do Programa Saúde da Família (PSF) e se cadastrou no Programa Mais Médicos do Ministério da Saúde solicitando três médicos, mas nenhum médico que se inscreveu escolheu a cidade.

Ele declarou formar equipes do PSF é menos difícil do que mantê-las porque depois de um mês ou dois meses de trabalho, os pedem demissão porque a Prefeitura de São Pedro do Piauí paga ao médico R$ 8 mil por mês, mas as Prefeituras do Maranhão pagar R$ 15 mil por mês para um médico por duas horas de trabalho ou R$ 20 mil para duas horas e meia de trabalho.

“Os contratos com os médicos não são seguros, eles podem romper. Por isso, nós somos a favor da contratação de médicos cubanos. Somos a favor que venham médicos cubanos porque Cuba é, mesmo criticada, é uma referência em saúde pública, principalmente na atenção básica. Eles trazem experiência de trabalhar nas comunidades”, disse David Williames.

São Pedro do Piauí tem uma população de 3.200 habitantes e uma mortalidade infantil de 36,36 para cada mil crianças nascidas vivas, segundo a Fundação Centro de Pesquisas Econômicas do Piauí (Cepro).