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Time de anões se apresenta hoje em oeiras
Por: em 22/05/2009 - 01:08
A partida preliminar do jogo entre o time de másteres do Flamengo e uma seleção de Oeiras, promete arrancar muitos aplausos dos torcedores oeirenses que forem ao estádio Gérson Campos na noite de hoje.
O time Gigantes do Norte, composto só por anões fará a partida inicial desta noite. Este time, bastante conhecido na Região Norte do Brasil, é um exemplo de superação.
A história desses jogadores já seria de superação se enfrentasse apenas os escassos incentivos para o esporte amador, ainda mais na Amazônia, onde não existem os times reconhecidos como “elite do futebol brasileiro”. Mas os Gigantes do Norte tem uma história bem peculiar: o time é formado por anões que, com muito treino e jogos disputados em diversos municípios do Pará, mostram a habilidade com a bola e fazem a sua parte para reduzir o preconceito em relação ao nanismo.
A idéia surgiu em 2007, durante uma conversa entre o técnico de futebol Carlos Lucena - na época treinador do time paraense Tuna Luso - e do amigo Alberto Jorge Costa, anão, hoje com 34 anos. Alberto, conhecido como “Capacidade”, sempre acompanhou Lucena nos treinos do Tuna Luso e se considera também um amante do futebol. “Na conversa nós decidimos montar um time de jogadores anões. Começamos a divulgar e foram aparecendo alguns para compor o time”, lembra Lucena, que por dois anos e meio comandou o Tuna Luso e participou de competições como a Copa do Brasil no comando da equipe.
A idéia, que parecia ter como objetivo apenas mostrar a determinação de pessoas portadoras de necessidades especiais e que apostam na inclusão, ganhou força. Hoje, 22 anões compõem a equipe dos Gigantes do Norte.
O time já realizou mais de 50 partidas em quase todos os municípios do Pará, e acumula apenas três derrotas. Apesar de jogarem juntos há um ano, o time ainda está em busca de um grande patrocinador. Jogar tornou-se, para alguns, a profissão diante de um mercado de trabalho que discrimina facilmente os anões. Capacidade é um dos poucos que tem outra ocupação. Ele trabalha em um canal de televisão em Belém. Os outros integrantes do Gigantes estão quase todos desempregados e buscam o futebol como oportunidade de profissionalização. Seis deles vivem em um apartamento alugado pelo time em Belém. É a forma que eles encontraram de prestar auxílio aos jogadores que moram longe da capital, e por isso teriam dificuldades de transporte para chegar aos treinos.
Os Gigantes são do Pará e de outros estados como Piauí e Maranhão. Semelhanças com a aparência ou com o estilo de jogo rendem a eles apelidos de jogadores da elite do futebol brasileiro, como Vagner Love que tem 21 anos e 1,21 cm: o penteado e os dribles durante as partidas lhe renderam o apelido. Assim como Vagner Love, Paulo Nunes e Mineiro também são outros apelidos dados a integrantes do Gigantes do Norte.
A única exceção do time é o goleiro. Aos 17 anos, Telmo Ferreira não é anão. Segundo Lucena, seria a única posição em que os outros times poderiam tirar vantagem pelo fato da estatura.
Reconhecimento
Alberto Costa, amigo de Lucena que também idealizou o time, joga como zagueiro no Gigantes. Ele conta que sempre foi fã do futebol e não hesitou em levar adiante a idéia do primeiro time de anões do Brasil. Após um ano de treinos e competições, ele diz que sua maior realização foi ver a evolução do time que hoje deixou de ser tratado como deboche no estado e tem o reconhecimento da sociedade.
Sua expectativa é a de que um dia todos os outros companheiros de equipe consigam um lugar no mercado de trabalho ou a profissionalização no futebol. Mas o projeto que trouxe expectativas a anões ainda luta contra a falta de recursos. “Em um ano o mais importante é ter tido o reconhecimento pelo futebol; é gratificante saber que nós podemos jogar como qualquer outro jogador e ter esse respeito da sociedade. Eu gostaria que em 2009 que as autoridades olhem mais pra gente. Nós éramos umas pessoas que ninguém dava valor, e hoje somos mais conhecidos. Eu tenho meu serviço, um salário, mas os outros não têm. Então nós queríamos um chance para a equipe, um patrocínio que a gente possa garantir salário para os jogadores”, conta Capacidade.
“Nos treinos aplicamos tudo o que é aplicado para times profissionais. São pessoas inteligentes e têm todas as condições de render como profissionais”, afirma Lucena. Os treinos do Gigante do Norte são realizados três vezes por semana, no campo de um clube em Belém cedido ao time. Segundo Lucena, até mesmo os treinos recebem um grande público para conferir a habilidade da equipe nos gramados.
Recursos
Atualmente, os Gigantes do Norte cobram R$ 5 mil reais por cada partida que fazem. Desse recurso é que sai o pagamento do apartamento alugado em Belém, uma quantia que é dividida entre os jogadores, e outra parte serve para custear outras despesas da equipe. Segundo Lucena o recurso é pouco, mas por enquanto é o disponível para a compra de chuteiras e outros materiais esportivos utilizados por eles.
A equipe ainda busca recursos para retirada do CNPJ, que possibilitaria também o registro como profissional. Um problema é a idade dos jogadores, que varia de 17 a 35 anos. Isso também dificulta a inserção do time em uma categoria específica.
Os jogos são com escolinhas infantis e outras equipes também de portadores de necessidades especiais. A equipe sonha também que outros times sejam criados em outros estados possibilitando uma competição entre eles, no estilo de um campeonato brasileiro. “Nossa intenção é essa. Se existe uma olimpíada para quem joga basquete em cadeira de rodas, por que os anões também não podem jogar futebol?”, lembra Lucena referindo-se às Paraolimpíadas.
A falta de recursos também dificulta a ampliação do time. A equipe tem recebido diversas solicitações de anões que querem integrar o Gigantes do Norte, mas, com a falta de um patrocinador, é difícil assumir as despesas de novos integrantes.
Preconceito
O zagueiro Capacidade diz já saber lidar com o preconceito, mas acredita que fora dos gramados ele ainda é bem maior. “O preconceito existe e ele se mostra das piores maneiras. Nós vamos a um banco tirar dinheiro, não existe um caixa adaptado para nós, nos banheiros é a mesma coisa. Se vamos a um show, não tem como ficarmos a vontade, a gente corre o risco de ser até pisoteado. Então isso tem que mudar”.
Lucena ressalta que o fato deles já saberem lidar com o preconceito e o entendimento que eles têm de que possuem as mesmas potencialidades do que pessoas que não sofrem de nanismo, fez a sociedade mudar a visão sobre eles. “Hoje, por vestir a camisa do Gigantes, eles estão felizes. Eles nunca tiveram outra chance senão ser palhaço de circo ou animador de festa infantil. Agora podem sonhar. Estão felizes e se sentem mais valorizados”, avalia.
Com informações do Notícias da Amazônia