
Topônimos e um belo soneto

*Por Ferrer Freitas
Já abordei em crônica o período do Estado Novo em Oeiras, ou seja, os oito anos da ditadura getulina, como gostava de se referir ao regime o escritor Expedito Rêgo, quando a cidade foi administrada pelo coronel Orlando Barbosa de Carvalho. Está no livrinho SOLO DISTANTE , em que ressalto a operosa gestão de 3.12.37 a 22.11.45, primeira metade o século XX, quando, entre outras coisas, mudou-se a face meio sombria do centro histórico, especialmente no espaço integrado pela Praça das Vitórias, Igreja-Matriz e a Casa de Câmara e Cadeia, mais conhecida por “cadeia velha”, obra do Visconde da Parnaíba, já em total estado de ruínas, como pode ser constatado por foto tirada em 7 de setembro de 1937 na solenidade de inauguração da luz elétrica.
Volto ao assunto para fazer justiça a alguém que colaborou de perto com aquela administração, de quem ouvi, certa vez, referências elogiosas de parte do mestre Possidônio, o amarantino João Benedito Ribeiro Gonçalves, primo e cunhado do prefeito, amplamente conhecido por Joca Ribeiro, intelectual e jornalista. Citei-o recentemente em crônica de homenagem aos cinco anos do Portal do Sertão, justo por ter exercido a editoria do jornalzinho FANAL, órgão noticioso das ações do gestor, bem assim do andamento de obras e serviços. Publicava ainda dissertações dos alunos dos Grupos Escolares “Armando Burlamaqui” e “Costa Alvarenga”, com temas versando sobre a cidade. Uma de O. G. Rêgo sobre a feira dos sábados dava sinais de que o autor, à época com oito anos, seria, inelutavelmente, escritor. Já o número 23, datado de 30 de setembro de 1941, traz na coluna FANAL SOCIAL a seguinte nota: “Ao jovem Miguel Reis, um dos moços mais representativos da nossa melhor sociedade, enviamos cordiais felicitações pela passagem de seu aniversário natalício a 29 do mês que se finda hoje.” Em setembro próximo o jovem Miguel da nota estará completando 90 anos, mas ainda espicha o olho para admirar um belo par de pernas.
Aí, sem que ninguém esperasse, é baixado decreto-lei acabando com a duplicidade de topônimos no país. Como existia outra Oeiras no Pará, uma das duas teria que mudar de nome. Foi um alvoroço na cidade, com intelectuais, rotarianos e, porque não dizer, os oeirenses, se insurgindo com a infausta possibilidade. Felizmente a coisa não vingou, passando a do outro estado a ser, oficialmente, Oeiras do Pará, até pela emancipação política posterior. Daí a qualificação de “Invicta” para a velha terra, incluída no hino pelo autor da letra, o saudoso Expedito, mais uma vez citado.
Do imbróglio ficou algo de bom, um soneto belíssimo escrito em novembro de 1943 por Joca Ribeiro, de título SÚPLICA, que transcrevo encerrando a crônica, lamentando só não saber a quem era dirigido: “Poeta! venho pedir-lhe, interessado,/sua grande e valiosa intervenção,/para que Oeiras, berço sublimado/da nossa augusta civilização,/veja, enfim,/para sempre conservado/o nome que nos fala ao coração,/vetusto nome já glorificado,/a grandeza maior deste rincão!/Não é política, não! Nem vaidade!/Peço-lhe, apenas, com sinceridade,/que estude o caso, que medite e pense.../Para iludir o paquiderme Povo/sendo preciso dar-lhe um nome novo,/escolha o de Alvarenga ou de Mafrense!...” A propósito, outro poeta, o maranhense Raimundo Correia, assim se expressou certa feita: “Basta à minha pupila/o fanal dessas almas luminosas.”
* Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras.